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Enquanto o governo celebra reajustes anuais do piso oficial, estudos salariais apontam que o salário mínimo de verdade deveria ficar acima de R$ 7.200para cumprir o que a Constituição promete na teoria. O valor, calculado a partir da cesta básica mais cara do país e ampliado para todas as despesas de uma família padrão, seria necessário para cobrir alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, transporte e previdência de quatro pessoas.
Na prática, o salário que entra hoje na conta de milhões de trabalhadores formais está muito longe desse patamar. Em vez de funcionar como base de salário mínimo de verdade, capaz de sustentar o mês inteiro, o piso nacional virou apenas um ponto de partida que obriga famílias a complementar a renda com bicos, horas extras, endividamento contínuo e cortes sucessivos em itens essenciais, da feira ao remédio.
Por que o salário mínimo de verdade precisaria ser cinco vezes maior
O cálculo que coloca o salário mínimo de verdadeacima de R$ 7.200 parte de uma constatação simples: a soma das despesas básicas ultrapassa com folga o que o piso oficial paga hoje.
Alimentação para quatro pessoas, aluguel em área urbana, luz, água, gás, transporte, material escolar, higiene e remédios formam um pacote fixo que não para de subir.
A inflação acumulada nos itens de primeira necessidade, principalmente comida e energia elétrica, cresce mais rápido do que os reajustes anuais.
Enquanto o piso nacional sobe a passos curtos, o supermercado e o aluguel disparam, abrindo um buraco que nenhuma pequena correção consegue fechar.
O resultado é um salário que cobre apenas uma fração da vida real, muito distante do que seria um salário mínimo de verdade em 2025.
Como é feito o cálculo do salário mínimo de verdade
Para estimar quanto deveria valer um salário mínimo de verdade, entidades como o DIEESE usam a cesta básica mais cara entre as capitais como referência.
Primeiro, calculam o gasto mensal com alimentação de uma pessoa adulta segundo parâmetros nutricionais mínimos.
Depois, projetam o custo de uma família de dois adultos e duas crianças a partir dessa base.
Em seguida, esse valor é multiplicado para incluir moradia, transporte, vestuário, educação, saúde, lazer básico, higiene e previdência social.
O resultado passa de R$ 7.200 mensais em 2025, indicando que o piso atual cobre apenas um pedaço do orçamento necessário para garantir uma vida minimamente digna a quem trabalha.
Esse número funciona como um termômetro da distância entre o salário mínimo oficial e o salário mínimo de verdade exigido pela Constituição.
O que espanta economistas estrangeiros na realidade brasileira
Quando economistas de outros países analisam o quadro, um dado chama atenção imediata. Estudos apontam que o trabalhador brasileiro precisa dedicar mais de 120 horas mensais apenas para pagar a alimentação básica, algo incomum em economias desenvolvidas.
Essa proporção entre jornada e custo da comida revela uma distorção estrutural na distribuição de renda.
Para esses pesquisadores, o fenômeno do “trabalhador pobre” é o retrato mais duro da ausência de salário mínimo de verdade.
Mesmo com carteira assinada, muitos permanecem em situação de pobreza, sem capacidade de formar reserva financeira, sem acesso contínuo a alimentação adequada e sem margem para enfrentar emergências, como doenças ou perda temporária de renda.
Como a defasagem salarial afeta saúde, endividamento e futuro
A distância entre o piso oficial e o salário mínimo de verdade não aparece apenas nas planilhas.
Dentro das casas, famílias são obrigadas a trocar alimentos frescos por produtos ultraprocessados mais baratos, reduzindo a qualidade nutricional da dieta para conseguir pagar contas de luz, aluguel e transporte.
Esse comportamento empurrado pela necessidade cria um ciclo de adoecimento físico e mental.
Faltam nutrientes, sobram estresse e ansiedade por causa das contas atrasadas, e qualquer imprevisto de saúde vira ameaça direta ao orçamento.
O cartão de crédito e o empréstimo consignado deixam de ser ferramentas pontuais e se transformam em muletas permanentes para bancar gastos básicos, alimentando um endividamento crônico que consome boa parte do salário seguinte.
Por que a valorização real do trabalho é a única saída estrutural
Recomendações isoladas de educação financeira não resolvem a raiz do problema.
Sem aproximar o piso oficial do salário mínimo de verdade, a conta nunca fecha.
A política de reajuste que apenas repõe inflação preserva a defasagem histórica, mantendo o trabalhador constantemente atrás do custo de vida real.
Uma agenda de valorização precisa ir além da correção inflacionária, com ganhos reais sustentados, vinculados à produtividade e ao crescimento da economia.
Sem aumento substancial da renda base, o mercado interno continua fraco, o consumo das famílias permanece comprimido e a desigualdade funciona como freio permanente ao desenvolvimento, limitando inclusive a arrecadação tributária futura.
O que cada trabalhador pode acompanhar na vida prática
Embora a definição do salário mínimo de verdadedependa de decisões políticas e negociações complexas, há alguns movimentos individuais que ajudam a enxergar o tamanho da defasagem e a pressionar por mudanças.
Acompanhar o valor da própria hora de trabalho, por exemplo, é um primeiro passo para perceber quanto da renda vai apenas para comida e moradia.
Comparar esse esforço com os números oficiais de inflação, acompanhar mensalmente os relatórios de custo da cesta básica e observar como o orçamento reage a cada reajuste mostra com clareza se a situação está melhorando ou piorando.
Quando o salário mínimo de verdade continua distante da renda real, a consequência imediata é o corte de direitos cotidianos, como lazer, formação, cultura e planejamento de qualquer futuro.
Diante de um cenário em que o cálculo do salário mínimo de verdade aponta necessidade acima de R$ 7.200 por mês para uma família escapar das dívidas, na sua opinião o que deveria vir primeiro: aumentar o piso nacional de forma acelerada ou atacar antes os preços de itens básicos como comida, aluguel e energia?
com informações de Clickpetroleoegas
Fonte: Diário Do Brasil
