Experiências de quase morte podem ter consequências psicológicas que rompem certezas existenciais, revela pesquisa realizada na USP
Experiências de quase morte podem ter consequências psicológicas que rompem certezas existenciais. Resultado: alteram o fluxo da “vida normal” na mente dos sobreviventes. É o que revelou um estudo conduzido pela pós-doutoranda da Universidade de São Paulo (USP) Beatriz Ferrara Carunchio, segundo o G1.
Para quem tem pressa:
- Beatriz Ferrara Carunchio, pós-doutoranda da USP, constatou que experiências de quase morte podem alterar profundamente a percepção da realidade dos sobreviventes, afetando suas certezas existenciais e modificando o curso de suas vidas;
- O estudo aponta para a existência de experiências positivas e negativas durante episódios de quase morte, destacando características como a experiência fora do corpo, encontros com entidades e sensações de paz, bem como angústia e medo;
- A pesquisa revelou que a natureza da situação de risco à vida influencia significativamente o tipo de experiência de quase morte, com variações entre pacientes sob efeito de substâncias, aqueles com paradas cardiorrespiratórias e indivíduos em situações de risco súbito;
- As descobertas enfatizam a necessidade de compreender como as experiências de quase morte afetam a recuperação e reintegração dos indivíduos ao cotidiano, sugerindo a importância de abordagens terapêuticas sensíveis a essas experiências profundas e transformadoras.
Para chegar a essa conclusão, Beatriz analisou relatos coletados por ela durante sua pesquisa de doutorado, realizada na PUC-SP. A pesquisadora tocou seu pós-doc no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, vinculado ao Instituto de Psicologia da USP.
Experiências de quase morte e suas sequelas
Experiências de quase morte (EQMs, para facilitar) são descritas como eventos psicológicos intensos com características transcendentais e místicas. Elas ocorrem em momentos de proximidade com a morte (daí o nome) ou em situações de extremo risco físico ou emocional.
O estudo, publicado na Revista Rever, da PUC, indica que a maioria das EQMs leva a experiências positivas de paz e serenidade. No entanto, a pesquisa aponta a existência de um subset significativo de experiências perturbadoras, caracterizadas por sensações de angústia, medo e desconforto. Essas experiências contrastam com os relatos mais comuns de acolhimento e contentamento, o que evidencia a diversidade dos impactos psicológicos das EQMs.
Entre as características comuns dessas experiências, citadas por Beatriz, estão a experiência fora do corpo, atravessar um túnel, consciência de estar morto, paz e serenidade, revisão da história de vida, encontros com entes queridos falecidos, visitas a outros planos e encontros com uma luz brilhante intensa. Esses elementos variam entre experiências agradáveis e perturbadoras.PUBLICIDADE
A pesquisa de Beatriz envolveu 350 pessoas no Brasil, revelando que 14% dos pacientes em geral e 51% daqueles em risco de morte tiveram EQMs. A natureza da condição de risco impactou significativamente o tipo de experiência de quase morte vivenciada pelos pacientes. Além disso, diferentes condições levaram a diferentes tipos de EQM.
Tipos de experiências
Pacientes sob efeitos de substâncias como álcool, drogas ou medicamentos, por exemplo, tendem a relatar experiências com aspectos confusos ou bizarros. Por outro lado, pacientes que sofreram paradas cardiorrespiratórias frequentemente relatam experiências fora do corpo, enquanto aqueles expostos a riscos de morte súbitos, como em acidentes, têm prevalência de elementos cognitivos como revisão da história de vida.
O estudo lança luz sobre a complexidade das EQMs e sugere a necessidade da compreensão mais aprofundada sobre como essas experiências influenciam a recuperação psicológica e a reintegração à vida cotidiana dos indivíduos que as vivenciam. Alguns relatos dos sobreviventes estão disponíveis no G1.
As descobertas de Beatriz Carunchio destacam a importância de considerar as EQMs dentro do contexto de tratamento e recuperação de pacientes que enfrentaram situações nas quais quase morreram. A pesquisa abre caminho para abordagens terapêuticas mais sensíveis e informadas sobre essas experiências profundas, transformadoras e, às vezes, perturbadoras.
Por Pedro Spadoni