
Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo
O deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva (ex-MDB), conhecido como TH Jóias, foi preso na Operação Zargun, nesta quarta-feira, por suspeita de ligação com a facção criminosa Comando Vermelho (CV). Ele foi localizado num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Já foram presos também Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, apontado como traficante; Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, assessor de TH Jóias; o ex-secretário Alessandro Pitombeira Carracena; um delegado da Polícia Federal que estava de plantão no Aeroporto do Galeão; três policiais militares; e outras oito pessoas.
Além de TH Jóias, também são alvos da operação Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, Edgar Alves de Andrade, o Doca, e Manoel Cinquine Pereira, o Paulista. Agentes visam a cumprir, ao todo, 18 mandados de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão em endereços, além da Barra, na Freguesia, na Zona Oeste da capital, e em Copacabana, na Zona Sul. Foram feitas buscas na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Policiais federais e procuradores deixaram o local com um malote contendo apreensões.
Facção se infiltrou na política e na polícia
A investigação revelou que TH Jóias utilizava o mandato para favorecer o crime organizado, intermediando a compra e a venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones destinados ao Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Já Índio do Lixão Índio foi responsável por movimentar, de acordo com a PF, 120 milhões em cinco anos. Ele é apontado pelas autoridades de segurança como braço direito do Pezão e uma espécie de tesoureiro do CV. Além de atuar na venda e na compra de armas e drogas, ele também auxiliava na proteção de integrantes da quadrilha, pagando policiais para fazerem escolta do bando.
O ex-secretário Alessandro Pitombeira Carracena á suspeito de receber dinheiro da facção para vazar informações sigilosas e atender os interesses por meio de contatos que fez na vida pública, afirma a Polícia Federal. Ele fazia pedidos dissimulados para tentar atender os pedidos dos integrantes da facção. De acordo com o superintendente da PF no Rio, Fábio Galvão, ficou claro na investigação o envolvimento do subsecretário em auxiliar o Comando Vermelho:
— Tem uma passagem da investigação que mostra que foi colocada uma unidade do Batalhão de Choque na Gardênia (comunidade na Zona Oeste do Rio). Essa unidade estava atrapalhando o CV. O subsecretário recebe uma ligação do TH, depois de falar com o Índio, e faz uma ingerência para retirar o batalhão de lá. Eles conseguiram se infiltrar na polícia e na Assembleia Legislativa. Isso é muito perigoso.
Os agentes públicos, segundo as investigações, tinham papel de vazar informações para a facção e também fornecer segurança para transporte dos traficantes, de dinheiro e de armas.
Sequestro de bens
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região também determinou o sequestro de bens e valores dos investigados, totalizando R$ 40 milhões, além do afastamento de agentes públicos, suspensão de atividades de empresas utilizadas para lavagem de dinheiro e transferência emergencial de lideranças da facção para presídios federais de segurança máxima.
De acordo com a polícia, a apuração identificou movimentações financeiras suspeitas envolvendo empresas ligadas a TH Jóias, com alertas sucessivos emitidos por instituições financeiras, reforçando a prática de lavagem de dinheiro. O deputado teria ainda, de acordo com a investigação, indicado a esposa de Índio do Lixão para o cargo parlamentar onde ela é lotada.
A ação desta quarta é realizada por equipes da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco-RJ), composta pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Polícia Civil do Rio.
— Estamos diante de uma investigação que comprova a infiltração direta do crime organizado dentro do parlamento fluminense. O deputado eleito para representar a sociedade colocou seu mandato a serviço da maior facção criminosa do Rio de Janeiro. A Operação Bandeirante é mais uma demonstração de que não haverá blindagem política para criminosos: seja traficante armado na favela ou de terno na Assembleia, a resposta do estado será a mesma — afirmou o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi.
Ele frisou que a ação é um recado para as organizações criminosas:
— Temos que tirar essas pessoas de circulação porque elas são extremamente perigosas. Não pode ter esse tipo de alcance. Eles se utilizam do cargo, com tráfico de influência, para se fortalecer na facção criminosa.
O GLOBO entrou em contato com o deputado TH Jóias e não recebeu resposta. O jornal tenta contato também com a defesa dos demais alvos da operação. O espaço segue aberto para qualquer manifestação.
Depois da notícia pelas buscas de TH Jóias, o Diretório Regional do MDB, partido pelo qual ele disputou a eleição, informou que decidiu expulsar o parlamentar.
Ex-secretário preso
Citado na denúncia e preso, Alessandro Pitombeira Carracena já foi secretário municipal de Ordem Pública da capital, na gestão de Marcelo Crivella na Prefeitura do Rio, em 2020, e secretário estadual de Esporte e Lazer do Rio, na gestão do governador Cláudio Castro, em 2022. Atualmente, ele ocupa o cargo de subsecretário de defesa do Consumidor.
No entanto, sua experiência em gestão pública vai além. Ele também já ocupou os cargos de diretor de operações em autarquia municipal; de presidente do Fundo Especial de Ordem Pública da cidade do Rio; de presidente do Conselho Administrativo da Guarda Municipal da capital; e de integrante do Gabinete de Crise da cidade durante o período da pandemia
Fonte: O Globo
Fonte: Diário Do Brasil