Novo estudo do Instituto Pólis sobre a evolução da pandemia de Covid-19 na cidade de São Paulo mostra aumento de 638% nos óbitos no mês de janeiro de 2022 na comparação com o mês anterior. Foram registradas 864 mortes em decorrência da doença no primeiro mês do ano, contra 117 em dezembro de 2021. Para o levantamento foram utilizados dados da Secretaria Municipal de Saúde e da plataforma DataSUS/Tabnet.
O estudo também consolida um balanço entre março de 2020 e janeiro de 2022 – além de reafirmar uma nova onda da doença na cidade, causada majoritariamente pela variante Ômicron, os dados do período evidenciam que a população negra foi mais impactada pela mortalidade de Covid-19. O documento completo pode ser consultado aqui.
Os dados de janeiro deste ano confirmam o potencial de disseminação da nova variante, apontada mundialmente como muito infecciosa e capaz de sobrecarregar o sistema de saúde elevando o número de casos graves. “O que isso tudo nos mostra é a negligência do Estado e que medidas urgentes de prevenção e combate ao coronavírus devem ser retomadas por parte do poder público”, afirma Danielle Klintowitz, coordenadora geral do Instituto Pólis.

Especialistas pedem revisão de medidas
O Brasil voltou a registrar, no início de fevereiro, a marca de mil mortes por dia decorrentes da pandemia de Covid-19, patamar que não era atingido desde agosto de 2021. No último domingo (06/02), 1.308 pessoas morreram da doença no país. Na capital paulista, até 31 de janeiro, o cômputo foi de pelo menos 864 mortes. Vale ressaltar que os dados de janeiro de 2022 estão sujeitos a atualizações retroativas que, provavelmente, irão consolidar números maiores do que aqueles até aqui registrados. Por isso, além do esforço em ampliar a cobertura vacinal, o Instituto Pólis entende que algumas medidas devem ser revistas.
“Apesar do avanço da vacinação na cidade, só essa medida não é suficiente para determinar o fim da pandemia. A retomada de atividades presenciais precisa ser revista, especialmente daquelas não essenciais e que geram aglomerações”, afirma Jorge Kayano, médico sanitarista e pesquisador do Instituto Pólis. “As medidas de controle devem ser adequadas a protocolos de segurança sanitária mais compatíveis com o grau de risco apresentado por essa nova cepa do coronavírus”, completa ele. “Não é como na primeira onda, quando não conhecíamos o comportamento do vírus. Estamos um passo à frente dessa vez, sabemos como controlar”, acrescenta Danielle. Entre as recomendações de estratégias de combate à pandemia dos especialistas responsáveis pelo estudo, estão:

● Testagem em massa com genotipagem do vírus e de fácil acesso à população;

● Rastreamento de contato, para monitoramento e contenção de infecções;

● Mobilização dos agentes comunitários de saúde para auxílio no acesso à informação adequada e na ampliação do alcance da vacinação;

● Busca ativa de pessoas que não estão com o esquema vacinal completo (segunda dose ou dose única) ou que já estejam aptas à dose de reforço;

● Adoção contínua de medidas não farmacológicas, como uso de máscaras, higienização constante das mãos, esterilização de ambientes e superfícies compartilhadas;

● Incentivos ao isolamento social – se necessário, com auxílio financeiro – como método de proteção dos grupos mais vulneráveis;

● Adoção de protocolos mais rígidos acerca do exercício de atividades presenciais e da aglomerações em espaços (públicos e privados), diante do crescimento dos níveis de contágio.

Homens negros morreram 60% a mais do que média em SP
A análise da expansão da Covid-19 mostra como a doença foi mais mortal entre a população negra e de baixa renda da cidade. Entre março de 2020 e janeiro de 2022, a taxa de mortalidade por Covid-19 entre homens negros (599 mortes/100 mil hab) foi 60% maior do que a média da capital paulista (375 mortes/100mil hab). Na comparação entre homens brancos (459 mortes/100 mil hab.), negros morreram 30% a mais. No mesmo período, mulheres negras (349 mortes/100 mil hab.) foram 40% mais afetadas pela doença do que as brancas (251 mortes/100 mil hab.).
“O SARS-CoV-2 não faz distinção biológica dos organismos que infecta, quanto à raça ou cor da pele”, afirma Jorge Kayano. “Os indicadores apontam desigualdades sociais sobre como cada grupo analisado (brancos e negros) consegue responder à epidemia, o que envolve fatores como acesso à saúde, possibilidade de isolamento e outras variáveis que indicam maior ou menor vulnerabilidade socioeconômica”, analisa o médico sanitarista e pesquisador do Instituto Pólis.

Mortes por ocupação
O balanço também traz informações sobre a ocupação das vítimas. Na relação dos grupos mais afetados, em primeiro e segundo lugares, estão aposentados/pensionistas e donas de casa, respectivamente. Nas duas situações, 90% das vítimas eram pessoas idosas – grupo de risco, mais suscetível a quadros sintomáticos graves e à morte por Covid-19.
Trabalhadores do setor de transporte e tráfego (incluindo táxi, aplicativo, ônibus, metrô e trem), construção civil (pedreiros, engenheiros, etc..) e trabalhadoras domésticas também foram altamente impactados pela Covid-19. São grupos com maior exposição ao vírus e que dependem do exercício presencial de suas atividades, o que incorre em maior contágio e maior mortalidade.

Sobre o Instituto Pólis |
Organização da sociedade civil (OSC) de atuação nacional, constituída como associação civil sem fins lucrativos, apartidária e pluralista. Desde sua fundação, em 1987, o Pólis tem a cidade como lócus de sua atuação. A defesa do Direito à Cidade está presente em suas pesquisas, trabalhos de assessoria ou de avaliação de políticas públicas, sempre atuando junto à sociedade civil visando o desenvolvimento local na construção de cidades mais justas, sustentáveis e democráticas. São mais de 30 anos de atuação com equipes multidisciplinares de pesquisadores que também participam ativamente do debate público em torno de questões sociais urbanas. Aproxime-se https://polis.org.br/

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Mortes por Covid-19 crescem 638% em São Paulo e alertam para nova onda na cidade, mostra estudo do Pólis
Levantamento do Instituto Pólis aponta nova onda da doença e indica necessidade da retomada de medidas de controle e prevenção por parte do poder público;