Quando Charles H. Spurgeon, o grande pregador do século XIX, pastor da Igreja All Souls, em Londres deu início a seu ministério, um ateu bem conhecido informou a seus amigos que iria ouvir Spurgeon pregar. “Por quê?”, perguntaram seus amigos incrédulos. “Você não acredita em nada que ele prega”. Ao que respondeu: “Eu não acredito”, concordou o ateu, “mas ele acredita”.
Tenho a plena certeza de que este mundo está sedento para ouvir aqueles que têm convicções definidas e delineadas. Aliás, estamos num período de escassez de convicções pelo excesso de flexibilidade que eu arrisco chamar de “hiperrelativização”. As crenças estão sendo pulverizadas a meias-verdades convenientes e as certezas estão sendo diluídas a “achismos” diplomáticos. Numa determinada ocasião fui inquirido acerca de minhas convicções calvinistas e não arredei o pé, pois creio que uma verdade que precisa ser negociada já não é mais uma verdade. Uma verdade não precisa ter a aprovação da maioria para continuar sendo verdade.
Uma verdade não precisa desfrutar da simpatia de pessoas para se autoafirmar como verdade. Aliás, nem precisa de qualquer defesa para ser uma verdade. A lei da gravidade, por exemplo, independente de desfrutar de simpatia da sociedade ou independente de alguém defendê-la, continuará a existir como verdade. O mesmo serve para a soberania de Deus, para a suficiência de Cristo, para a predestinação, para a salvação pela graça, para a justificação em Cristo, para a vida eterna… Ando meio cansado de ouvir gente sem convicção alguma na política, nas salas de aula, nos púlpitos das igrejas e nos meios de comunicação. Apenas nutrem conveniências, tendo um credo tipo “picadinho”, pegando coisas daqui e dali, mas sem sequer costurar as ideias e formando um cristianismo ligth, incolor, inócuo e inoperante. Mas este parece ser um mal que assola não somente o pensamento religioso, mas a vida no seu quadro maior.
Veja o que uma pesquisa recente revelou acerca da fragilidade das opiniões, e isso num país do primeiro mundo. O cientista cognitivo Lars Hall, da Universidade de Lund, na Suécia, pediu para que 160 voluntários preenchessem um questionário de duas páginas em que precisavam dizer se concordavam ou não com 12 frases com considerações morais sobre vários temas, da prostituição ao conflito entre Israel e Palestina. Algumas aprovando atitudes da sociedade, outras as negando.
Por exemplo, se uma se dizia a favor da espionagem governamental de e-mails pessoais de cidadãos para combater o crime e o terrorismo, a outra se dizia contra. Depois de responder tudo, eles tiveram de ler em voz alta três das respostas assinaladas e explicar por que haviam dito que concordavam ou discordavam delas. O resultado foi que 53% dos participantes não apenas não notou as mudanças nas afirmações como ainda argumentou fortemente por uma posição que era o oposto do que eles pensavam no início, nas questões anteriores. Oro e anseio por uma sociedade, um cristianismo e uma política com convicções definidas. Que Deus nos abençoe!

Reverendo Marcos Kopeska Paraizo é bacharel em Teologia Exegética, pastor da 3ª Igreja Presbiteriana Independente, integrante do Conselho de Envio da MIAF (Missões para o Interior da África), escritor e integrante do corpo docente do Seminário Teológico Sul-Brasileiro

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