Por Mariana Roncari
 
Com o intuito de formar seres humanos criativos, autônomos e livres, a pedagogia Waldorf completou, em setembro, a marca dos 100 anos. Concebida pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), é considerada como um dos métodos de ensino que mais cresce no mundo, sendo o único presente em todos os continentes e em todos os estados brasileiros.
Em Marília, a iniciativa de instalar o ensino fundamental Waldorf surgiu há cerca de três anos, com um grupo de pais com filhos matriculados em escola de ensino infantil Waldorf. O projeto se concretiza agora, em 2019, com início das atividades em 2020 na Escola Jequitibá Rosa.
“Desejávamos, além de proporcionar continuidade na educação dentro dessa mesma pedagogia, também proporcionar essa experiência para outras crianças e famílias da cidade”, explica Ana Elídia Torres, psicóloga, professora de psicologia da UNIMAR e uma das mães idealizadoras da nova escola Waldorf em Marília.
O modelo, inédito, foi constituído como associação de pais. “Não visamos o lucro. Buscamos dividir os custos, como de manutenção do espaço e remuneração dos profissionais envolvidos, para assim garantirmos a formação de nossos filhos dentro de um modelo educacional que consideramos como sendo o melhor para eles”.
Na região há diversas instituições que adotam esse modelo há décadas. “Em cidades próximas, como Bauru, Botucatu e Ribeirão Preto, temos escolas Waldorf que oferecem aulas até o ensino médio. Fui aluna Waldorf até o terceiro colegial e, na minha sala, todos os alunos passaram direto em vestibulares para universidades públicas”, pontua Ana. “Por essas e tantas outras razões, decidimos dar o primeiro passo para construir a Jequitibá Rosa, primeira escola Waldorf de Marília a oferecer o ensino fundamental – e com planos futuros para chegar também até o ensino médio”, completa.


 
FOCO NO DESENVOLVIMENTO PESSOAL
Apesar de citar o vestibular, Ana pontua que o foco da pedagogia Waldorf não está voltado para esse tipo de exame. “Mais do que meramente informar e treinar para eventuais futuras disputas em vestibulares ou no campo profissional, cabe à escola assumir uma tarefa verdadeiramente formativa e incentivadora das reais aptidões de seus alunos”, descreve.
“Esse modelo de educação entende que precisamos formar seres humanos para serem livres, mas antes é preciso aprender a ter essa autonomia, desenvolver a autoconfiança e, a partir de então, estar preparado verdadeiramente para tomar suas próprias decisões – e não simplesmente repetir ações de outras pessoas”.
Com formação humanista, a escola Waldorf amplia o currículo convencional. Além de todas as disciplinas comuns, estabelecidas pelo MEC, traz atividades como música, jardinagem, habilidades manuais e até mesmo euritmia – uma forma de arte antroposófica, também desenvolvida por Rudolf Steiner e sua mulher, Marie Steiner-von Sivers. Por meio dessas e outras atividades, o ensino busca munir as crianças com recursos para enfrentar medos, conhecerem melhor suas habilidades e potencialidades e, assim, formar indivíduos em sua integralidade, mais resilientes e preparados para os desafios que virão na vida adulta.
“A pedagogia Waldorf na medida em que busca uma formação integral de seus alunos, não os preparam apenas para uma prova como o vestibular baseado na memorização, mas sim permite desenvolvimentos de outras habilidades e competências que acompanham toda a vida do estudante. A título de ilustração, em pesquisa realizada por um professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro intitulada ‘Como vivem os alunos Waldorf’, o índice de desemprego foi cinco vezes menos frente ao índice geral”, ressalta.
 
