A reportagem da Revista D Marília I News entrevistou a Dra. Vera Moron Rodrigues, médica do sono, otorrinolaringologista e uma das mais respeitadas profissionais da área no Estado de São Paulo. Ela tira várias dúvidas entre sintomas de outras doenças das vias aéreas superiores e a Covid-19.

Revista D: Qual a semelhança e diferenças para distinguirmos quadros de covi-19 de enfermidades como gripe, amigdalite, garganta inflamada e outros problemas das vias aéreas superiores?
Dra. Vera Moron: Na otorrinolaringologia tratamos de garganta, nariz e ouvidos. Então o início das doenças, como uma rinite alérgica, por exemplo, os sintomas são nariz entupido, coriza, irritação na garganta e as crises de espirros. Esses são principalmente os sintomas de uma rinite alérgica. Quando você tem uma gripe, existem esses sintomas também mas cursam com uma febre. E, além disso, podem dar sintomas como dor no corpo, mal estar geral, ânsia de vômito, alterações no trato gastrointestinal. São as viroses que nos acometem, mas diferentes da rinite. Na especialidade, já sabemos o que é uma rinite e o que é uma gripe. E dentro da gripe é bom destacarmos que existem várias cepas de vírus. A H1N1, por exemplo, já temos um grande conhecimento e existe até vacinação anual sendo que todos devemos nos vacinar. Mas agora surgiu a Covid. Ele é altamente mutante, o que dificulta no desenvolvimento de vacinas.

Revista D: E como diferencias esses sintomas, geralmente parecidos?
Dra. Vera Moron: O sintomas são semelhantes. Coriza, quadro obstrutivo nasal, tosse, e nas primeiras cepas ocorreu a perda do olfato e do paladar, muito prevalente. Então, todos que chegavam ao consultório com esses novos sintomas, já sabíamos que deveria ser Covid. E também apresenta a dor e irritação na garganta. Mas no exame da garganta observamos que se existem placas de pus, podemos descartar a Covid, dentro do quadro geral do paciente. Na Covid o que acontece é uma irritação, uma vermelhidão na garganta, sem placas de pus. Aí vamos pesquisar se o paciente teve contato com alguém infectado, se foi a alguma festa, viajou, se foi para a praia, se está usando a máscara e tomando devidos cuidados.

Revista D: Daí a importância da experiência clínica e histórico recente do paciente?
Dra. Vera Moron: Sim. Com base nesse histórico e pela experiência que temos tido, já podemos suspeitar e distinguir os casos, apesar de serem parecidos. Como nós estamos em uma pandemia, sempre temos que colocar em primeiro lugar a Covid. Além disso, com essas novas variantes, não estamos verificando como primeiros sintomas a perda do olfato e paladar, como acontecia na primeira cepa. Temos visto essa ausência muito comumente. Aí também investigamos a doença pelo histórico do paciente. E eu também sou adepta ao tratamento precoce, na dosagem correta. Quanto antes você começar a tratar, melhor. Não devemos esperar complicar para que a situação do paciente não fique bem. Esperamos os quatro dias até saírem os exames e em caso positivo iniciou o tratamento. Aí você medica com sintomáticos, antitérmicos, um xarope para a tosse e, em alguns casos, com alguém na família infectado, aí já podemos até iniciar com antibióticos, corticoides. Até porque estamos com UTIs lotadas na cidade.

Revista D: Sem leitos e vagas em UTIs, qual o procedimento padrão que adota?
Dra. Vera Moron: Geralmente encaminho aos pronto atendimentos especializados em Covid, pois estão bem organizados e é muito melhor para o paciente procurar o atendimento especializado do que os consultórios particulares, onde temos dificuldades de até autorizarmos os exames. Mas não deixamos de dar esse primeiro atendimento, é claro, quando somos procurados. Isso porque a minha especialidade, que trata das vias aéreas superiores, é a porta de entrada do vírus. E os infectados dos primeiros casos, muitos continuaram com a perda do olfato mesmo após a cura da doença. E nós efetuamos esse tratamento, até medicando, para a recuperação do mesmo. Já estávamos acostumados com isso, mesmo porque várias outras doenças provocam a perda do olfato e pela nossa experiência aplicamos o tratamento medicamentoso para resolver esse problema.

Revista D: Estamos para entrar no período do inverno. A incidência de doenças respiratórias tende a aumentar. Aí é necessário um cuidado redobrado nessa distinção entre doenças?
Dra. Vera Moron: Realmente, os sintomas são parecidos e as pessoas devem procurar o médico o quanto antes para tirar a dúvida se está ou não com a Covid, especialmente porque o período do inverno é propício para gripes, resfriados, rinites e outras doenças ligadas à especialidade da otorrinolaringologia, mas que podem ser confundidas com a Covid e vice-versa. Mas não precisam se aterrorizar. Todos devem manter a calma e sempre procurar ajuda médica aparecendo os sintomas. Até mesmo uma gripe e amidalite mal cuidada podem ter graves consequências. Daí a importância de ir ao especialista e se vacinarem inclusive para a H1N1.

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Dra. Vera Moron tira dúvidas sobre doenças semelhantes