Por Marcos Kopeska
Estranhamente, de uma década para cá, com rapidez o Brasil passou a alinhar-se aos demais países na pauta ideologista, mesmo sendo uma nação de gente tão livre, espontânea e carismática. As discussões maiores entre educadores e pais deixaram de ser sobre as atividades das crianças em classe e hoje está no campo da erotização de crianças, sob a sofismática expressão “ideologia de gênero”. As artes que antes expressavam nossa rica cultura, paulatinamente passam a ser elementos de desconstrução de valores como religião e família. A defesa da vida passou a ser um discurso ambíguo, alternado com o discurso de defesa ao aborto (em alguns países com até 6 meses de vida do bebê, totalmente formado) e à eutanásia. Aliás, 56 países já legalizaram o aborto e outros tantos estudam legalizar a eutanásia e o suicídio assistido.
Mas, como nascem as ideologias que passam a tolher nossa liberdade de ser em nome da “liberdade de expressão e escolha”? Nascem de discursos amplos, abrangentes, para atingir o maior número possível de adesões. Lutas sociais que seriam cobertas de legitimidade transformam-se em discursos abertos de ódio e rapidamente inflamam a sociedade. Digamos que, se hoje eu me sentir discriminado porque fui mal atendido no “McDalmata’s”, amanhã poderei ir na mídia reclamar do atendimento da rede, dando uma certa pitada de exagero no depoimento.
Alguns dias depois farei uma assembleia dos descontentes e a seguir registraremos uma ata de formação e o estatuto da ASCDM (Associação Sulchapadense dos Descontentes com o “McDalmata’s”). Traçaremos estratégias de conscientização da população contra a marca, agendaremos entrevistas nas TVs, elaboraremos páginas nas redes sociais e faremos panfletagem nos semáforos. Alguns concorrentes do nosso inimigo, resolverão subsidiar a campanha, utilizando outros nomes, afim de que não soe como concorrência tendenciosa. Dentro de algum tempo a associação estará representada em outras cidades, estados e por fim será a FCDM (Federação de Cidadãos Descontentes com o “McDalmata’s”).
Alguns mais articulados iniciarão ONGs e políticos afoitos pelo eleitorado pleitearão verbas (dos impostos de todos os brasileiros, inclusive dos funcionários da própria marca de lanches em questão), para as tais ONGs e conseguirão, desde que as ONGs e a tal FCDM esteja alinhada com a cartilha do partido X e Y. Acontece que, empoderados pela política e mídia, dispararemos discursos de ódio contra todas as crianças, adolescentes e velhinhos que comerem os produtos da tal marca. Por fim – tente imaginar a cena – um senhor, pai de família, trabalhador, desavisado, tece um elogio em público sobre o pacotinho de batatas fritas que acabou de devorar, sem se dar conta que alguém da FCDM está filmando. Em menos de 40 minutos ele já está indiciado pelo “crime de FCDMfobia”, com base nas leis aprovadas.
Pois bem, com o perdão pelo exemplo simplório, assim nasceu a “ditadura do ideologismo”, implantada sutilmente na maioria dos países do nosso planeta. Usei o exemplo caricato para mostrar que as ideologias, na sua maioria, são capciosas. Semeiam a sensação de que há uma guerra instalada entre as classes – “prós-contra” – e que você está de um lado ou de outro, invariavelmente. Não há campo neutro. Trata-se do chamado binômio do ódio “nós & eles”, muito bem descrito por Rush Dozier Jr. na obra “Por que Odiamos”. Por fim os “ideologizados” apelam: fique do lado do mais fraco (que na verdade já é o mais forte), ou você sofrerá retaliações.
O ideologismo age como um meio de convencimento intelectual, ao invés da força física, mas ao fim se torna psicologicamente opressor. Karl Marx escreveu (sem saber que estava dando um tiro no pé), que a ideologia restringe a compreensão da realidade a uma única visão dos fatos, ou seja, toma um recorte da realidade como se fosse a sua totalidade. Daqui a alguns anos, pelo andar da carruagem, não poderemos mais discutir abertamente sobre aborto e suicídio assistido nas faculdades de medicina. Não poderemos discursar sobre a importância da família tradicional numa classe de ciências sociais. Não poderemos brincar ou descontrair com o “jeitão de ser” das pessoas – sob a pena de processo por bullying – nem ao menos poderemos postar aquilo que quisermos nas nossas redes sociais.
Viveremos a constante ameaça de uma ditadura ideologista. Quando leio sobre o tema, lembro-me das palavras do profeta Isaías: “Ai dos que usam o mal como sinônimo de bem e chamam o bem de mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, fel.” (Isaías 5:20). Que Deus nos dê discernimento e sabedoria para os tempos núbios.
Rev. Marcos Kopeska é Pastor da IPI (Igreja Presbiteriana Independente) de Chapadão do Sul, graduado em Teologia, pós graduado em Terapia Familiar Sistêmica, pós graduado em Saúde Mental e Psicopatologias. Escritor e colunista.