
Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais comum ouvir sobre o lançamento de cosméticos que utilizam canabidiol. Popularmente conhecido pela sigla CBD, o canabidiol é um, dentre muitos, princípio ativo da Cannabis Sativa L. A indústria cosmética tem estudado e se aproximado cada vez mais desse ativo por este oferecer uma série de benefícios à pele, como um amplo poder antioxidante, anti-inflamatório, anti acne e antipruriginoso (inibe a coceira).
Extraído naturalmente do cânhamo, uma variedade da planta Cannabis Sativa L., o CBD age nos receptores canabinóides do organismo, responsáveis por regular e equilibrar os outros sistemas do nosso corpo. É importante ressaltar que o CBD não é o tetrahidrocanabinol (THC) responsável pelos efeitos psicotrópicos da maconha. O cânhamo contém altas concentrações de CBD e baixas concentrações de tetrahidrocanabinol (máximo, 0,3%).
CBD para a saúde
O canabidiol atua por meio de diversas ações farmacológicas no corpo – interagindo com o sistema endocanabinóide (ECS) e provocando um equilíbrio das funções corporais como sono, metabolismo, humor, analgesia e comportamento. Sabe-se que o ECS está relacionado à manutenção da homeostase – equilíbrio que o organismo necessita para realizar suas funções adequadamente – conectando todos os órgãos e sistemas do corpo.
Embora o corpo tenha seus próprios canabinóides endógenos, os canabinóides derivados de plantas (fitocanabinóides) como o CBD, têm sido pesquisados como potenciais opções terapêuticas em uma variedade de doenças devido a sua modulação no ECS.
O CBD foi isolado pela primeira vez em 1940 e, a partir de então, iniciaram as pesquisas sobre os efeitos do uso dessa substância. Estudos, com testes in vitro, em animais e em humanos, mostraram que o ativo possui alguns efeitos benéficos como na redução da atividade inflamatória, redução de dores crônicas, além de ser anticonvulsivante, ansiolítico e antitumoral.
Benefícios para a pele
Estudos mais recentes buscam entender os benefícios do uso tópico do CBD. E esses têm mostrado que ligantes endógenos possuem receptores canabinóides na pele, sugerindo que ela tenha seu próprio sistema endocanabinóide. Diversos testes realizados, até o momento, apresentaram resultados promissores no tratamento de condições dermatológicas inflamatórias como psoríase e dermatites, além de ajudar na cicatrização da pele.
No futuro o CBD poderá ser um agente terapêutico para o tratamento da acne devido aos seus efeitos combinados de inibir a produção de lipídeos, ser antiproliferativo e anti-inflamatório.
Mostrou-se também que os canabinóides possuem uma ação voltada para o rejuvenescimento e anti-envelhecimento da pele, pelo fato de o sistema endocanabinóide poder controlar a multiplicação, diferenciação e sobrevivência de células basais da pele.
O óleo de cânhamo
O hemp seed oil, ou óleo de cânhamo, é extraído das sementes de cânhamo e contém pouco, ou nada, de CBD, nada de THC, mas é rico em antioxidantes nutritivos, além de conter ômega-6 e ômega-3 (ácidos graxos essenciais), com quantidades substanciais de ácido linoléico, importante para a saúde da pele, pois promove a formação de ceramidas essenciais para a estrutura da barreira cutânea. Além disso contribui também para a produção de endocanabinóides e espécies de lipídios bioativos, conhecidos por mediar reações inflamatórias e imunes em muitos tecidos, incluindo a pele.
É do óleo de cânhamo que se deriva a famosa Hemp Beauty, vertente da indústria da beleza que utiliza derivados da Cannabis Sativa L. e que tem se tornado cada vez mais famosa no mundo todo. Por isso, grandes marcas do mercado internacional já começaram a investir em linhas de Hemp Beauty.
Legalização
O canabidiol segue proibido no Brasil e, mesmo que o plantio de cannabis para fins medicinais esteja previsto desde 2006 (com o nome de Lei das Drogas, n° 11.343), ainda não foi regulamentado. Em 2014, a Anvisa autorizou a importação de remédios à base de CBD e, em 2019, foi regulamentada a pesquisa, produção e venda de remédios no Brasil por parte da indústria farmacêutica – mas as plantas ainda precisam ser importadas. Em abril de 2020, a Anvisa aprovou o registro e autorizou a comercialização de um fármaco à base de canabidiol – que só pode ser adquirido com receita médica e prescrito quando outras opções terapêuticas no mercado brasileiro estiverem esgotadas.
Os efeitos do canabidiol são realmente promissores, mas os passos para a legalização ainda são longos. E, quando se fala em cosméticos, ainda faltam estudos clínicos multicêntricos em humanos, randomizados e controlados, que são padrão-ouro para determinar o efeito dos tratamentos com CBD em termos de eficácia e segurança no organismo vivo.
*Dra. Lilian Odo é dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da Academia Americana de Dermatologia