As mudanças climáticas representam uma séria ameaça para que o agronegócio brasileiro mantenha os atuais níveis de produtividade e a liderança da exportação de commodities agrícolas. Eventos extremos de seca em regiões onde está concentrada a produção agropecuária no país, causados pelo aquecimento global, podem afetar, por exemplo, a segunda safra de milho, conhecida como “safrinha”, que ocorre de janeiro a abril na região Centro-Sul do país, após a safra de verão.
As conclusões são de um estudo liderado por pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que integram um projeto apoiado pela FAPESP no âmbito de um acordo de cooperação com o Belmont Forum.
Alguns dos resultados do trabalho foram apresentados durante o seminário on-line “Impactos das mudanças climáticas na sociedade brasileira – A ciência focada em soluções produzidas pela cooperação FAPESP-Belmont Forum”, realizado no dia 16 de junho pela Fundação em parceria com o consórcio que reúne algumas das principais agências financiadoras de projetos de pesquisa sobre mudanças ambientais no mundo.
“Dentre todos os cenários que rodamos para estimar os impactos que diferentes processos biofísicos e humanos podem ter na produção agrícola do país, os relacionados às mudanças climáticas foram os que produziram os maiores efeitos”, disse Mateus Batistella, pesquisador do Nepam-Unicamp e da Embrapa Informática Agropecuária.
Em colaboração com pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e China, os pesquisadores do Nepam formaram um consórcio de pesquisa, batizado de “Consórcio Telecoupling”, com o objetivo de estudar como interações socioeconômicas e ambientais entre sistemas naturais e humanos acoplados, como é o caso dos processos de produção e fluxo de commodities agrícolas, podem afetar a segurança alimentar e a dinâmica de uso da terra.
Para isso, desenvolveram modelos que representam o comércio internacional de commodities agrícolas, especialmente soja e milho, entre países produtores – como é o caso do Brasil e dos Estados Unidos – e importadores, como a China, além de cenários para estimar os efeitos de processos socioeconômicos e ambientais em escalas nacional e internacional.
No caso do Brasil o foco foi em 10 estados da região Centro-Sul, responsáveis pela produção de mais de 80% da soja e do milho cultivados no país, como Mato Grosso.
As projeções de mudanças na precipitação e na temperatura na região, elaboradas com base nos cenários RCP 4.5 e RCP 8.5 da Plataforma Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), indicaram impacto na segunda safra de milho.
“Eventos extremos de seca representam um risco importante para a manutenção de um ciclo bem-sucedido da agricultura brasileira. Para diminuir essa vulnerabilidade, instituições de pesquisa, como a Embrapa, estão se dedicando a desenvolver variedades de milho mais tolerantes à seca, por exemplo”, disse Batistella.