É domingo de carnaval. Na TV, apenas desfiles que mais parecem uma viagem coletiva de gente que tomou ácido. Estou aqui em frente à minha máquina de escrever pensando em como o meu modo de passar esse período é comum para muitos que não ligam para a folia.
Não fiz absolutamente nada de interessante hoje, exceto talvez um purê de batata. Fora isso, segui a minha rotina: muitos cigarros e café. Sim, minha folia é introspectiva, sem badalação. Para ser sincero até a medula. Esse sempre foi meu jeito de passar essa festividade porque nunca fui a uma festa de carnaval, nem gosto de samba.
E mesmo se fizessem um tipo diferente de folia, uma festa ao som de rock, eu não iria. É que não me vejo mais com idade para patuscada aos meus 33 anos de vida. O único barulho que me agrada é o dos meus cachorros latindo. Mais nada.
No mais, fico aqui remoendo miuçalhas tão banais que alguns diriam que sou um praticante das filigranas da insignificância. Que assim seja, então. O próprio mestre Dostoiévski dizia que as coisas insignificantes têm grande importância, e é por causa de não pensar nelas que nos perdemos.
Bom, creio que estou seguro pelo menos agora, pois analiso as insignificâncias com olhar de águia, sempre a procurar uma nova presa para o meu escrutínio. Pois é, investigar essa coisa estranha que é a vida me parece mais interessante do que vãs alegrias de um carnaval lisérgico, tropicalmente psicodélico.
E assim retorno para minha máquina de escrever pensando na possibilidade de uma expressão correta, apolínea para o meu desencanto com a festa caça-níquel da patuscada carnavalesca. Uma simples fórmula que descrevesse todo esse circo numa bela frase de efeito.
Bom, enquanto não atingir esse meu intento, seguirei no meu cantinho, apenas observando a batucada alheia no meu silêncio de anacoreta, com a certeza de que não me perdi de mim mesmo em uma acidez colorida ou no compasso do samba, essa música sem graça e tão dissonante quanto a ilusão dos que comemoram o carnaval.

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