
Foto: Reprodução/X
Depois da retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, o Hamas intensificou sua repressão a grupos armados rivais, desencadeando uma onda de violência interna que alarmou a população local. O grupo assumiu o controle de áreas estratégicas e promoveu execuções públicas e confrontos armados, especialmente contra opositores e famílias influentes na região.
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— BrightMind (@Brightmind24_7) October 15, 2025
Hamas’s assaults on Gaza’s own civilians are still ongoing – with clashes reported in Al-Sabra and Tal al-Hawa in Gaza City.
Armed Hamas militias are now setting homes on fire, targeting families accused of opposing the group.
O cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos interrompeu os combates diretos entre Israel e Hamas, mas abriu espaço para disputas internas. A presença das forças do Hamas nas ruas foi reforçada com o objetivo de reafirmar a autoridade do grupo no enclave, enquanto tentavam consolidar o domínio diante do enfraquecimento provocado pelos meses de guerra.
Nas imediações de um hospital na cidade de Gaza, no domingo 12, violentos enfrentamentos entre o Hamas e a família Doghmosh deixaram dezenas de mortos. Vídeos divulgados mostram quando membros da família são levados a uma praça pública e executados diante de uma multidão, o que provocou temor de escalada nos conflitos internos.
Esses episódios evidenciam os desafios impostos ao processo de paz, já que a permanência do Hamas como força dominante contraria exigências do plano de desarmamento apoiado pelo governo de Donald Trump. Israel, que chegou a armar grupos rivais, como o Abu Shabab, acompanha de perto o desenrolar dessa disputa pelo controle em Gaza.
“Hamas será ainda mais agressivo”
“O Hamas está restabelecendo o controle”, afirmou ao The Wall Street Journal Hasan Abu Hanieh, analista especializado em movimentos islâmicos. Para ele, “o Hamas será ainda mais agressivo agora para provar ao mundo exterior que ninguém pode removê-lo, que nenhuma força pode desafiá-lo”, conforme publicado pelo jornal.
Donald Trump declarou, na segunda-feira 13, que o envio das forças do Hamas ocorreu com consentimento internacional. “Eles foram abertos sobre isso, e nós lhes demos aprovação por um período”, disse. No dia seguinte, reafirmou: “Eles vão se desarmar. E, se eles não se desarmarem, nós os desarmamos”.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas fez o pior ataque terrorista da história de Israel e matou 1,2 mil pessoas — a maioria civil, incluindo muitos idosos, crianças e bebês. Os terroristas sequestraram 251 pessoas. Todos os reféns vivos foram entregues, e Israel espera a devolução de 25 corpos.
Desde então, a pouca credibilidade do grupo — que controla politicamente Gaza — se deteriorou, e a população, cansada da guerra, passou a expressar mais abertamente sua insatisfação com a condução do conflito e com as dificuldades impostas ao cotidiano pelo conflito.
O bloqueio israelense da ajuda humanitária e a destruição de infraestrutura afetaram as receitas do Hamas, fragmentando o grupo em células isoladas. Famílias e outros grupos armados passaram a desafiar abertamente o poder do Hamas, com o intuito de conquistar influência em suas regiões. O Hamas respondeu com ações repressivas, direcionando seus esforços para a segurança interna, com o objetivo de restaurar o domínio sobre o território.
Mobilização de forças do Hamas
Khaled Qaddoumi, representante do Hamas no Irã, afirmou que foram mobilizadas forças sob o Ministério do Interior para restaurar a ordem, punir saqueadores e supostos colaboradores de Israel. “O Hamas está percebendo as responsabilidades patrióticas e nacionais depois da guerra para espalhar o senso de paz e estabilidade”, disse Qaddoumi ao WSJ.
Entre os primeiros alvos da repressão esteve a família Doghmosh, tradicional rival do Hamas desde 2007, quando o grupo assumiu o controle da Faixa de Gaza. No domingo 12, terroristas mascarados e armados cercaram o hospital jordaniano e exigiram a entrega de dez membros da família acusados de colaboração com Israel.
Diante da recusa, a situação se agravou: houve troca de tiros, casas e carros incendiados e relatos de corpos espalhados pelas ruas. “Eu ouvia tiros por todos os lados, confrontos intensos”, disse Sobheia Doghmosh, familiar presente durante o conflito. “A área agora está completamente cercada por homens armados e mascarados.”
Na segunda-feira 13, o conselho central da família Doghmosh divulgou nota na qual acusa o Hamas de campanha de intimidação e violência. O comunicado repudiou atos cometidos em nome da família, incluindo o assassinato de um terrorista do Hamas, para tentar apaziguar a situação.
Depois do confronto com os Doghmosh, o Hamas também perseguiu a família Abu Samra, provocando novos combates em Deir al-Balah. Antes do cessar-fogo, houve tiroteios com a família Al Majaydeh, resultando em dezenas de mortos.
Mohammad Majaydeh, porta-voz dos Al Majaydeh, explicou que o conflito com o Hamas era motivado por questões políticas, já que a família tem ligações com o Fatah e a Autoridade Palestina. Para evitar mais violência, a família declarou lealdade ao governo do Hamas e entregou suas armas.
Justificativa do Hamas
O Ministério do Interior de Gaza afirmou que está reprimindo gangues que aproveitam o caos para saquear e atacar civis e oferecendo anistia a membros rivais que não tenham cometido assassinatos. A unidade Rada’a, do Hamas, declarou ter assumido o controle de posições rivais e capturado oponentes em diferentes regiões.
“A força Rada’a está determinada a impor a ordem e erradicar gangues e milícias e atacará com punho de ferro qualquer um que interfira na segurança da retaguarda”, afirmou o grupo.
O Hamas já preparava, havia meses, uma reestruturação de suas forças de segurança. Husam Badran, membro do gabinete político, declarou anteriormente que o grupo trabalhava na criação de uma polícia para conter saques e abusos de preços em meio à crise.
Temor de guerra civil
Parte da população de Gaza teme que a repressão do Hamas leve a uma guerra civil, como relatou o advogado Mohammad Hadieh ao WSJ: “Eles têm medo de uma guerra civil. Isso é muito perigoso. Já começou”. As divisões ocorrem principalmente entre grandes famílias, que representam cerca de 30% da população.
Israel tentou aprofundar essas divisões, buscando atrair famílias para desafiar o Hamas. Nizar Doghmosh, líder familiar, contou ter sido procurado por uma ligação do Exército israelense, que pedia ajuda para estabilizar bairros, mas recusou colaborar. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu confirmou o apoio ao grupo Abu Shabab; o Exército israelense não comentou o caso.
Michael Milshtein, ex-chefe de assuntos palestinos das Forças Armadas de Israel, avaliou que, apesar do enfraquecimento do Hamas, o grupo não abrirá mão do controle e reagirá a tentativas de substituição. “Embora o Hamas esteja muito mais fraco do que há dois anos, eles não vão desistir e vão desmantelar esses grupos”, afirmou.
Analistas e militares israelenses apontam a Autoridade Palestina como única alternativa viável ao Hamas em Gaza, mas Netanyahu rejeita essa hipótese, citando casos de corrupção e incompetência do grupo.
Fonte: Revista Oeste
Fonte: Diário Do Brasil