Quando uma criança se machuca, muitos adultos a ensinam lidar com a dor: “pare de chorar, já passou!”, “engole o choro!”, “não foi nada”. Assim aprendemos desde cedo a abafar as dores, porque ninguém tem paciência com chororô.
Crescemos e continuamos a conter nossas dores pois o ‘melô dos incomodados’ permanece, “não chore”, “não fique assim”, “pare de ser vítima”, “sorria!”.
Analgésicos poderosos aliviam o desconforto físico, porém esforços paliativos mecânicos não curam, apenas amenizam e camuflam o latejar das dores que na verdade sangram na alma.
Quando resistimos ouvir o lamento das emoções feridas, o corpo começa a gritar adoecendo fisicamente por omissão de socorro emocional. São as doenças psicossomáticas (psico-alma/soma-corpo).
Acostumados a abafar o sofrimento, engolir sapos e conviver com cobras e lagartos, ficamos hábeis em sobreviver ao estresse e às contrariedades da vida sem demonstrar fragilidade e sentimentos, mas saiba que isso adoece.
Dor da alma não passa fácil assim como nos disseram, ela fica queimando na gastrite, doendo na fibromialgia, na enxaqueca, desesperando no pânico, derrubando na depressão, definhando na anorexia, rodando na labirintite… É assim que o sofrimento chora no corpo quando o negamos. Mais de 90% das doenças são psicossomáticas. A ciência desvendou que, a cada mudança de humor, uma cascata de “moléculas da emoção” é despejada pelas células do corpo.
Quando estamos tristes, nosso fígado está triste, nossos rins estão tristes, nossa pele está triste. O estado emocional de uma pessoa se manifesta de diversas maneiras, especialmente através de problemas de saúde – disse assim meu mestre Rodrigo Fonseca, da Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional.
Cada emoção tem sua bioquímica particular. A hostilidade está associada ao excesso de cortisol. Já o afeto à ocitocina, a felicidade à dopamina, as sensações de bem-estar à serotonina e à endorfina.
A excessiva secreção do hormônio do estresse, o cortisol, que acontece quando sentimos raiva, pode gerar doenças cardíacas, mal de Alzheimer e problemas digestivos. Alerta o psiquiatra Redford Williams, “raiva mata”.
Preocupante porque sofremos abalos emocionais frequentes, mas por outro lado, a ocitocina, que é o hormônio do amor, reduz os níveis de cortisol e baixa a pressão, nos protegendo de doenças relacionadas ao estresse e a raiva.
Sim, este é o antídoto para a cura das doenças emocionais: o amor. E este não o encontramos nos frasquinhos de remédios, mas no toque físico, abraços envolventes, olhar que compreende, no gesto que acolhe, na palavra que incentiva.
Atitudes de amor beijam a alma e tem poder curativo sobre as doenças. Corpo saudável é aquele que tem uma pessoa amada dentro dele. A mente escolhe um órgão para expressar o desafeto, a rejeição, a frustração, o medo. Nosso anseio é ser amado e ficamos com o vazio quando não recebemos amor.
A alma canta: “Eu sei quanta tristeza eu tive, mas mesmo assim se vive morrendo aos poucos por amor. Eu sei, o coração perdoa mas não esquece à toa e eu não me esqueci. Não vou mudar, esse caso não tem solução, sou fera ferida no corpo, na alma e no coração” (‘Fera Ferida’, de Erasmo Carlos).
Até quando nossa alma terá que cantarolar esta música? Até ficar afônica? Precisamos dar voz à nossa dor, aprender a resolver nossos problemas e não simplesmente medicá-los.
“Se não quiser adoecer fale de seus sentimentos, tome decisão, busque soluções, não viva de aparências, aceite-se, confie e não viva sempre triste!”. Conselho do Dr Drausio Varella.
Eu acrescento: para não adoecer, inteligentemente perdoe, perdoe-se, ame e ame-se.
Ah, se ouvíssemos estes conselhos em vez de medicalizar a vida semeássemos mais amor, os hospitais seriam menos frequentados, a indústria farmacêutica enfraqueceria, os relacionamentos se fartariam de afeto e nossa alma ficaria livre das dores para viver um caso de amor com a vida garantindo um final feliz para todos!
Edilene Nassar é psicóloga, professora, palestrante e especialista em inteligência emocional. Contatos pelo (14) 98149-7242 e edilenenassar@hotmail.com