É preciso abrir mão de tudo que é saboroso para ter saúde?
Se você é um paciente cardíaco ou já passou pela consulta com o cardiologista, provavelmente ouviu perguntas sobre seus hábitos alimentares. Essa avaliação é parte fundamental do atendimento médico, pois certas atitudes estão diretamente conectadas à saúde cardiovascular.
Ao falarmos em dieta, no entanto, é comum pensarmos em restrições, não é mesmo? Imaginamos uma grande lista de “proibidos” e sofremos antecipadamente frente a tudo que deveremos abrir mão.
Mas não seria possível encarar as mudanças por um ângulo diferente? Que tal, ao invés de focar na restrição, contabilizarmos o que podemos incluir no cardápio diário? A seguir, vamos entender a diferença entre aliados e vilões da alimentação para depois pensar sobre como podemos cultivar hábitos saudáveis e colocar atitudes mais positivas em prática.
GORDURAS E CARBOIDRATOS SÃO VILÕES?
Hoje sabemos que o consumo recorrente de alguns carboidratos e gorduras não é benéfico ao coração, incentivando fatores de risco, como hipertensão e obesidade e predispondo o corpo a eventos como o infarto e o AVC.
Mas, a depender do tipo, gorduras e carboidratos são poderosas fontes de energia que facilitam a absorção de nutrientes pelo organismo, desempenhando importante papel na prevenção e colaborando no controle da pressão arterial, colesterol e triglicérides.
EVITE
Gorduras chamadas saturadas (origem animal, como leite integral e queijos gordurosos, carne vermelha) são consideradas prejudiciais quando ingeridas em excesso. Já a gordura trans (gordura hidrogenada, comum em sorvetes, biscoitos e salgadinhos industrializados) não é benéfica ao coração.
O mesmo perigo está no abuso de carboidratos simples e refinados, presentes em bebidas alcóolicas, doces, refrigerantes, cereais açucarados e pão branco, principalmente.
PREFIRA
Gorduras mono e poli-insaturadas, como azeite de oliva, abacate, oleaginosas (castanhas, nozes) e peixes (atum, salmão e sardinha), são aliadas do coração.
Carboidratos complexos e integrais, ricos em fibras e nutrientes, como cereais em farelo, arroz e pães integrais, vegetais e frutas frescas, são importantes para estabilidade glicêmica, saciedade e controle do desenvolvimento de fatores de risco.
Os alimentos com substâncias antioxidantes também são grandes aliados, como o chocolate amargo, o açaí e até mesmo o vinho.
COMO POR EM PRÁTICA?
Para começar a mudança de hábitos é importante consultar o médico e o nutricionista. Mas o principal fator de sucesso é o comprometimento pessoal com atitudes que constroem a prevenção.
Com orientações sobre o que devemos preferir e evitar, encontramos diversas fontes confiáveis, como sites e aplicativos com adaptações saudáveis para nossas receitas favoritas sem abrir mão da criatividade e do sabor.
Algumas ideias simples são os chips assados de batata doce, cenoura, vagem e até folhas, como a couve, temperados com pouco de sal e azeite. E que tal substituir o sorvete industrializado por uma versão caseira, feita com frutas congeladas e cacau em pó, por exemplo?
Quando as boas escolhas se tornam rotina, a tendência é estabilizar o quadro de saúde, tornando possível consumir sua sobremesa preferida, o vinho e o churrasco, sem se esquecer da palavra-chave: moderação.
Outro hábito benéfico é o ato de cozinhar em casa. Ao preparar nossa própria refeição, a tendência é acrescentar menos açúcar, sal e gordura, priorizando temperos naturais e ingredientes de qualidade. Cultivar a atividade como um momento prazeroso, de confraternização com a família, pode reduzir níveis de estresse e ansiedade.
A importância do bem-estar mental para o coração será, inclusive, tema do artigo na semana que vem, em continuidade à homenagem ao Setembro Vermelho – Mês do Coração, que nos convida a refletir sobre a importância da saúde cardiovascular.
Ricardo José Tofano (CRM/SP 86.888) é graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Marília (1996). Atualmente é contratado do corpo docente da Universidade de Marília como médico especialista e médico clínico e intervencionista da Associação Beneficente Hospital Universitário, atuando principalmente na área de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Coordenador da Residência Médica de Cardiologia da ABHU.
