No artigo Lidando com Filhos Desobedientes, o Dr. José Luiz Setúbal, pediatra, escreve que “a desobediência da criança pode ter uma variedade de causas. De vez em quando é devido às excessivas expectativas dos pais ou pode estar relacionado com temperamento difícil ou intenso de uma criança, aos problemas escolares, estresse familiar ou também aos conflitos entre seus pais. Em alguns casos, essas crianças demonstram um padrão persistente de desobediência ao longo do desenvolvimento, a partir de seus primeiros anos.” Mas a preocupação maior é que este padrão, quando não lapidado na criação, pode se repetir em relação a qualquer figura de autoridade. Se não preparamos nossos filhos, desde a primeira infância para obedecerem às primeiras figuras de autoridade dadas por Deus, os pais, estamos produzindo uma geração despreparada para o exercício da submissão a qualquer outra figura de liderança ao longo da vida. Serão os adolescentes insubmissos aos professores, os jovens que darão trabalho à polícia e os adultos envolvidos nos conflitos de relacionamento com pastores e igrejas; isso sem falar nos prejuízos nos negócios e no local de trabalho. O desdobramento final é o despreparo para a vida. Na década de sessenta, o mundo foi surpreendido com a Revolução Hippie que apregoava o desrespeito a autoridade como elemento de libertação. Passou-se meio século e a Modernidade Líquida continua a ensinar nossa sociedade a questionar toda e qualquer autoridade em nome do relativismo e do hedonismo. Escrevendo sobre a importância de os pais treinarem os filhos para a obediência, Jonh Piper registrou num dos seus artigos:
Semana passada, vi duas coisas que motivaram esse artigo. Uma delas foi o assassinato de Andy Lopez, de 13 anos, em Santa Rosa, na Califórnia, por policiais que pensaram que ele estava prestes a atirar neles com um fuzil de assalto. Tratava-se de uma arma de brinquedo. O que tornou isso relevante foi que os policiais disseram que solicitaram ao garoto, por duas vezes, que largasse a arma. Em vez de fazê-lo, o menino apontou a arma na direção dos policiais. Eles dispararam.
Lembro-me de inúmeras situações na infância, em que presenciei amiguinhos serem indomáveis no comportamento, desobedientes aos pais e agressivos. Já passei dos cinquenta anos de idade, portanto arrisco publicar minhas conclusões, sem medo de ser censurado. Na infância e adolescência eu tive bons amigos, mas dentre os amigos eu tive cinco destes “terríveis”, cujos pais não cobravam obediência ou ao menos tentavam corrigi-los. Hoje, quarenta e tantos anos depois, um é alcoolista e tem problemas com a justiça por questões ligadas a violência doméstica, outro é usuário de drogas e já deu trabalho à polícia e outro não se firma na vida profissional. O quarto foi assassinado em razão de dívidas com o narcotráfico, e uma amiga já passou por inúmeros relacionamentos tóxicos, sem conseguir construir um lar com solidez. O fator comum entre os casos era o desrespeito aos progenitores e a inércia destes. Isso não é coincidência, absolutamente. Os filhos precisam ser treinados a obedecer. Pais que não preparam os filhos para a obediência, estão preparando os filhos para as ilicitudes da vida. Uma geração criada sem limites e sem deveres, produzirá uma sociedade anárquica. Aliás, o Comentário Bíblico Moody adverte, quando analisa Deuteronômio 27:16: “Se o abuso da autoridade produzia tirania, o desrespeito pela devida autoridade produziria anarquia, a própria contradição da ordem da aliança como uma manifestação do senhorio divino. A autoridade paterna, em particular, fora ordenada por Deus para representar a autoridade divina e para ser a pedra de esquina de todo o governo humano e ordem social.” Pois bem, eis o problema, mas qual é a atitude preventiva? Vão aí alguns lembretes pontuais para tal legação neste tempo tão difícil:
- Passar conhecimento e informação às crianças e adolescentes é atribuição da escola, mas a tarefa de passar educação e religião é do lar. O coração da criança é o terreno fértil para a obediência se ela for devidamente treinada. Jamais esqueça que a alma do seu filho não é neutra, portanto eis a responsabilidade inegociável dos pais.
