Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Cerca de um quarto dos adolescentes brasileiros portadores de diabetes tipo 1 apresentam sobrepeso ou obesidade. Os dados são de um estudo multicêntrico recém-divulgado, que acompanhou 1.760 pacientes em dez cidades, dos quais 367 eram jovens com idade média de 16 anos. O excesso de peso também foi relacionado a fatores de risco de complicações da doença, como hipertensão, colesterol alto e síndrome metabólica – um conjunto de condições que aumentam a chance de problemas como infarto e derrame.
Menos comum, o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune e atinge cerca de 5% a 10% dos pacientes diabéticos. Ele acontece quando ocorre a destruição quase total das células que produzem insulina, em decorrência de um defeito do sistema imunológico da pessoa que passa a atacar as células produtoras do hormônio. Assim, os pacientes dependem totalmente da reposição diária de insulina.
Dados recentes do Atlas do Diabetes, divulgado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) no início de 2022, apontam que nos últimos 10 anos houve um aumento de 26,6% no número de pacientes diabéticos no Brasil. O relatório diz ainda que há cerca de 1,2 milhão de crianças e adolescentes vivem com diabetes tipo 1 e que mais da metade deles possui menos de 15 anos.
O achado marca uma mudança no perfil nos diabéticos tipo 1, que tradicionalmente sempre foram magros – ao contrário daqueles pacientes com o tipo 2, normalmente pessoas com sobrepeso e obesidade. “Isso agrega fatores de risco que eles não tinham quando eram magros e torna o prognóstico desses pacientes muito ruim”, diz a professora Marilia Brito Gomes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), líder do estudo. “A epidemia de obesidade chegou aos jovens com diabetes tipo 1”, observa o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Esse novo perfil de diabético faz com que muitas vezes esses pacientes apresentem características dos dois tipos da doença. Tanto que, em alguns casos, eles chegam a precisar usar metformina, um remédio receitado para casos de diabetes tipo 2. E, com esse conjunto de fatores de risco, a chance de complicações a longo prazo é maior, incluindo infartos, derrames e problemas nos rins e retina. O dado é preocupante porque os quilos extra também complicam o tratamento. Esses pacientes vão ter mais resistência à insulina, além das outras comorbidades. Além disso, como a própria insulina pode gerar ganho de peso, esses indivíduos acabam precisando usar mais insulina no total, o que gera um ciclo vicioso. Não à toa, menos de 20% dos pacientes tinham a glicemia sob controle e menos da metade deles seguia uma dieta adequada. “Infelizmente as ferramentas que temos para atuar nesse problema acabam sendo limitadas”, lamenta Marilia. Segundo ela, o ideal é que as consultas médicas sejam em intervalos menores, de dois em dois meses. Esses pacientes também precisariam do acompanhamento de um educador físico, para orientar uma rotina de exercícios, e de nutricionista, para acompanhar a aderência à dieta. “Além disso, em adolescentes, o impacto da doença pode ser muito grande e muitos demoram a aceitar o diagnóstico e o tratamento”, nota Rosenbaum. Nesses casos, o suporte psicológico pode fazer toda a diferença.