
O papilomavírus humano (HPV) causa cerca de 70 por cento dos cânceres de cabeça e pescoço nos EUA – e, por consequência, em outros países como o Brasil – tornando-se o câncer mais comum causado pelo vírus. No entanto, ao contrário dos cânceres cervicais causados pelo HPV, não há teste de triagem para cânceres de cabeça e pescoço associados ao HPV.
Em um novo estudo financiado pelo governo federal, pesquisadores do Mass General Brigham, afiliados a Harvard, mostram que uma nova ferramenta de biópsia líquida que eles desenvolveram, chamada HPV-DeepSeek, pode identificar o câncer de cabeça e pescoço associado ao HPV até 10 anos antes que os sintomas apareçam.
Ao pegar cânceres mais cedo com este novo teste, os pacientes podem experimentar maior sucesso no tratamento e exigir um regime menos intenso, de acordo com os autores.
Os resultados do estudo foram publicados no Journal of the National Cancer Institute.

Daniel Faden em seu laboratório em Mass Eye and Ear
“Nosso estudo mostra pela primeira vez que podemos detectar com precisão cânceres associados ao HPV em indivíduos assintomáticos muitos anos antes de serem diagnosticados com câncer”, disse o principal autor do estudo, Daniel L. Faden, investigador principal do Mike Toth Head and Neck Cancer Research Center no Mass Eye and Ear e professor assistente de cirurgia de otorrinolaringologia-cabeça e pescoço na Harvard Medical School.
“No momento em que os pacientes entram em nossas clínicas com sintomas do câncer, eles exigem tratamentos que causam efeitos colaterais significativos ao longo da vida. Esperamos que ferramentas como o HPV-DeepSeek nos permitam pegar esses cânceres em seus estágios iniciais, o que pode melhorar os resultados dos pacientes e a qualidade de vida.”
O HPV-DeepSeek usa sequenciamento de genoma inteiro para detectar fragmentos microscópicos de DNA do HPV que se separaram de um tumor e entraram na corrente sanguínea. Pesquisas anteriores desta equipe mostraram que o teste poderia atingir 99 por cento de especificidade e 99 por cento de sensibilidade para o diagnóstico de câncer na primeira vez de apresentação a uma clínica, superando os métodos atuais de teste.
Para determinar se o HPV-DeepSeek poderia detectar câncer de cabeça e pescoço associado ao HPV muito antes do diagnóstico, os pesquisadores testaram 56 amostras do Mass General Brigham Biobank: 28 de indivíduos que desenvolveram câncer de cabeça e pescoço associado ao HPV anos depois e 28 de controles saudáveis.
O HPV-DeepSeek detectou o DNA do tumor do HPV em 22 das 28 amostras de sangue de pacientes que mais tarde desenvolveram o câncer, enquanto todas as 28 amostras de controle testaram negativo, indicando que o teste é altamente específico. O teste foi mais capaz de detectar o DNA do HPV em amostras de sangue que foram coletadas mais perto do tempo do diagnóstico dos pacientes, e o resultado positivo mais precoce foi para uma amostra de sangue coletada 7,8 anos antes do diagnóstico.
Usando o aprendizado de máquina, os pesquisadores conseguiram melhorar o poder do teste para que ele identificasse com precisão 27 dos 28 casos de câncer, incluindo amostras coletadas até 10 anos antes do diagnóstico.
Os autores estão agora validando esses achados em um segundo estudo cego financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde usando centenas de amostras coletadas como parte do Prostate, Lung, Colorectal e Ovarian Cancer Screening Trial no Instituto Nacional do Câncer.
SUS
No Brasil, tanto na rede pública quanto na privada existe vacina contra o vírus HPV. A diferença entre ambas é o número de subtipos de HPV que cada vacina protege. A do SUS protege contra 4 subtipos e a da rede particular contra 9 subtipos.
O financiamento para este trabalho veio do Instituto Nacional de Pesquisa Odontológica e Craniofacial dos Institutos Nacionais de Saúde Americanos.
