Estudo é o primeiro a avaliar os efeitos a curto prazo dos
hábitos alimentares na performance das atividades
Mariana Nakajuni, da Agência Einstein
Um estudo da Universidade Estadual da Carolina do Norte (EUA) constatou que os hábitos alimentares noturnos podem impactar o desempenho no trabalho no dia seguinte. De acordo com os pesquisadores, a má alimentação pode gerar tanto problemas físicos quanto psicológicos pela manhã, afetando o comportamento do indivíduo ao longo de seu expediente.
Publicado no periódico Journal of Applied Psychology, a pesquisa contou com 97 participantes, que tinham emprego em tempo integral nos Estados Unidos. Ao longo de duas semanas de trabalho, eles tiveram que responder a três questionários diariamente. No início do dia, relatavam como estava o seu bem-estar físico e emocional; ao final do expediente, respondiam perguntas sobre as atividades realizadas no trabalho. Por fim, antes de dormir, as pessoas descreviam seu consumo de comidas e bebidas durante a noite.
Os cientistas descobriram que a alimentação pouco saudável estava associada a comportamentos que afetavam o desempenho do participante no trabalho. Um deles é a menor disposição para auxiliar os colegas a realizar tarefas, mesmo que não seja de sua responsabilidade. Outra conduta observada foi a de evitar abordar questões relacionadas ao trabalho, ainda que o indivíduo estivesse trabalhando.
Isso ocorre porque os participantes que informavam a má alimentação eram mais propensos a se queixar de problemas como dores de cabeça, dores no estômago e diarreia. Além disso, relatavam tensões emocionais que envolviam o sentimento de culpa e vergonha por conta de seus hábitos alimentares.
“Pela primeira vez, mostramos que a alimentação saudável possui efeito imediato sobre nosso comportamento e desempenho no ambiente de trabalho”, afirma Seonghee “Sophia” Cho, uma das autoras do estudo. “É relativamente bem estabelecido que outras atitudes relacionadas à saúde, como sono e exercício físico, afetam nosso trabalho. Mas ninguém havia olhado para os efeitos a curto prazo da má alimentação”.
Para os pesquisadores, a alimentação pouco saudável se configurava quando o participante sentia que havia comido uma grande quantidade de alimentos de alto teor calórico; exagerado na ingestão de comidas e bebidas; ou quando faziam lanches durante a madrugada.
Por outro lado, o estudo descobriu que os efeitos da má alimentação se manifestam, principalmente, em pessoas com menor estabilidade emocional. Os indivíduos que lidavam melhor com o estresse e apresentavam menor variação de humor tinham menor probabilidade de desenvolver problemas físicos e emocionais por conta da alimentação pouco saudável e, ainda que desenvolvessem, a execução de suas atividades no trabalho não era prejudicada.
Para Cho, as descobertas podem ajudar empresas a promover uma alimentação mais saudável e prestar mais atenção nas necessidades e preferências alimentares de seus funcionários, oferecendo soluções como opções de refeição no próprio local de trabalho. “Isso pode afetar tanto a saúde corporal quanto mental dos colaboradores e, por consequência, sua performance”, diz a pesquisadora.
Devido ao tamanho da amostra, mais estudos nesta área do conhecimento devem complementar estes achados. Em pesquisas futuras, os cientistas pretendem analisar o impacto da alimentação em outros momentos do dia, além do papel de substâncias específicas, como o açúcar e a cafeína. Outra possível investigação é avaliar se existem benefícios na alimentação pouco saudável, como situações em que as pessoas ingerem as chamadas “comidas afetivas” para lidar com o estresse.