É meia-noite. Lima desperta com dor de cabeça.
– Maldição! Não aguento mais não beber! Preciso ficar “sóbrio” – conclui o homem.
Lima dirige-se ao bar da esquina:
– Uma cachaça, por favor.
– É pra já – diz o dono do boteco.
– Ah, que delícia! Estou me sentindo “sóbrio” com essa pinga!
Nosso personagem sofre de uma doença rara: alcoolismo às avessas. Quanto mais ele bebe, mais sóbrio ele se sente.
– É que preciso me desintoxicar da realidade – justifica-se o ébrio.
– Entendo perfeitamente a sua condição, meu caro Lima. Todos nós buscamos uma fuga.
– Então me deixe beber em paz, cronista de uma figa!
– Acalme-se, rapaz! Estou apenas introduzindo você no texto, não precisa ficar bravo.
– Introduzindo, sei bem como é… Não sou seu personagem, vá buscar outro para introduzir o que você quiser!
– Mas eu só quero contar sua história…
– Pois vá contar história para o diabo!
E o escritor acorda todo vomitado. Olha para o relógio, que marca uma hora da tarde. Ele está atrasado. É segunda-feira. Trabalho no jornal. Correria.
Bebera além da conta na noite anterior e já não conseguia se lembrar que há muito tempo não trabalhava, apenas bebia… E imaginava estórias ainda não contadas em seus livros que ele nunca haveria de escrever, porque tudo era conversa de bar.