O endividamento das famílias brasileiras atingiu níveis alarmantes e já compromete mais de 70% da renda mensal dos lares, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Em julho de 2025, 78,5% das famílias estavam endividadas e quase 39% tinham contas em atraso. Para a professora de Economia da EAD UniCesumar, Lais Requena, esse cenário pressiona diretamente o consumo básico e aumenta a vulnerabilidade financeira. “Ao comprometer mais de 70% do orçamento com dívidas, as famílias ficam expostas a qualquer imprevisto, como uma despesa médica ou até mesmo a alta no preço dos alimentos”, afirma. 

Após o pagamento de compromissos financeiros, sobra em média apenas R$ 968 por mês para custear alimentação, transporte, saúde e educação. O valor, considerado insuficiente diante da inflação persistente, tem levado muitos brasileiros a recorrer ao crédito extra, como o uso do cartão ou empréstimos, o que alimenta um ciclo de endividamento. “Só a cesta básica já consome mais de 50% do salário-mínimo. Diante desse aperto, muitas famílias parcelam até compras essenciais, mas isso apenas prolonga o problema”, explica Requena. 

A situação é ainda mais grave entre quem recebe até um salário-mínimo. Nesse grupo, 90,1% da renda está comprometida com dívidas, restando quase nada para despesas básicas. “Essa faixa da população é a mais vulnerável. Qualquer aumento de preços desequilibra totalmente o orçamento, levando rapidamente ao atraso no pagamento e à inadimplência”, alerta a economista. 

Com a cesta básica acumulando alta de 14,22% em 2024, famílias de baixa renda têm adotado estratégias de sobrevivência, como substituição de alimentos, compras em atacado, maior dependência de feiras populares e programas sociais, além da renegociação de débitos em iniciativas como o Desenrola Brasil. Para Requena, essas soluções são paliativas: “O que vemos é uma troca de qualidade por preço. As famílias abrem mão de uma alimentação mais nutritiva e de condições mínimas de bem-estar”, destaca. 

Como a expectativa é que a inflação dos alimentos só recue a partir de 2026, a tendência é de manutenção ou até de crescimento da inadimplência pelos próximos anos. Hoje, 12,7% das famílias afirmam não ter condições de pagar suas dívidas. “No curto prazo, a inadimplência deve continuar elevada. O resultado é mais insegurança alimentar, maior uso de crédito informal e uma dependência crescente das políticas públicas de transferência de renda”, conclui Requena. 

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Desgoverno PT, esquerda e Lula : endividamento consome mais de 70% da renda das famílias e insegurança alimentar está entre as maiores preocupações