O que você vai ser quando crescer? Estrado de beliche… de pensão. Reto, na horizontal, em fatias. Daria no mesmo. Ao menos para mim. Um problemão a ser resolvido durante toda minha vida, uma vez que todo mundo já “é alguém ao nascer”. Mas a pergunta sugere que eu deveria ser alguém diferente, “fazer algo para ser alguém”.
Eis a origem de todo sofrimento. Uma tarefa árdua, desgraçadamente insolúvel. As sugestões são dadas por impulso, por dedução, baseadas em observações superficiais. “Ontem ele virou o peniquinho e começou a bater em cima. Certeza que dará para um bom baterista”. Pode vir a dar mesmo para o baterista, mas a hipótese é pura projeção de quem a fez.
A partir dessa infame pergunta há uma pressão assustadora que envolvera os seus dias. Pressão horripilantemente em estado crescente. E seu tempo de resposta ficará mais curto a cada dia. É necessário e urgente pensar no seu futuro. Poxa vida! Logo agora? Nesse estágio presente de ebulição hormonal? De descobertas incríveis sobre meu corpo? De prazeres libidosamente indescritíveis só de toca-lo?
Mas isso é desvio de foco. A religião cairá super bem no trabalho da poda com tesouras do pecado. As reações naturais com as quais você nasceu serão agora geridas por uma instituição acima de qualquer questionamento. É momento de se limpar da luxúria e pensamentos imorais. Essa “selvageria pecaminosa” está com os dias contados. Ou… segue viva pelas sombras sem ser contada para ninguém.
É imprescindível ser “alguém na vida”. Em casa, na escola, na igreja, na mídia, por onde olhar haverá modelos a serem seguidos. Você só precisa escolher um. Uma bailarina, um jogador de futebol, um apresentador de TV, ou até mesmo o seu primo que está no exterior fazendo mestrado. Quem sabe um curso do SENAI? Ou até mesmo um concurso público?
Hummmm!! Então ser alguém está ligado à minha área de atuação? Pois bem, vamos criar um avatar para um esplendoroso espetáculo social, ora bolas. Porém, a complexidade em desenvolver minhas habilidades individuais diante de um ensino modelador e plastificante é estressante.
Em um determinado momento da vida você irá sentir uma fatigante insatisfação. Uma nauseante e claustrofóbica vontade de ser… sendo!
E aqui se bifurcam diversas estradas. Drogas, bebida, carola, cleptomania, tiques, compulsões, ou seja, uma infinidade de neuroses para fugir. É um impulso, uma válvula de escape. O aperto do laço em volta do pescoço e a dose para afrouxar ao menos por alguns instantes. Cabe pensar sobre o que dizer a um suicida. Ele quer matar o avatar criado e não a si mesmo.  A história é comum a todos, mas única para cada um. Portanto, esteja 100% bem e, então, reveja novamente se você sabe o que irá dizer a essa pessoa.
Temos uma alternativa aceitável para quem ainda não tem as respostas. Uma consulta médica e pronto. A indústria farmacêutica tem a solução legal para coisa toda. Limparam do mapa os “bruxos” que conheciam na natureza chás, banhos e diversos meios de trazer o conforto para alma e a desnecessidade de resposta. E para obter seu intento usam os médicos como vendedores de suas fórmulas.
Entediante? Concordo. Mais fácil seria saber disso antes mesmo da pergunta. Teria sido fácil com um manual do usuário não é mesmo? Mas se conectou algo em você, cabe rever o que se foi até agora, ajustar o foco e recomeçar. Afinal de contas, o que fez foi seguir do jeito que pode, aos ensinamentos apresentados. Aos pais o reconhecido perdão, pois semeiam como certo o incerto que aprenderam com seus pais.
A satisfação da vida não se encontra no acúmulo de bens, mas na divisão. É a contribuição como um ser social em sociedade. Do individual para o coletivo e não o inverso disso. Um processo de construção, de cooperação, fazendo a magia acontecer.
A maneira vigente de existir deixa de ser funcional. Percebemos uma nova geração chegando e assumindo sua própria vocação. Nascemos todos prontos para um determinado papel. Se não o fizermos, não encaixaremos as peças. Saiba que cada um de nós tem um papel importantíssimo, inclusive você. Engraxando sapatos, vendendo perfumes, gerente de bancos, catador de latinhas, desde que isso tenha sentido, que lhe faça bem.
Nunca será por grana. Nunca será pelo curso de TI ou de Segurança Patrimonial. Mas, antes de tudo, ouvir a si mesmo. Saber que, para perguntas pessoais, respostas pessoais. Entender que aquela “ideia maluca” tinha razão de ser. Só você a teve. Era para você. E coisas pessoais não se dividem com ninguém, apenas fazemos. Isso é fé. Fé em si mesmo. Você intuído pelo que veio fazer, com você e apenas pelo prazer individual de fazer.
Aprovação? De quem? Não entenderão. Darão qualquer resposta, criticas, enquanto procuram saber o que ser enquanto ainda não crescem.
 
Ozzy Issor é radialista e apresentador de tevê. Contatos pelo ozzymadra@msn.com.

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