Vivemos num mundo em constantes transformações onde a tecnologia está presente, praticamente, em todos os processos da vida do ser humano. Se de um lado, ela oferece às pessoas mais agilidade, conforto e eficiência na realização dos processos, por outro tem implicado na mudança de comportamentos.
As ferramentas tecnológicas são cada vez mais utilizadas pelas pessoas, modificando a relação entre elas e passaram a integrar suas rotinas por auxiliar boa parte das tarefas, reduzir tempo e facilitar a comunicação.
Exemplificando, citamos o celular que tem sido transformado em uma “peça” tão necessária na nossa vida diária que, muitas vezes, ao esquecê-lo sentimos que deixamos uma “parte de nós”, de tão dependentes que dele nos tornamos. O fato de poder acessar por meio do celular, a qualquer instante as redes sociais, criou-se a ilusão de saber tudo e de todos.
Podemos dizer, ainda, que assim como a tecnologia traz facilidades e aproxima quem está distante, também pode afastar os que estão próximos e diminuir a qualidade da comunicação e o aprofundamento das relações.
A pessoa moderna, de vanguarda, deve sim estar antenada, conectada, plugada, acompanhando as redes sociais com a devida atenção, precaução, depuração, senso crítico, ético, moral, fazendo suas interpretações para estar presente no “aqui e agora” onde tudo acontece, e de forma consciente fazer suas escolhas e tomar decisões.
Para nos mantermos atualizados na era da informação, muito do tempo que utilizávamos no convívio social, nas conversas que tínhamos uns com os outros, nos bate-papos, no café amigo, no sentir a presença do outro – o calor humano -, passou a ser utilizado frente à televisão, ao computador, ao celular…
Com a internet vieram outras formas de comunicação: Twitter, Facebook, Instagram, Telegram, WhatsApp, etc., proporcionando menor contato entre as pessoas, afastando ainda mais o convívio entre elas. Muitas vezes, presenciamos amigos, parentes, reunidos numa sala, no bar, nas filas, trocando mensagens entre si pelas redes sociais, com pouca ou nenhuma interação física.
Outro dia, ao entrar em um consultório médico com aproximadamente dez pessoas, saudei-as com entusiasmado boa tarde, e, qual não foi meu desapontamento ao perceber que ninguém sequer levantou a cabeça e respondeu ao cumprimento. Todos estavam atentos, ocupados, lendo ou teclando nos seus celulares…
É essencial que tenhamos sabedoria para sabermos aproveitar os maravilhosos benefícios da tecnologia, mas que encontremos um ponto de equilíbrio para estarmos aptos e com disposição para oferecermos um “ouvido” amigo com o propósito de escutar o outro com sinceridade e interesse pelo seu bem-estar, entender, compreender, permitir que desabafe, sem dar conselhos, sem julgar, sem sentenciar.
Enfim, gerarmos oportunidades para acolher o outro objetivando trocar ideias, interagir, expor nossas percepções, experiências, fixar “olho no olho”, dar um “aperto de mão”, um “abraço amigo”, um aconchego, uma demonstração de carinho. Pois quando escutamos o outro, também aprendemos e crescemos com suas experiências.
É preciso que resgatemos o nosso papel de ser humano, e que saibamos fazer excelente uso dos recursos, quaisquer que sejam, com muita responsabilidade, ética e sempre em benefício próprio, do outro, da comunidade.
João Paulino Quartarola é administrador de empresas, especialista em psicanálise clínica e personal coach. O e-mail de contato é o jpquartarola@terra.com.br.