Certas proteínas de bactérias podem desencadear diabetes tipo 1 em pessoas com um gene específico, revela estudo

Imagem: gerada por inteligência artificial (Dall-E)/Nayra Teles

Existe uma parcela da população com predisposição genética para diabetes tipo 1 que nunca chega a desenvolver a doença. Uma das hipóteses que explicariam esse fenômeno é a de que fatores ambientais poderiam desencadeá-la. Cientistas da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, encontraram evidências de que uma infecção bacteriana pode ser esse gatilho.

O estudo também evidenciou uma relação entre a infecção bacteriana e um gene específico presente em um grupo pequeno de pessoas. A pesquisa foi publicada na revista The Journal of Clinical Investigation.

O que pode originar diabetes tipo 1?

  • O diabetes é caracterizado pela incapacidade do organismo de produzir ou absorver insulina de forma adequada.
  • Esse hormônio permite a entrada da glicose nas células. Sem ele, a glicose se acumula no sangue, elevando perigosamente os níveis de açúcar no organismo.
  • Em estudos anteriores, a perda de insulina foi associada as células T assassinas, uma classe de glóbulos brancos que atacam células infectadas por patógenos.
  • As células assassinas parecem causar diabetes ao destruir as células beta — produtoras de insulina.
  • O comportamento parece ser ativado por proteínas de bactérias conhecidas por infectar humanos, como a Klebsiella oxytoca.
  • Nos novos experimentos com células doadas por não diabéticos, os cientistas descobriram que, após entrar em contato com essas proteínas, as células T podem matar células beta por engano.
  • As células T ativadas pelas bactérias também foram encontradas no sangue de pessoas com diabetes tipo 1, sugerindo que, talvez, essa infecção seja um gatilho para a doença.
Resumo gráfico do estudo – Imagem: The Journal of Clinical Investigation

Esse é o caso de um grupo específico de pessoas

Então, a infecção por Klebsiella oxytoca pode desencadear diabetes em qualquer pessoa? Bem, não é exatamente assim. O estudo também relacionou a atividade a um gene chamado antígeno leucocitário humano (HLA), um sistema de proteínas presentes em nossas células que ajuda a diferenciar organismos invasores.

Segundo Lucy Jones, autora do estudo, um grupo pequeno de pessoas possui a versão desse gene que está associada à ativação de células T.

O HLA específico associado à infecção bacteriana que desencadeia diabetes está presente em apenas cerca de 3% da população do Reino Unido. Então, os patógenos bacterianos que podem gerar células T anti-insulina são causados por uma infecção rara em uma pequena minoria de pessoas. 

Jones em artigo publicado no portal da Universidade de Cardiff.
Amostra de uma Klebsiella oxytoca – Imagem: Shutterstock

Novas maneiras de tratar a doença

Cada pequena descoberta sobre uma doença abre uma série de possibilidades para tratamento e prevenção. No caso do novo gatilho encontrado para diabetes tipo 1, espera-se que entender os mecanismos que originam o problema possa ajudar a diagnosticar e tratar a condição antes do início dos sintomas.

Tratamentos precoces podem proteger as células pancreáticas saudáveis antes de serem destruídas, afirmou Garry Dolton em artigo publicado no portal da Universidade de Cardiff. Embora ainda não haja cura para diabetes tipo 1, entender suas causas pode levar a novos tratamentos, evitando complicações futuras.

Nayra Teles / Olhar Digital

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Infecção bacteriana pode ser um gatilho para diabetes