Durante nossa prática clínica assistimos muito frequentemente a chegada de pessoas angustiadas por problemas antigos que não se resolvem, permanecendo como fantasmas a perturbar periodicamente a sua paz.
Estes quadros, que um dia iniciaram com sintomas simples, hoje habitualmente são de natureza bastante complexa, envolvendo diversos aparelhos orgânicos e quase sempre acompanhados de uma alteração emocional relativa à gravidade dos mesmos.
O que mais nos impressiona nestas ocasiões é a paradoxal sensação de impotência destes pacientes, pois quanto mais ricos são suas investigações e tratamentos passados, maior é a sensação de distanciamento da solução, maiores a ansiedade e a frustração.
Em nossa experiência temos notado que tais pacientes acabam por estar cada vez mais distanciados de si mesmos, esforçando-se para cumprir papéis protocolares com os quais intimamente não concordam, ou não compreendem. Embora respeitáveis, tais protocolos, nestes casos, acabam por não corresponder às necessidades destes pacientes, transformando-os em reféns de ditames equivocados.
Que fazer?
Raramente estamos dispostos a investir no entendimento das causas do que nos aflige. É muito mais cômodo aceitar rótulos e fórmulas imediatas, ‘garantidas’ e ‘infalíveis’.
Por isso, tanto médicos quanto pacientes acabam por adotar, automaticamente, posturas que deixam de lado os fatores mais importantes do tratamento destes casos complexos: aqueles que dependem do próprio paciente!
Desta forma, adotam-se protocolos coletivos que muito mérito possuem na condução biológica da cura. No entanto, tais protocolos comumente desconsideram a individualidade da estrutura psíquica do paciente, que, nestes casos, é um dos fatores desencadeantes e mantenedores, repetimos, mais importantes.
Dentre outras especialidades médicas, a Homeopatia é daquelas que primam por valorizar esta individualidade ao máximo. Quase toda sua fundamentação está embasada na compreensão da totalidade sintomática do paciente, abrangendo principalmente seus sintomas psíquicos pessoais, que possuem valor mais acentuado à medida que são mais característicos e incomuns.
Dentro desta formação, nossa experiência pessoal tem sido ainda enriquecida pelo cuidado em fornecer ao paciente não somente a medicação habitual, oriunda da boa prática clínica, mas também o acompanhamento para que o mesmo perceba e entenda como, se for o caso, suas características pessoais interferem em seu sofrimento. A seguir, temos também tido o cuidado de elaborar junto com o paciente as propostas de reconstrução e/ou modificação destes fatores pessoais.
A maior dificuldade que temos encontrado neste processo consiste na adequada mobilização da vontade, a fim de que tudo venha a acontecer. E percebemos facilmente que nenhum paciente irá investir em si mesmo se não houver uma razão suficientemente clara e significativa.
Por isso existe um grande número de pacientes que acabam por tornar-se inimigos de si mesmos, numa relação ambígua com sua doença e seu médico. Por um lado passam a conhecer suas patologias, convivem com elas e sabem quais são os hábitos ou outros fatores que a perpetuam; de outro lado sofrem pelo que foram instruídos a fazer ou modificar, sem a necessária motivação para isso. Entram em uma batalha interior angustiante, onde não sabem definir os vilões e os heróis.
Portanto, por necessidade, acabamos por investir na adoção daquilo que já é conhecido como processo de ‘aprendizagem significativa de si mesmo’. O termo, que é autoexplicativo, capacita e motiva o ser humano para a tomada de atitudes imprescindíveis ao seu próprio bem estar. Por técnicas relativamente simples de indução à auto compreensão, temos conseguido transformar o paciente em companheiro/parceiro do processo terapêutico, o que não é mágica alguma, mas potencializa as modificações necessárias de maneira acentuada.
Desta forma, o paciente, por definição, não é mais somente sujeito passivo, pelo contrário, torna-se muito ativo no processo de emancipação de si mesmo.
Frente a este desafio, é necessário conhecer e saber utilizar as ferramentas psíquicas disponíveis em cada caso, ensinando o paciente a manejá-las adequadamente para a reconstrução de si mesmo, superando aparentes limitações e alcançando patamares mais elevados de autocompreensão.
E esta emancipação é o resultado final que buscamos, sempre que possível.
SAIBA MAIS
Alexandre Eduardo W. U. F. Perez (CRM 86.576)
Clínica Geral e Homeopatia
Clínica Anima e Soma | Av. Cascata, 111
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