Reprodução Sociedade Militar

O Exército Brasileiro vive um fenômeno que vem chamando atenção de especialistas e preocupando a alta cúpula das Forças Armadas: o abandono da carreira por parte de centenas de oficiais e praças altamente qualificados.

De acordo com dados do Exército Brasileiro, desde janeiro de 2020 mais de 750 militares concursados e estáveis apresentaram seus pedidos de desligamento, em um movimento que revela falhas estruturais, problemas salariais e uma crescente desmotivação dentro da instituição.

Uma debandada que não para de crescer

Dados oficiais levantados pelo próprio Exército indicam que 414 oficiais e 349 subtenentes e sargentos solicitaram baixa nos últimos cinco anos. Só no período entre junho e julho de 2025, ao menos 12 oficiais abandonaram a carreira, incluindo um major, três capitães e oito primeiros-tenentes, o que significa praticamente um desligamento a cada dois dias.

Esse número não inclui os militares temporários — que permanecem até oito anos em serviço —, mas sim os de carreira, formados em academias militares, concursados e com direito à estabilidade. Ou seja, quadros considerados estratégicos para a manutenção da força terrestre brasileira.

Por que tantos militares estão deixando a farda?

Apesar de o Exército não divulgar relatórios oficiais sobre os motivos, relatos de ex-militares e discussões em fóruns especializados ajudam a montar o quadro de insatisfação. Entre os principais fatores apontados estão:

  • Baixos salários e progressão lenta: enquanto na Polícia Federal o servidor pode atingir o teto em cerca de 15 anos, nas Forças Armadas esse processo pode levar de 17 a 25 anos. Além disso, os reajustes salariais costumam vir parcelados e abaixo da inflação, corroendo o poder de compra dos militares.
  • Carga de trabalho desgastante: jornadas extensas, plantões em finais de semana e feriados, férias muitas vezes reduzidas e deslocamentos obrigatórios a cada dois ou três anos pesam sobre a vida pessoal e familiar.
  • Sistema de saúde fragilizado: hospitais militares convivem com falta de médicos, equipamentos sucateados e longas filas de espera, enquanto a percepção de privilégios na cúpula alimenta a frustração na base.
  • Incertezas jurídicas e previdenciárias: alterações recentes nas regras de aposentadoria e propostas de novos projetos de lei que mexem com o tempo de serviço ativo criam insegurança sobre o futuro da carreira.
  • Comparação com a vida civil: engenheiros, médicos e profissionais especializados formados pelo Exército percebem que podem ganhar mais e ter melhor qualidade de vida fora das Forças Armadas.

Impactos para a defesa nacional

A saída de tantos militares de carreira representa uma perda significativa de capital humano qualificado, especialmente em áreas técnicas estratégicas como engenharia, logística, aviação e medicina militar.
Esses profissionais, uma vez formados dentro da estrutura das Forças Armadas, carregam consigo não apenas conhecimento técnico, mas também anos de treinamento operacional.

Quando deixam a farda, muitos são rapidamente absorvidos por empresas privadas, pelo setor público civil ou até mesmo por organizações internacionais, levando consigo uma experiência que dificilmente é reposta no curto prazo.

Analistas avaliam que, se a tendência continuar, o Exército pode enfrentar déficit de quadros especializados em operações críticas, o que afeta a eficiência e até a capacidade de resposta em situações de crise.

Um desafio que exige soluções

A pressão interna por mudanças já é perceptível. Entre as medidas discutidas estão: planos de carreira mais rápidos, maior valorização salarial, reestruturação do sistema de saúde militar e flexibilização das regras de deslocamento. Entretanto, até o momento não há um consenso político sobre como financiar tais mudanças.

O risco, segundo especialistas, é que o fenômeno da debandada se torne um problema estrutural, comprometendo a força e a modernização do Exército em médio prazo.

Fonte: Sociedade Militar

Fonte: Diário Do Brasil

Compartilhar matéria no
Exército vive uma debandada histórica, com mais de 750 oficiais e sargentos deixando a farda em massa desde 2020