Mariana Nakajuni,
da Agência Einstein
Em situações de estresse, a esfera psicológica não é a única afetada, e os impactos também podem ser sentidos através de respostas do próprio corpo. Em um recente estudo publicado na revista Nature, cientistas descobriram que o hormônio do estresse pode inibir a regeneração do folículo capilar e levar a uma maior queda de cabelo.
Os folículos capilares são estruturas da pele responsáveis pela produção e crescimento dos fios, e são uma das únicas regiões em mamíferos capazes de passar por consecutivas renovações ao longo da vida. O processo é caracterizado por um ciclo que varia entre duas fases: crescimento e repouso. Na primeira, as células-tronco presentes no folículo são ativadas, regenerando o cabelo e permitindo o crescimento dos fios. Já no repouso, as células entram em um estado quiescente, ou seja, deixam de se multiplicar e não renovam os tecidos, de modo que os fios caem com maior facilidade.
“Meu laboratório está interessado em compreender como o estresse afeta a biologia das células-tronco e dos tecidos, estimulado, em parte, pelo fato de que todos têm uma história para contar sobre o que acontece com a sua pele ou cabelo quando estão estressados”, diz Ya-Chieh Hsu, uma das autoras do estudo.
Os pesquisadores da Universidade de Harvard analisaram como a corticosterona — hormônio associado ao estresse presente em roedores, equivalente ao cortisol nos humanos — regula a atividade do folículo capilar em ratos. Eles descobriram que o aumento nos níveis da substância faz com que as células-tronco permaneçam na fase de repouso por mais tempo, sem que haja a reparação do folículo.
Quando o hormônio era retirado, o estado quiescente era significativamente reduzido, e a fase de crescimento se mantinha constante por toda a vida, ao contrário do que costuma ocorrer — em geral, a regeneração dos folículos capilares diminui conforme o envelhecimento.
Além de fazer a relação entre o comportamento do folículo capilar e a presença da corticosterona, os cientistas também investigaram os mecanismos que levavam a esses resultados. “Primeiramente, nós nos perguntamos se o hormônio do estresse estava regulando diretamente as células-tronco, e verificamos isso ao retirar o receptor da corticosterona, o que se provou errado”, explica Sekyu Choi, autor principal da pesquisa. Em vez disso, eles descobriram que a substância age em um grupo de células localizadas abaixo do folículo capilar, conhecido como papila dérmica.
A corticosterona inibe a produção de Gas6, uma molécula secretada pela papila dérmica que ativa as células-tronco dos folículos e promove sua multiplicação. “Tanto em situações normais quanto de estresse, a adição do Gas6 foi suficiente para ativar as células que estavam em fase de repouso e estimular o crescimento dos fios”, afirma Choi. Com a descoberta, o especialista acredita que é possível explorar o potencial da substância no crescimento de cabelo.
Embora a corticosterona e o cortisol sejam da mesma família de hormônios, os pesquisadores apontam que ainda é necessário conduzir mais estudos para verificar se os efeitos serão idênticos no organismo humano.