Era mais uma tarde de inverno naquela cidadezinha do interior do Paraná. Fazia um sol gelado na varanda da casa de Alberto, que estava sentado bem ao lado da entrada da porta da sala, a fumar lentamente um cigarro. Não havia viva alma na rua. Somente as árvores frondosas que balançavam e exibiam suas folhas, que caíam em frente ao portão.
Ele pensava no clima, na sua aptidão para a meditação durante aquela estação do ano. Alberto lembrava-se de vinte anos atrás, da época em que ainda tinha sonhos, como jovem beletrista que prometia ser, segundo diziam seus colegas de faculdade. Naquele tempo, Alberto e seus amigos escreviam contos, crônicas, poemas etc. e reuniam-se todas as sextas-feiras no bar da esquina do quarteirão universitário da cidade para trocar seus escritos e receber a observação crítica um do outro.
Eram ciosos com seus textos, mas aceitavam de bom grado a análise amistosa dos colegas. E bebiam em nome da literatura, da vida, da beleza, da juventude e do futuro, que lhes seria promissor, pois eram escritores portentosos, cujo talento haveria de ser reconhecido em breve, assim acreditavam.
Alberto se destacava no grupo de amigos, pois era o mais prolífero literato da turma. E ele escrevia para os jornais locais, sendo muito lido, tanto pelas moças quanto pelas senhoras. Os homens na banca de revista discutiam seus artigos. Não havia leitor na cidade que não conhecesse a verve de Alberto, o escritor, como também era conhecido.
Porém, o tempo foi passando, a faculdade de letras já era passado, e não era mais possível viver com tamanha instabilidade como na época de sua graduação. Prestou concurso para a prefeitura, foi aprovado como escriturário. O salário não era lá essas coisas, mas dava para Alberto viver confortavelmente em um bairro de classe média próximo ao centro.
Alberto já não era mais lembrado pelos seus escritos, os amigos foram embora, e tudo o que restou foram lembranças de antanho, na mesma localidade onde já brilhara e que hoje não era mais do que uma recordação.
Já eram seis e meia da tarde, uma neblina encobria toda a rua, de modo que Alberto só enxergava seu jardim. Pegou outro cigarro e acendeu. Seu pensamento continuava longe… uma mulher abriu o portão. Era Tânia, uma ruiva de trinta e seis anos com quem Alberto se encontrava esporadicamente. Não tinham nada sério. Era apena amor casual. Tânia trazia uma sacola com vinho e umas comidinhas. Os dois se beijaram calidamente.
Uma hora depois, deitado ao lado de Tânia, Alberto pensava em como a alma também tem suas estações. Olhava para a companheira, que adormecera, e sentia o calor da paixão. Ele relembrou o passado novamente, ao se defrontar com aquele belo corpo nu de sua amante, deixou de pensar na glória que teria como escritor, que nada se comparava à presença da mulher amada ao seu lado na cama.
O frio da estação já não gelava sua alma.
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