Estresse, ansiedade e depressão têm influência na saúde cardíaca

Com o ritmo de vida moderno não é difícil nos sentirmos um pouco nervosos, ansiosos ou até mesmo desmotivados em alguns momentos. O problema é quando esses sentimentos se tornam uma presença constante. O Brasil foi considerado o país mais ansioso do mundo pela OMS nos últimos anos, além de figurar no ranking entre os mais deprimidos da América Latina.

E por que informações sobre saúde mental estão num artigo de cardiologia? A resposta é simples: estudos comprovam uma conexão direta entre a redução dos níveis de estresse, ansiedade e depressão com uma menor ocorrência de eventos cardiovasculares.

Neste artigo, vamos desvendar algumas conexões entre mente e coração para depois explorar algumas maneiras de driblar esses inimigos silenciosos. Vamos começar?

FATORES DE RISCO

Ao enfrentar um quadro de depressão, ansiedade ou estresse crônico, nem sempre temos consciência da seriedade da condição, o que muitas vezes nos faz adiar ou negligenciar ajuda, potencializando consequências negativas. Com a ausência de um tratamento adequado, comportamentos podem surgir ou se agravar, tais como o sedentarismo, os transtornos alimentares e os distúrbios do sono, favorecendo quadros de obesidade, diabetes e hipertensão, além do uso excessivo de bebidas alcoólicas, cigarro e outras drogas, trazendo impactos negativos para a saúde cardiovascular.

HORMÔNIOS

Em momentos de estresse, o corpo entra em estado de alerta e se prepara para reagir ao perigo, com aumento da frequência cardíaca e pressão sanguínea. Nesse momento entram em cena as catecolaminas, também chamadas de “hormônios do estresse”. Em concentrações normais estes hormônios são totalmente benéficos para o funcionamento do corpo, pois estão envolvidos inclusive no estímulo de contração e relaxamento do músculo cardíaco. Ou seja, um pouco de estresse pode ser benéfico para nos deixar alertas, ativos e produtivos.

Mas imagine uma descarga de adrenalina acontecendo frequentemente, durante semanas ou meses? Quando há uma exposição prolongada a situações de grande estresse, o organismo entra em exaustão, nos tornando mais susceptíveis a problemas imunológicos e cardíacos. Com o tempo, essa exposição também gera alterações nos receptores hormonais, com danos significativos nas respostas do coração a tais estímulos.

RESPIRAÇÃO

O sistema respiratório é amplamente conectado ao cardiovascular. E o menor descompasso nessa equação pode trazer grandes consequências, já que o oxigênio é o maior combustível das células do corpo.

Quando passamos por situações estressoras, no entanto, é comum observarmos a mudança no ritmo da respiração. Ao deixar de respirar corretamente, alteramos a oxigenação do sangue e comprometemos o abastecimento celular. Para compensar, o coração responde realizando maior esforço para bombear mais sangue e entregar quantidades suficientes de oxigênio para as células. O resultado é o aumento momentâneo da pressão arterial que, ao ocorrer de forma crônica, trará todos os prejuízos da hipertensão para o organismo.

COMO COMBATER?

É preciso ter em mente que vivenciar situações difíceis é algo muito comum na sociedade contemporânea e pouco podemos fazer para mudar as situações externas. Mas é possível trabalhar aspectos internos em busca de equilíbrio e tolerância frente aos imprevistos cotidianos.

Nesse contexto, a ajuda especializada é uma ferramenta de grande importância, assim como uma alimentação saudável e a associação de práticas comprovadamente benéficas, como relaxamento, meditação e a respiração profunda, que alivia a sobrecarga do coração, relaxa os músculos e reduz a pressão arterial.

Outra atividade que combate o estresse, a depressão e a ansiedade e pode ser considerada como um verdadeiro remédio para o coração é o exercício físico. Esse tema merece um destaque especial e será abordado no artigo da próxima semana.

Ricardo José Tofano (CRM/SP 86.888) é graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Marília (1996). Atualmente é contratado do corpo docente da Universidade de Marília como médico especialista e médico clínico e intervencionista da Associação Beneficente Hospital Universitário, atuando principalmente na área de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Coordenador da residência médica de Cardiologia da ABHU.

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A saúde mental pode impactar o coração?