Lidar com a depressão na família pode ser um grande desafio, mas pode também representar uma oportunidade de aproximação para aqueles que se amam e melhor compreensão das forças e fraquezas do sistema familiar. Quando a família trabalha em conjunto para superar momentos difíceis, todos se beneficiam. Não resta dúvidas de que a configuração da família muda quando um dos seus membros está incapacitado. Quando uma pessoa querida está sofrendo de depressão, uma das melhores maneiras de lidar com a doença é preparar-se para ela. Isto significa entender a doença, conhecer os possíveis efeitos e as possibilidades de cura, afim de poder ajudar a entender o que está acontecendo e, por fim, desenvolver estratégias. A família do depressivo, em muitas situações, será o principal componente no processo de restauração, cura ou melhora. Uma justificativa que corrobora com este pensamento é o fato de a família conviver diariamente com o depressivo e conhecer suas peculiaridades. Isto posto, deixamos aqui algumas orientações para os familiares daquele que está perdido nos labirintos escuros da vida. 1) Promova conversas em família. Quando dos diálogos com o familiar depressivo, procure não utilizar, frases que imprimem cobrança ou censura, tais como: “Pare de pensar coisas ruins!”; “Você tem que se animar!”; “Pare de reclamar da vida.” Na boa intenção de animá-lo, as coisas podem piorar bastante. Em vez de usar estas frases, mesmo que elas sejam ditas com boa intenção, use frases compreensivas, como: “Estes sentimentos são muito ruins mesmo, mas juntos vamos vencer!” 2) Inclua-o no diálogo. Não exclua o familiar depressivo dos problemas ou discussões familiares. Isto manterá seu senso de utilidade, pertencimento e responsabilidade junto ao seu círculo mais íntimo, o lar. O momento da refeição à mesa é muito salutar para a saúde da estrutura familiar, principalmente neste caso, com a presença do familiar que precisa deste momento de comunhão. 3) O que não falar ao familiar depressivo. É muito importante observarmos que os padrões de comunicação de uma família mudam no contexto da enfermidade. Por via de regra, na comunicação temos um emissor, um receptor, e entre ambos a mensagem em trânsito. A mensagem emitida nem sempre chega ao receptor da forma que deveria chegar. Há ruídos no trajeto da mensagem que comprometem a inteireza da compreensão. Os ruídos podem estabelecer um abismo entre o que você intensionou dizer, o que disse e como o outro recebeu a sua mensagem. Sendo assim, quando falar, tenha certeza que está sendo compreendido. Fale com clareza, mirando os olhos e se necessário repetindo. A mente do depressivo está lenta, seus reflexos estão falhos e seu senso de percepção está fraccionado. Não esqueça este detalhe: há frases que nunca você pode falar ao seu familiar depressivo, pois na boa intenção de incentivá-lo à melhora, elas seriam extremamente tóxicas. Uma delas é “Isso é frescura. Você tem que ser mais forte!” Normalmente alguém da família em um momento de esgotamento pessoal diz isso. Esta definição tem um efeito péssimo na mente do depressivo e potencializa seu sofrimento. Inclusive a reação será o contrário. 4) Como dividir as tarefas do lar. Os membros da família devem ajustar-se às responsabilidades. Como a depressão reduz a capacidade de o indivíduo trabalhar, mesmo em casa, os membros da família podem ter dificuldade para se ajustar a isto. Às vezes pode ser útil relaxar um pouco as tarefas domésticas ou mesmo preparar comidas mais simples. O cônjuge e os filhos podem ajudar a realizar algumas tarefas em casa, mas continuarem com suas rotinas. Quando os familiares abdicam da sua vida, cedo estarão emocionalmente abalados a ponto de não poderem ser úteis na recuperação do familiar depressivo. Não tente fazer tudo para a pessoa com depressão, mesmo que isto pareça ser a melhor forma de ajudar. Evite dizer: “Não faça isto, deixe que eu faça!”, especialmente se ela já iniciou a tarefa. Tente pelo menos lhe dar a chance de terminar a tarefa. Por outro lado não espere que a pessoa em depressão faça muito. A depressão é uma enfermidade real e severa, e não se pode esperar paridade na disposição para as tarefas. Para um depressivo, por exemplo, pequenas saídas de casa para o mercado ou panificadora podem ser tarefas e relaxamento ao mesmo tempo, no entanto o efeito seria diferente se você colocasse uma longa lista de compras na sua mão e estipulasse um prazo. É realmente um desafio, pois tirá-lo de tudo em casa, faria o deprimido sentir-se inútil, mas, exagerar em atividades, daria à ele um sentimento de incompetência. Sabedoria para estar junto e solicitar ajuda. No caso da depressão pós parto, é necessário pedir ajuda a uma mulher da família, a uma enfermeira ou babá bem treinada, pois a jovem mãe talvez não reúna condições de cuidar do bebê até melhorar da depressão. Esta pessoa deve estar sempre presente com o bebê junto à mãe, pois a interação entre bebê e mãe é muitíssimo salutar. Essas sugestões são de extrema importância para toda a família. Pois uma mãe com depressão pós parto, se sente incapaz, com culpa e muitas vezes é desesperador. 6) Como orar com o depressivo. Há uma frase muito conhecida, atribuída a George Müller: “Quando trabalhamos, colhemos o fruto do nosso trabalho, mas quando oramos, colhemos o fruto do trabalho de Deus.” A família do depressivo deve interceder em oração, mas não esperar que o enfermo vá por si mesmo entregar-se à oração. Neste estado a pessoa depende da oração de amigos, parentes e irmãos da comunidade de fé. A oração dos familiares, tão somente como oração, é capaz de trazer bênçãos, respostas, soluções, alívio, conforto, consolo, ânimo e cura para o enfermo. Em Tiago 5.14-15 encontramos a recomendação: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.” Devem ser orações rápidas, pois alguém em depressão terá uma percepção diferente do tempo. Poucas palavras, porém regadas de fé, sinceridade e empatia serão muito abençoadoras. A promessa de Deus ao seu povo, nos enche de ânimo: “Antes de clamarem, eu responderei; ainda não estarão falando, e eu os ouvirei.” (Isaías 65:24).
Marcos Kopeska Paraizo
Pastor, graduado em Teologia e pós graduado em Terapia Familiar, pós graduado em Saúde Mental, escritor e palestrante. Autor dos livros “Superando a Dor no Luto” e “Enfrentando e Superando a Depressão” (na Livraria Manah Books, esquina da R. 24 de dezembro e R. 9 de julho – centro Marília).