Nos últimos meses, muito tem se falado sobre a importância dos cuidados com a saúde mental, tema que deve ganhar ainda mais visibilidade no próximo ano. Um dos transtornos psíquicos que tem ganhado cada vez mais destaque nas pautas empresariais é a Síndrome de Burnout, que tem suas raízes justamente na relação do indivíduo com seu ambiente de trabalho. Não à toa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu uma nova classificação para a Síndrome de Burnout. A CID 11, que entra em vigor a partir do dia 1 de janeiro de 2022, reconhece a doença como um fenômeno ligado ao trabalho, aumentando a responsabilidade direta e indireta das empresas com relação à saúde de seus colaboradores.
Ainda que mesmo antes do início da pandemia o Brasil já liderasse rankings de doenças mentais, sendo considerado pela International Stress Management Association (ISMA-BR) como o segundo país com o maior número de trabalhadores afetados pelo Burnout, boa parte da população ainda considera o tema um grande tabu, evitando buscar assistência médica adequada e lidando com o transtorno de forma banal. No ambiente empresarial isso se agrava e é aí que entra a importância da área de Recursos Humanos das empresas em cuidar da saúde mental de seus colaboradores, além de conscientizá-los sobre a relevância do assunto.
A pessoa acometida pela Síndrome de Burnout costuma entrar em um ciclo de três fases. Inicialmente, passa por um aumento brusco de produtividade e acaba por trabalhar mais do que oito horas por dia, por exemplo. A partir disso, a segunda etapa é o surgimento de outros sintomas como taquicardia, falta de ar, dores musculares, dor de cabeça ou insônia. Nesta fase, ainda é possível notar mudanças na alimentação.
Por fim, o ciclo chega à exaustão total, que pode resultar em falta ou não cumprimento de prazos. A síndrome também pode desencadear outras doenças como ansiedade e depressão. Entre as características mais evidentes deste transtorno estão o pessimismo, a baixa autoestima e as mudanças bruscas de humor. Muitas vezes essa condição pode ser confundida com o estresse, mas é importante entender que se trata de uma doença mais grave.
Além de danos para a própria pessoa, a Síndrome de Burnout também é maléfica para a empresa, já que a condição afeta a pessoa colaboradora e prejudica a sua performance na companhia. Esse transtorno costuma se desenvolver gradualmente, de acordo com mudanças que ocorrem no ambiente de trabalho e situações que provocam o esgotamento físico e mental, como a sobrecarga de atividades, a forma como o gerenciamento das tarefas é conduzida, a falta de autonomia ou de flexibilidade, a atmosfera tóxica, o retrabalho e a falta de delimitação entre os compromissos de trabalho e a vida pessoal.
Por isso, é tão importante que as empresas analisem e mantenham seu próprio ambiente de trabalho o mais amigável e humano possível, valorizando os cuidados com a saúde mental dos colaboradores e transformando a experiência deles como parte integrante do sucesso da companhia. Para isso, o departamento de Recursos Humanos pode contar com o apoio da tecnologia no gerenciamento do ambiente interno, aplicando ferramentas de gestão, propondo metas realistas, distribuindo tarefas igualitariamente, treinando as lideranças para as relações interpessoais e incentivando a cultura de feedbacks. Com isso, é possível perceber melhorias no engajamento dos funcionários, aumento da retenção de talentos, diminuição do absenteísmo e dos custos com afastamento por questões de saúde.
Ainda que o enfrentamento da doença e a superação dela sejam questões muito pessoais, a empresa que possui um colaborador diagnosticado com Síndrome de Burnout tem o dever de fornecer ajuda para que ele se sinta compreendido e apoiado. O tratamento médico adequado e o afastamento da atividade profissional são extremamente necessários, assim como a realização de mudanças no estilo de trabalho promovido. Esta situação também sinaliza para a empresa que algo pode não estar bem, deixando-a em alerta para possíveis novos casos.

*Marcela Ziliotto é Head de People na Pipo Saúde, startup de gestão de benefícios que nasceu com o objetivo de otimizar e facilitar a relação do RH de empresas com planos e serviços de saúde.

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Burnout agora é doença do trabalho. O que isso significa para a sua empresa?
No ambiente empresarial se agrava e é aí que entra a importância da área de Recursos Humanos das empresas em cuidar da saúde mental