Reprodução FORBES

Vinte horas no ar. Nova York a Sydney, sem escalas. Esse é o plano da Qantas para 2027: um voo tão longo que fará o atual recordista da Singapore Airlines parecer um trajeto curto. E a empresa não pretende apenas ampliar o espaço para as pernas e encerrar por aí.

A companhia aérea chama o projeto de Project Sunrise, em referência aos voos da Segunda Guerra Mundial em que os passageiros assistiam ao nascer do sol duas vezes durante a mesma viagem. Segundo o CEO da Qantas International,Cam Wallace, trata-se de “uma oportunidade para repensar a experiência a bordo, com foco no bem-estar do passageiro e na redução dos efeitos do jet lag”.

Em outras palavras, a empresa sabe que passar quase um dia inteiro dentro de um avião não é uma experiência agradável, e quer torná-la menos cansativa.

Iluminação que realmente faz diferença

É nesse ponto que o projeto se destaca. A Qantas contratou o designer industrial australiano David Caon e passou mais de 150 horas em uma instalação da Airbus em Hamburgo desenvolvendo 12 esquemas diferentes de iluminação. Não se trata apenas de luz “forte” ou “fraca”, mas de cenas inspiradas em paisagens australianas.

Uma delas se chama “Awake” (“Acordado”). A luz azulada foi projetada para ajustar o corpo ao fuso horário de destino. Outra é “Sunset” (“Pôr do Sol”), que transita por tons de entardecer até chegar a um céu prateado e nublado, simulando o luar. Há ainda a “Sunrise” (“Nascer do Sol”), que se desloca da parte frontal da cabine até a traseira, como um amanhecer real.

Caon explica: “A iluminação das aeronaves geralmente passa despercebida pelos passageiros, mas o ciclo externo de luz e escuridão tem mais impacto sobre o nosso ritmo circadiano — e, consequentemente, sobre o jet lag — do que qualquer outro fator.”

Em resumo, o corpo se desorienta ao atravessar vários fusos horários, e a luz é o principal sinal que indica em que momento do dia ele deve estar.

Uma zona de bem-estar a 12 mil metros de altura

Os modelos A350 utilizados pela Qantas terão o que a companhia chama de “Wellbeing Zone” (“Área de bem-estar”): uma área entre a Classe Econômica Premium e a Econômica, equipada com apoios para alongamento, telas com rotinas de exercícios e um ponto de hidratação. É algo como uma minissala de ginástica.

É a primeira vez que uma companhia aérea implementa algo do tipo em um voo comercial. A proposta é simples: incentivar os passageiros a se movimentarem em vez de permanecerem sentados por 20 horas seguidas.

Alimentação como ferramenta de ajuste

A Qantas tem trabalhado com pesquisadores para definir horários e ingredientes das refeições. O foco está em alimentos ricos em triptofano, aminoácido que ajuda na indução do sono — como peixe, frango, carboidratos leves e pratos reconfortantes, como sopas e sobremesas à base de leite. Curiosamente, chili e chocolate também fazem parte do cardápio, embora as razões científicas sejam menos evidentes.

A ideia é que o que se come e quando se come possa ajudar a reajustar o relógio biológico. Assim, as refeições não são servidas aleatoriamente, mas em momentos estratégicos para enganar o corpo e acelerar a adaptação ao novo horário.

Os passageiros da primeira classe terão ainda mais controle: suas suítes contarão com iluminação totalmente personalizável, permitindo que escolham o fuso horário ao qual desejam que o corpo se adapte.

O desafio geográfico

A CEO Vanessa Hudson destacou recentemente a importância geográfica do projeto, afirmando que o Project Sunrise “vai tornar a tirania da distância algo do passado. Ele permitirá voos diretos de Sydney e Melbourne para Nova York e também para Londres”, disse.

De fato, a Austrália é distante de praticamente todos os outros grandes destinos. Para ir a quase qualquer lugar, é necessário encarar voos longos. Por isso, a Qantas precisou inovar para não perder passageiros para companhias que oferecem rotas mais curtas ou com conexões mais convenientes.

Vai funcionar?

A pesquisadora Dra. Sveta Postnova, do Charles Perkins Centre, mostra-se otimista: “É bom ver a ciência do ritmo circadiano sendo aplicada na prática.” Em outras palavras, trata-se de uma proposta baseada em pesquisa real (embora ainda falte comprovação prática).

De todo modo, a iniciativa é mais avançada do que a abordagem comum: tomar melatonina, beber vinho, assistir a três filmes ruins e chegar ao destino com a sensação de ter sido atropelado. Talvez, afinal, 20 horas no ar não precisem ser tão exaustivas.
Fonte: FORBES

Fonte: Diário Do Brasil

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