Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Parece um paradoxo: quanto mais envelhecemos, maior o risco de desenvolver alguma doença crônica ou de ter complicações desses males que nos acompanham durante a vida. Consequentemente, muitos pacientes idosos precisam usar múltiplos fármacos para controlar todos esses problemas. Os especialistas buscam, no entanto, respostas sobre como reduzir o número de medicamentos nesse público, a chamada desprescrição. O assunto será um dos temas do Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, que acontece entre os dias 23 e 25 de março, em São Paulo.
É muito comum que o idoso tome cinco ou mais medicamentos para o tratamento dos seus problemas de saúde – a famosa “polifarmácia”. O problema é que, somados, eles acabam aumentando o risco de interações medicamentosas e até de potencialização dos efeitos colaterais. Para se ter uma ideia, estima-se que cerca de 20% das hospitalizações nessa faixa etária ocorrem por reações adversas de drogas.
“Cada idoso envelhece de uma maneira. Há aqueles muito fragilizados, com pior estado de saúde, que recebem o mesmo protocolo de tratamento recomendado aos adultos, podem ter várias reações adversas. Muitas vezes o tratamento pode ser pior do que a própria doença”, diz Marco Tulio Cintra, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. “A maior dificuldade é como tratar principalmente aqueles que têm um padrão de saúde mais frágil.”
Processo cauteloso
Há décadas os especialistas já estabeleceram o que não deve ser prescrito para esse público. É o caso de alguns antialérgicos, por exemplo, que podem gerar confusão mental. Com o tempo, esse conceito evoluiu e passou-se a buscar um tratamento mais personalizado, centrado no paciente, o que exige muito conhecimento e muita conversa com a família.
A tendência agora é dar um passo além e avaliar qual o efeito de cada medicamento em cada paciente específico. Alguns podem aumentar o risco de quedas, outros podem desregular a cognição, por exemplo. À medida que envelhecemos, há uma mudança na composição corporal e uma perda natural das reservas biológicas que podem ter importantes repercussões. De acordo com os geriatras, a diminuição de água no organismo, por exemplo, faz com que remédios hidrossolúveis possam ter sua concentração aumentada e se tornar tóxicos, para citar um exemplo.
Para isso, primeiro é preciso fazer um levantamento completo de tudo o que a pessoa toma. “O mundo real é muito diferente do mundo da receita. É comum haver medicamentos duplicados, sem prescrição médica ou subtraídos sem orientação. É preciso fazer uma avaliação criteriosa pois, ao tratar absolutamente tudo num idoso frágil, corre-se o risco de criar uma cascata de remédios prescritos para tratar problemas causados pelos próprios medicamentos, a chamada cascata iatrogênica”, explica Cintra.
Esse é um processo que deve ser muito cauteloso e acompanhado de perto. “Não se trata de tirar um remédio por tirar”, enfatiza o médico. O objetivo é ajustar o tratamento com um planejamento. “A ideia é priorizar o cuidado e a qualidade de vida, a partir das queixas e do estado de saúde do paciente”, diz o geriatra.
Fonte: Agência Einstein