CONSELHO
A escola Jequitibá Rosa está organizada na forma de associação. Sem fins lucrativos, reúne os pais interessados na formação dos filhos dentro de uma pedagogia presente em mais de 65 países, sendo 95 escolas no Brasil.
Dessa forma, ao matricular seu filho na escola, os pais já são parte dessa associação. No entanto, participar mais ativamente é uma decisão pessoal de cada família.
As decisões adotadas na rotina escolar ocorrem de forma colegiada – há um conselho de pais, a própria associação e ainda a comissão pedagógica, constituída pelos professores, responsáveis por definir questões de ordem técnicas.
“Os pais podem, inclusive, auxiliar na construção da escola. Temos, por exemplo, pais ajudando a confeccionar as carteiras para a sala de aula. Além disso, temos também a tutoria, com um profissional da área da educação que vem diretamente da Federação das Escolas Waldorf do Brasil para participar do nosso cotidiano. E contamos ainda com a supervisão da Federação, que nos acompanha uma vez por mês”, detalha. “Para decidirmos as ações da escola, as comissões se reúnem para ponderar questões de acordo com suas competências – tudo isso com supervisão da Federação”.


 
COTIDIANO ESCOLAR
A pedagogia se vale de conceitos como o afeto para incentivar a aprendizagem e o desenvolvimento emocional. Outro aspecto relevante é o respeito à singularidade de cada aluno. Isso é visto na prática em diversos momentos do dia a dia, como, por exemplo, a ausência de uniformes escolares. “Cada criança é única, por isso não acreditamos que devam se vestir da mesma forma”.
Elas também são cumprimentadas individualmente pelo professor da classe – que os acompanha do 1º ao 5º ano, conhecendo as dificuldades e potencialidades de cada um. As reuniões escolares também acontecem de forma privada, sendo entre o professor e os pais de cada aluno, apenas.
Na grade escolar, há as disciplinas tradicionais e outras que foram julgadas fundamentais para atingir os objetivos dessa educação, junto a um espaço que contribui para a sensação de liberdade e também a possibilidade de experienciar o conhecimento.
O acesso ao parque é livre. Ele não é um espaço de recreação, mas sim parte do cotidiano da escola, um aspecto bastante diferenciado quando comparado com outras metodologias. “Há muita disciplina na escola visando preparar os alunos para lidar com os problemas do cotidiano. Dessa forma, formamos também indivíduos para exercer suas liberdades”, explica Ana.
A escola também tem especial atenção com o desenvolvimento motor das crianças, que ocorre de maneira mais importante no período até os 7 anos de idade. São oferecidas atividades que desenvolvem habilidades manuais – como o uso de um giz de cera chamado de “tijolinho” devido ao seu formato, desenvolvido especialmente para trabalhar o aspecto motor. “Tudo é pensado para que a criança desenvolva uma maior quantidade de capacidades físicas e mentais”.
Com opções menos óbvias, a escola oferece brinquedos feitos de pano e madeiras, que além de não serem descartáveis, buscam trabalhar a criatividade dos pequenos. Também estão presentes no currículo as festividades, como celebração das estações, que buscam desenvolver o autoconhecimento a partir de características próprias de cada uma delas – como o despertar na primavera, a energia no verão e o recolhimento no inverno. A alimentação é um dos outros pontos de destaque na escola, que prioriza opções naturais, não industrializadas, além de aproximar a criança do alimento ensinando-as a preparar seus próprios pães em aulas especiais.
“O currículo de uma Escola Waldorf acompanha e respeita o tempo de crescer. O conteúdo é transmitido de acordo com a fase de desenvolvimento em que o aluno está, de modo que ele possa reconhecer dentro de si as experiências para as quais está pronto a viver. Ao entrar para a escola, a criança muito pequena é estimulada pela curiosidade, alcançando pouco a pouco o domínio da linguagem, da escrita, dos números e das ciências. Combinando ações para pensar, sentir e agir, a pedagogia Waldorf busca formar indivíduos de forma integral, preparados para os desafios do mundo contemporâneo”.
 
SAIBA MAIS
Com capacidade inicial para 100 alunos do maternal, ensino infantil e fundamental, a Escola Jequitibá Rosa oferece os períodos matutino, vespertino e integral. O endereço é Rua Roque Raineri, 480 – Chácara dos Laranjais. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone ou WhatsApp (14) 99673-2725.
Facebook: EscolaJequitibaRosa
Instagram: @escolajequitibarosa
 

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