Um implante de apenas 2,5 centímetros, colocado no pescoço para emitir impulsos elétricos diários de um minuto, foi aprovado recentemente pela Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos, para o tratamento da artrite reumatoide. Batizado de SetPoint System, o dispositivo atua junto ao nervo vago e tem o objetivo de “reeducar” o sistema imunológico, reduzindo a inflamação de forma diferente das terapias atuais. 

A artrite reumatoide é uma doença autoimune que atinge cerca de 1% da população mundial e, apesar dos avanços terapêuticos, ainda representa um grande desafio para médicos e pacientes. A condição, que afeta principalmente as articulações, provoca dor crônica, rigidez e inflamação persistente. 
Quando não tratada de forma adequada, pode levar a deformidades, perda da função articular e até comprometimento de órgãos como pulmões, coração e olhos. O impacto na qualidade de vida é grande, limitando atividades diárias e, em casos graves, a própria independência do paciente.

A doença atinge três vezes mais as mulheres do que os homens, e costuma surgir na faixa etária entre 30 e 50 anos. Dor, inchaço e rigidez articular prolongada, especialmente pela manhã e em repouso, são os principais sintomas. “Inicialmente, a doença costuma acometer pequenas articulações das mãos, dos punhos e dos pés de forma simétrica, porém pode acometer qualquer articulação. Fadiga e nódulos subcutâneos também podem estar presentes”, explica a reumatologista Anna Sylvia Gonçalves Reis, do Einstein Hospital Israelita em Goiânia.

Tradicionalmente, o arsenal terapêutico contra a artrite reumatoide inclui medicamentos modificadores da doença (os chamados DMARDs) ou medicamentos biológicos, desenvolvidos para bloquear moléculas específicas da inflamação. Embora sejam eficazes para a maioria dos casos, parte dos pacientes não alcança a remissão esperada, perde resposta ao longo do tempo ou não tolera os efeitos colaterais. É justamente para atender a esse grupo, conhecido como de “difícil controle”, que as pesquisas continuam.

Como funciona o implante

Em vez de suprimir o sistema imunológico, como fazem os medicamentos atuais, a nova tecnologia busca “reeducar” o corpo a controlar a inflamação. Em um ensaio clínico de fase 3, que envolveu 242 pessoas (60% delas consideradas do grupo de difícil controle), os resultados surpreenderam. 

Após 12 semanas, 35,2% dos indivíduos que receberam a estimulação ativa alcançaram a resposta clínica, contra 24,2% no grupo controle. Entre os pacientes que já haviam usado ao menos um medicamento biológico anteriormente, a diferença foi ainda mais marcante: 44,2% responderam ao implante, em comparação a apenas 19% dos controles.

Outro dado importante foi a melhora no escore de atividade da doença, indicador usado para avaliar inflamação. Mais pacientes no grupo de tratamento chegaram à remissão ou baixa atividade da doença em relação ao grupo placebo. Em um seguimento de um ano, observou-se ainda redução de 60% nos índices de dor e 63% no inchaço das articulações. A complicação grave mais comum foi a rouquidão associada à cirurgia de implante, que ocorreu em pouco menos de 2% dos participantes.

Para a médica do Einstein, a aprovação do dispositivo representa uma “nova fronteira” no manejo da artrite reumatoide. “Trata-se de uma estratégia promissora, diferente de tudo que temos hoje. Em vez de atuar diretamente na inflamação com drogas imunossupressoras, ela regula o sistema nervoso para equilibrar a resposta imune”, observa Anna Sylvia Reis, que atualmente é presidente da Sociedade Goiana de Reumatologia.

No entanto, ainda não é o momento de encarar a neuromodulação como substituta definitiva dos medicamentos usados atualmente. “Vejo, por enquanto, como uma opção complementar. A medicina caminha cada vez mais para tratamentos individualizados, e talvez, no futuro, alguns pacientes consigam se beneficiar apenas dessa tecnologia. Mas os tratamentos já estabelecidos continuam sendo fundamentais, com eficácia comprovada e ampla experiência de uso”, pondera a especialista.

Prevenção

Assim como a maioria das doenças, a prevenção da artrite reumatoide passa por escolhas de estilo de vida. O tabagismo é um dos principais fatores de risco já comprovados em estudos. Portanto, parar de fumar é uma medida essencial para minimizar o risco da doença. Além disso, manter um peso adequado, praticar atividade física regular e adotar uma alimentação equilibrada também são medidas que contribuem tanto para diminuir o risco quanto para controlar a inflamação em quem já convive com a condição.

No Brasil, ainda não há previsão de chegada do implante recém-aprovado nos EUA. O produto precisaria passar pela avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e por estudos de custo-efetividade antes de ser incorporado ao sistema de saúde. “O processo costuma levar alguns anos, mas acredito que, especialmente em centros de referência, essa possibilidade se torne real em futuro próximo”, avalia a médica do Einstein.

Fonte: Agência Einstein 

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Implante no pescoço promete mudar tratamento da artrite reumatoide. Dispositivo de neuromodulação estimula o nervo vago para modular a resposta imunológica e beneficiar milhões de pessoas