A cada 11 dias, uma pessoa é infectada pelo HIV em Marília. A estatística refere-se ao registro de 189 casos novos do vírus da Aids desde o início de 2016, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde.
Foram registrados 35 novos casos de HIV em 2016 (24 homens e 11 mulheres), com dois óbitos. Em 2017, foram 53 casos novos (44 homens e 9 mulheres), com dois óbitos. 2018 registrou 45 novos casos de HIV (38 homens e 7 mulheres), com um óbito, e em 2019 foram 37 novos casos (31 homens e 6 mulheres), com um óbito.
Neste ano, até o último dia 25, foram descobertos 19 novos casos (16 homens e 3 mulheres), com um óbito.
“Existe subnotificação, já que por conta da pandemia houve diminuição na solicitação dos exames de HIV”, destacou Amin Charur, médico do ambulatório de infectologia do SAE (Serviço de Assistência Especializada). Dos 189 novos casos de HIV em Marília desde 2016 até agora, 153 (81%) foram registrados em homens e 36 (19%) em mulheres.
A maioria das novas contaminações é por exposição sexual sem proteção entre homossexuais. “Precisa melhorar a conscientização de todos sexualmente ativos com relação ao sexo seguro”, alertou o médico.
Charur explica que, nas primeiras semanas, a infecção pelo HIV pode ser confundida com uma indisposição alimentar ou com desconforto intestinal. Depois disso, existe um período de latência clínica, sem sintomas. “Fazer o teste é fundamental para o diagnóstico precoce, mesmo que o paciente não sinta nada”, destaca.
Sintomas como febre, diarreia, dor abdominal e dores no corpo também podem surgir em decorrência do HIV. “O ideal é que, ao notar qualquer sintoma diferente, o paciente já procure o médico”, alertou.
Evolução
O médico do ambulatório de infectologia do SAE destaca que o tratamento vem evoluindo muito, o que tem refletido na melhor qualidade de vida e no menor número de óbitos – foram sete mortes em decorrência do vírus da Aids em Marília desde 2016.
“No caso de uso de retrovirais de primeira linha, o paciente toma só dois comprimidos por dia. Já vi paciente que fez o uso correto e, em apenas dois meses de tratamento, já obteve níveis indetectáveis da carga viral”, pontuou.
Uma pessoa vivendo com HIV com carga viral indetectável tem chance extremamente reduzida de passar o vírus. “Hoje, se o paciente se tratar corretamente, terá décadas e décadas de vida sem nenhuma restrição, uma vida normal”, pontuou.
Indetectável
“Estou indetectável já vai fazer quatro anos, sigo o tratamento certinho”, comemora o aposentado Márcio Henrique da Silva, 52, que descobriu ter contraído o HIV aos 12 anos de idade.
“Fui usuário de droga injetável e me contaminei. Prevenção é tudo, não está escrito na testa de ninguém que a pessoa tem o HIV. E a primeira pessoa que não pode ter preconceito é o próprio paciente”, ensina.
Márcio chegou a ser preso durante 10 anos por tráfico e homicídio, mas resolveu dar a volta por cima. Há 16 anos, largou as drogas, o crime e começou a levar uma mensagem de prevenção contra as drogas e o HIV aos jovens nas escolas. “Aliciei muitos jovens no passado a usar drogas. Hoje eu digo que é tão bom viver careta”, destaca.
O primeiro caso de Aids no Brasil foi registrado em 1982. Mesmo quase 40 anos depois, ainda há muita ignorância acerca da transmissão do vírus. “Tem gente que acha ainda que se pega HIV compartilhando talheres, dando a mão, um abraço ou dormindo na mesma cama”, diz Charur.
Fique Sabendo
A campanha Fique Sabendo terá início nesta terça-feira (1) com o oferecimento de testes rápidos gratuitos de HIV e sífilis.
Com a dificuldade dos pacientes em procurar um posto de saúde por conta das restrições impostas pela pandemia, a média mensal de solicitação de testes rápidos caiu de maneira considerável. “Mesmo com a pandemia, as DSTs [Doenças Sexualmente Transmissíveis] estão aí”, alertou o médico do SAE.
Para se ter uma ideia, no ano passado foram feitos, ao todo, 646 testes rápidos no SAE e nos postos de saúde. Neste ano, até agora, foram 220 exames realizados, com grande concentração de testes feitos antes do início da pandemia.
O principal público-alvo da campanha Fique Sabendo são pessoas com vida sexual ativa, que nunca fizeram o teste e pertencem aos grupos mais atingidos pelas doenças.
Em Marília, os testes da Fique Sabendo serão realizados apenas no SAE, na rua 7 de Setembro, 793, nos dias 1, 2, 3, 4 e 7 entre 10h e 18h; e dia 5 (sábado) das 8h às 17h. Os resultados dos testes serão divulgados em poucos minutos.
Existem hoje 4.000 pacientes em tratamento de Aids e outras DSTs no SAE. Mais de 98% dos que contraíram HIV estão com cargas virais indetectáveis por conta da boa adesão ao tratamento.