Lendas, mitos e religiosidade
As mamas, ao longo da história, já foram símbolos de fertilidade, espiritualidade, bem como de magia e força. Inspiraram tantas lendas, narrativas e denotaram padrões dominantes em diferentes épocas e sociedades. Incontestavelmente, porém, sempre foram e serão representação da feminilidade e da autoestima das mulheres.
 
Laço cor de rosa
Em 1982, a norte-americana Nancy Brinker criou a Fundação do Câncer de Mama Susan G. Komen, uma instituição embasada em uma promessa feita à sua irmã, Susan, que faleceu dois anos antes lutando contra o câncer de mama.
Em 1991, em Nova York, nos EUA, realizou-se a primeira “Corrida pela Cura”, através da fundação Komen, onde todos os participantes receberam um laço cor de rosa. Nascia-se então o símbolo do esforço ao combate contra esta doença. A partir daí, entidades de outras cidades do país passaram a celebrar e fomentar ações voltadas à prevenção do câncer de mama, surgindo a expressão “Outubro Rosa”, em referência à cor do laço.
 
Por que tantos holofotes voltados para dar destaque a uma única doença?
O câncer de mama é o mais comum em mulheres, atrás apenas do câncer de pele não melanoma, representando aproximadamente 24% do total de casos de cânceres femininos no mundo. Estima-se que em 2018 foram diagnosticados 2,1 milhões de casos novos, correspondendo a principal causa de morte por câncer em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil. 
 
Fatores de risco
História familiar de câncer de mama ou ovário e mutações genéticas (BRCA1, BRCA2, P53, PTEN, entre outros) estão associados a cerca de 10% dos casos diagnosticados. Na maior parte dos casos não há relação genética, sendo estes chamados de esporádicos. Obesidade, sedentarismo, tabagismo, alcoolismo, menarca precoce e menopausa tardia são fatores sabidamente relacionados a uma maior incidência desta patologia.


 
Quanto antes, melhor
O diagnóstico precoce está associado a maiores chances de cura e com a possibilidade de tratamentos menos agressivos, como menor necessidade de quimioterapia, radioterapia e com uma recuperação mais rápida.
 
Por que realizar a mamografia?
O rastreamento mamográfico anual está relacionado a uma redução de 30% na mortalidade por esta doença, devendo ser realizado anualmente, a partir dos 40 anos, como preconizado pelas Sociedades Brasileiras de Mastologia, Radiologia e Ginecologia, bem como pela Sociedade Americana de Cirurgiões da Mama. É capaz de diagnosticar lesões pequenas relacionadas a cânceres em estágio inicial, antes de se tornarem palpáveis.
 
E a ultrassografia mamária?
O US é amplamente indicado para complementação do estudo mamário, tendo especial papel em pacientes jovens e com mamas densas. Tem a capacidade de diferenciar lesões císticas das sólidas e é bastante eficiente no manejo de biópsias e punções mamárias.
 
Quando associar a ressonância magnética das mamas?
A ressonância magnética é hoje a ferramenta diagnóstica com maior sensibilidade para a caracterização de lesões mamárias. Apesar de não entrar no rastreio populacional geral, tem suas indicações precisas: pacientes consideradas de alto risco para o desenvolvimento de câncer de mama têm indicação da associação da RM no rastreamento. Outras indicações seriam:

  • Mamas densas, as quais podem limitar a caracterização de lesões pelos métodos padrões (mamografia e US);
  • No estudo de lesões com diagnóstico já estabelecido de malignidade, dando sua topografia exata na mama, o que facilita o cirurgião, notadamente em cirurgias conservadoras, nas quais seja possível retirar somente a área acometida;
  • Auxilia a avaliação exata da extensão das lesões malignas, bem como a eventual caracterização de outras lesões na mesma mama ou na mama contralateral;
  • Melhor método para avaliar implantes mamários de silicone com suspeita de rupturas.

 
O tratamento e a cura
Atualmente, as chances de cura para o câncer de mama precocemente diagnosticado são bastante altas, chegando a mais de 95%. Cirurgias cada vez menos agressivas, reconstruções mamárias e drogas muito eficientes já fazem parte do nosso cenário nacional, contribuindo para um tratamento altamente eficaz, com preservação da beleza e da autoestima das mulheres.
Por isso, não espere até Outubro chegar. O laço cor de rosa deve ser acessório essencial em todos os meses do ano.

Mariana Oliveira Porto Brenelli (CRM 133349) é médica radiologista membro titular da Sociedade Brasileira de Radiologia com especialização em Radiologia e fellowship em Medicina Interna, com ênfase em Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética e PET CT; fellowship em mama, com ênfase em Ressonância Mamária.
 

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