Recentemente, eu e o Dr. Guilherme Falcão, psicólogo amigo, aceitamos o desafio de uma editora para pesquisarmos e editarmos um texto sobre depressão e suicídio em razão dos crescentes índices destes males que chegam a configurar, segundo a OMS, como epidêmicos. Seria uma abordagem cruzando teologia e psicologia, afim de orientar famílias e dar suporte aos conselheiros voluntários das igrejas.
Interessante é que algumas conclusões improváveis pareciam estar muito escondidas no mais profundo desta intrincada Caixa de Pandora. Pois bem, é fato que todo ser, em potencial, é defensor da vida. Entre nós, humanos, há um tino natural de proteção desta tão particular e insubstituível história de existência, que vai do choro da maternidade ao dos amigos em torno do corpo inerte de quem deixou um legado.
Mas esta vocação instintiva dos humanos parece estar perdendo o valor. A vida do próximo parecia já não ter tanta valência, visto que somos a única espécie que mata o seu semelhante, o que já era assustador desde que Caim teve seus cinco minutos de besteira.
Agora desponta outra questão mais complexa ainda que nos atordoa: “Por que razão a vida está perdendo o valor para estas 800 mil pessoas por ano – no mundo – que decidem interromper suas próprias histórias?” ouPor que a taxa de adolescentes brasileiros que não tiveram forças para viver aumentou 24% nos últimos dez anos?
Esta indagação queima a pestana de alguns sisudos países europeus há vinte anos mas, estranhamente, a nossa simpática nação do futebol, carnaval e praias paradisíacas passou a fazer, de 2018 em diante, as mesmas interrogações. O que está destruindo este instinto intrínseco do ser, o sonho de viver? Por que, para tantos, a vida está valendo menos a cada ano? Por que o existir se tornou um fardo insuportável para tanta gente?…
Respostas válidas, mas simplistas, permeiam todos os ambientes: “É a família desestruturada… É a falta de Deus no coração… É a ganância pelos bens materiais… É o estresse coletivo… É a tecnologia…”  Um pouco de cada, mas nada conclusivo, assim como é inconclusivo o meu feedback. Aliás, apenas uma reflexão para somar àquelas.
As crianças desaprenderam a chorar o lamento da tristeza e quando choram, é por pura birra. Chorar lágrimas sentidas é algo que fazemos com naturalidade desde que começamos a respirar. A tristeza é didática.
Aliás, basta um menino ficar triste dois dias e o pai se desespera: “Meu filho está com depressão”. Dias de melancolia fazem parte das etapas do existir (que se pese o fato de haver sim, a doença, clinicamente identificada como depressão). Ora, se a vida começa com choro e termina com choro, por que razão abafá-lo como se fosse um mal?
Um modesto apelo: seja um pai ou uma mãe presente, sem ser superprotetor. Não ensine as crianças a fugir dos infortúnios, mas ajude-os a tirar proveito deles. Ensine-os a aguardarem até o Natal para receberem o presente, administrando a espera sem crise de ansiedade. Conte-lhes as histórias de como as coisas foram difíceis para os avós. Indique-lhes filmes que lhes façam refletir a vida e valorizá-la.
Não exija perfeição ou sucesso, mas deixe-os viver cada fase da infância sem esperar que sejam crianças prodígio. Elogie os dons e talentos dos filhos, sem no entanto enaltecê-los. Leve-os junto com você a velórios e hospitais. Não os proteja de verem a vida como ela é. Talvez neste viés esteja uma boa interpretação para as palavras do sábio Salomão em Eclesiastes 7.3: “Melhor é a mágoa do que o riso, porque a tristeza do rosto torna melhor o coração”.
Francesca Broccoli, psicóloga e psicoterapeuta italiana, no artigo Filhos Superprotegidos, Adultos Frágeis, afirma: Privar as crianças da possibilidade de enfrentar desafios e correr riscos pode ter consequências a longo prazo. As crianças que não puderam experimentar, conhecer a si mesmas e os seus próprios limites serão pessoas frágeis, com pouca autoestima. Recordemos, para começar, que ser sempre protegido significa ser desvalorizado e não reconhecido como adequado, capaz e competente”.
 Precisamos ensinar que os descompassos da existência na verdade são compassos da grande e bela peça musical chamada vida. Sem eles a arte seria incompleta. Que Deus abençoe a galerinha da nossa descendência!
 
Rev. Marcos Kopeska é bacharel em Teologia, pós graduado em Terapia Familiar Sistêmica, pastor da 3ª Igreja Presbiteriana Independente, apresentador do Programa Vida em Gotas (TV Cidade – canal 9) e escritor.
 

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