- Treine seu filho pequeno para a obediência. Até os oito anos de idade uma criança conhece a linguagem do sim e não, recompensa e castigo. Desta idade até a pré-adolescência, a educação para a obediência vai alternar entre os polos pode e não pode e a conscientização. Procure despertar a consciência de seu filho pré-adolescente. Mostre que a obediência é o caminho da benção de Deus para a sua vivência em sociedade. Com certeza ele tende a admirar o colega que desobedece os pais em nome de uma pseudo independência ou de um falso empoderamento. Da adolescência em diante, muda-se a estratégia. Seja mais amigo de seu filho e filha, portanto, eduque a partir da amizade. Nesta fase o grito e a repressão pouco hão de resolver, e na maioria das vezes, tencionam os relacionamentos.
- Os pais devem exercitar a autoridade mas com paciência, segurança e firmeza. A educação de filhos para a obediência é um exercício rotineiro de paciência, portanto seja perseverante. Deus confiou a você, insubstituivelmente, a próxima geração da sua descendência, portanto não abra mão deste privilégio. A criança é mais segura quando sabe o que os pais esperam dela. Isso se expressa em forma de limites e acordos, não com brigas e broncas. Pais nervosos, intempestivos ou descontrolados emocionalmente, não são bons educadores.
- Vá além das palavras formais da comunicação tópica. Há momentos em que seu filho há de abrir a denominada “Janela da Alma” e neste exato minuto, não perca a chance de olhar por ela e sondar cada cantinho do seus sentimentos. Sabe, quando naquela pescaria, no silêncio da beira do lago, o adolescente pergunta a opinião do pai sobre a garota na qual está interessado, ou então questiona o que você acha do amigo tal que começou a usar drogas, segundo ele apenas para curtir, nas noites de balada. Sabe quando a filha, toda sem jeito, avisa a mãe que menstruou pela primeira vez? Excelente oportunidade para conversar sobre os assuntos do coração e reforçar as orientações para a vida. Essas janelas são raras mas eficientes.
- Não há modelos congelados de filhos educados, obedientes e respeitosos, assim como não há métodos empacotados para estes resultados. Existe sim, funcionalidade ou desfuncionalidade nas relações pais e filhos. Cada filho é único e cada família é única, portanto, nunca compare seu filho a outras crianças ou jovens.
- Descubra potencialidades, dons e talentos no seu filho e motive-o naquilo em que se destaca. Isso lhe trará autoestima e segurança para o futuro. É comprovado que filhos com elevada autoestima são mais obedientes. Entre os hebreus era muito evidente a cultura da bênção, quando o pai promovia uma festa para elogiar as qualidades do filho e anunciar publicamente o que sonhava para o futuro do menino ou da menina. Infelizmente a cultura ocidental “terceirizou” este importante papel, deixando-o para os psicólogos ou psicopedagogos.
- Apesar de ensinarmos os filhos sobre decisões pautadas na consciência, não podemos abrir mão dos absolutos contidos na Bíblia Sagrada. Costumo ensinar que, na Ética Cristã encontramos elementos cinzas e neles decidimos a partir da consciência pessoal. Mas também há itens pretos e brancos e quanto a estes precisamos trabalhar com os absolutos: certo ou errado. Lembre constantemente seu filho destes absolutos.
Que Deus nos dê graça e sabedoria para construirmos a próxima geração sobre as colunas da paz e justiça, a partir do fundamento da obediência.
Rev. Marcos Kopeska – pastor da 3ª IPI de Marília, escritor, terapeuta familiar sistêmico e capelão da PM