Artigo por Marcos Kopeska

Quando a sociedade aborda a expressão “crise de masculinidade” não se diz respeito a heterossexualidade, gênero ou estilo machista, mas à postura. Não se refere a preconceitos ou a retroalimentação de afirmações religiosas, nem de resposta ao movimento feminista. Trata-se de uma lacuna cada vez maior na nossa sociedade pós moderna. Trata-se da busca da nova definição do que é de fato, a figura masculina no século XXI. Entre tantas mudanças velozes de conceitos, acabamos por perder as orientações que a nossa boa professora chamada “História Geral” lega. O Bispo Dom Thomas Olmsted (EUA) escreveu o documento ‘Into the Breach’ – ‘Firmes na Brecha’ – sobre a masculinidade, no qual afirma que “pela primeira vez na história o ser humano está tão confuso, ou tão arrogante, que busca determinar por si mesmo sua própria masculinidade e feminilidade.” Talvez seja importante compreendermos o conceito distorcido do que é um homem, para então construirmos uma proposta. Em primeiro lugar, um homem não é um barril ambulante, cheio de testosterona misturada com adrenalina. A figura do troglodita, que bate na esposa e xinga no trânsito está distante de ser a figura de homem, na integralidade. Aliás, a psicologia já definiu este comportamento como “masculinidade tóxica”. Em segundo lugar, um referencial masculino não é um líder dominador ou impositor, que ao final de qualquer discussão deixa posicionamentos irrefutáveis e se infla de “razões”. Esta é, no máximo, a figura que tenta usurpar liderança com o mecanismo da arrogância. Alguns estudiosos o chamariam de “macho alfa”, fazendo analogia às matilhas de lobos. Em terceiro lugar, a masculinidade não tem relação com exibicionismo de conquistas sociais (mulheres, carrões, viagens, ascensão financeira ou esperteza). Este é o narcisista, que dependendo da sua dose de “autodivinização”, se expõe ao ridículo. Então, o que espera-se de um perfil masculino para nosso tempo? Nas culturas milenares, inclusive no contexto bíblico, a função de educar, historiar, orientar e cabia ao homem. O Pr. Isaltino G. C. Filho escreve que “as marcas dos pais ficavam nos filhos. Jacó falava do Deus de seu pai e do seu avô (Gn 31.42). Deus se apresentou a ele como o Deus de seu pai e de seu avô (Gn 28.13). O pai era o referencial de educação, religião, cidadania e profissão. No Novo Testamento, Simão Cireneu carregou a cruz de Jesus à força (Mt 27.32), mas tornou-se um dos líderes da igreja (At 13.1). Ele transmitiu à família a cruz que lhe obrigaram. Seus filhos e esposa foram ajudadores de Paulo o apóstolo, vinte anos depois (Rm 16.13).” As narrativas bíblicas não diminuem nem depreciam a mulher, mas os homens eram marcantes. Hoje, como disse Scott em “Traçando um perfil masculino cristão”: “O modelo americano contemporâneo de masculinidade consiste basicamente de personalidades patéticas, figuras esportivas imorais, estrelas de cinema e músicos de rock”. Faltam modelos aos jovens de hoje. Eles imitam o corte de cabelo de Neymar, os trejeitos de funkeiros, os maneirismos de pessoas vazias e as gírias dos medíocres. Dirão que é próprio do adolescente. Faz parte de sua faixa etária, sim. Mas os homens deveriam ser pessoas marcantes, a ponto de serem referenciais para a próxima geração e ocuparem algum lugar entre as figuras emblemáticas citadas. Mas agora, aterrissando na realidade… Como entender esta química que une elementos como firmeza e gentileza? Como ter atenção com as “macrodilemas” (profissão, empreendimentos e sociedade) e os “microdetalhes” (filhos pequenos, supermercado e lazer) ao mesmo tempo? Como ser um líder e servo simultaneamente? Um biógrafo de Abraham Lincoln o descreveu como sendo um homem de aço e de veludo. Por este viés, C.S. Lewis, filósofo inglês do século XIX, escreveu sobre “dois impulsos opostos que normalmente são encontrados em indivíduos diferentes – bravura e gentileza – e que formam a síntese ideal na figura do cavaleiro medieval e seu código de cavalheirismo. Se uma dessas inclinações dominasse por completo, perder-se-ia o equilíbrio necessário para uma autêntica masculinidade. Força e poder sem benevolência, por exemplo, resultariam em um homem bruto. Ternura e compaixão sem a firmeza masculina produziria um homem sem tino para liderar e inspirar.” Manter o equilíbrio entre os impulsos de poder e agressão e a necessidade de ser gentil e compassivo é um desafio para os homens. Numa época de confusão de papéis e prolixidade social-espiritual como a nossa – onde os violentos ameaçam e os gentis se omitem – é preciso termos modelos que inspirem os homens a canalizar sua agressividade para propósitos construtivos, bem como instigar os inertes. A metáfora do cavaleiro medieval tem seu valor por estimular a imaginação, com seu código de honra e seu chamado à coragem. Que Deus nos ajude a manter a balança em tempos de extremos tão ostensivos.

Marcos Kopeska é pastor da 3ª Igreja Presbiteriana Independente de Marília, graduado em teologia e pós graduado em terapia familiar. É escritor e palestrante.

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A crise de masculinidade e o cavalheirismo