Na última sexta-feira, 21 de janeiro, Pelé recebeu alta hospitalar, mas contou estar com câncer metastático – que afeta outros órgãos do corpo. A ida do Rei do Futebol ao centro médico não ocorreu de forma emergencial, porém teve o objetivo de localizar com exatidão a extensão do câncer no corpo e avaliar se a doença havia ou não se espalhado.
O diagnóstico mostrou que há um tumor primário no intestino, com lesões no fígado e no pulmão. Pelé continuará realizando sessões de quimioterapia para controlar a doença. Infelizmente, a doença não pode ser removida cirurgicamente com intenção de cura.
Um dos pontos que faz-se necessário esclarecer é que os tumores agora detectados não significam que Pelé tenha desenvolvido outros tipos de câncer, pelo contrário: eles têm relação direta com o diagnóstico feito no ano passado. “Em muitos casos de pacientes com tumores malignos, mesmo com o tratamento, é possível que células cancerígenas se soltem do órgão original onde a doença está localizada e tentem ‘viajar’ para outra parte do corpo. Em geral, esse trajeto não dá certo e essas células são eliminadas pelo organismo, mas quando elas conseguem alcançar uma nova área e se estabilizar, acabam gerando uma multiplicação da doença e o aparecimento do câncer em outra parte do corpo. É o que denominamos metástase”, diz Renata D’Alpino, oncologista e coordenadora do grupo de tumores gastrointestinais e neuroendócrinos da Oncoclínicas.
As metástases indicam a necessidade de ajustes nas condutas terapêuticas adotadas, de acordo com as etapas evolutivas da linha de cuidado oncológica. Essas mudanças são necessárias para que o tratamento possa surtir o efeito desejado e frear o avanço do câncer. Vale, contudo, lembrar que, embora afete outros órgãos, em casos como o de Pelé, os novos tumores malignos têm as mesmas características da doença inicial e, por isso, não podem ser classificados ou tratados como sendo um câncer diferente.
“De forma simplificada, quando o câncer localizado em uma parte do corpo causa metástases em outro órgão, as células que formam o novo tumor mantêm as suas características de origem, como se fossem uma espécie de clones. Por isso, o recomendável é seguir o protocolo de tratamento convencional indicado para o tipo de tumor primário, podendo nesta situação ser recomendada quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia”, destaca a médica.
Quais são os sintomas de metástase?
Em muitos casos, a metástase pode ser assintomática, assim como nos cânceres primários. Mas, quando há manifestação de sintomas, eles podem depender do tamanho e região de onde o tumor está localizado. Os sinais mais comuns são:
Dores no corpo;
Fraturas ósseas (quando as metástases afetam os ossos);
Dor de cabeça persistente;
Tontura;
Convulsões;
Falta de ar;
Febre;
Perda de peso sem motivo aparente; e
Alterações no funcionamento urinário ou do intestino.
Diagnóstico
A metástase geralmente é diagnosticada por meio dos exames contínuos de acompanhamento do paciente, essenciais para que sejam tomadas medidas rápidas para dar sequência ao controle da doença. Esses testes também ajudam na escolha das abordagens a serem adotadas, que levam em conta a origem da doença, o tamanho e a extensão do tumor. “Vale sempre lembrar que o câncer, mesmo quando tendo avançado para outras partes do corpo, pode apresentar boas respostas às terapias empregadas, assegurando qualidade de vida ao paciente mesmo quando a cura não seja possível – ainda que momentaneamente, já que ciência e a medicina evoluem a passos largos para a geração de tratamentos cada vez mais avançados visando transformar o câncer futuramente em uma doença crônica, que com os cuidados certos pode ser totalmente controlado”, explica Renata D’Alpino.
Até que esse momento tão desejado seja alcançado, todavia, sempre é preciso reforçar que as palavras-chave quando o assunto são as neoplasias malignas são prevenção e detecção precoce. Neste sentido, é possível reduzir os riscos de surgimento de inúmeros tipos de tumores a partir de hábitos alimentares saudáveis, prática de atividades físicas regulares e controle do peso. No caso dos tumores gastrointestinais, a obesidade, somada à ingestão em excesso de alimentos ultraprocessados – como salgadinhos, biscoitos, enlatados, pratos congelados, macarrão instantâneo, achocolatados, refrigerantes e bebidas com sabor artificial de frutas -, figuram entre os principais fatores que podem desencadear a doença.
Além disso, durante a pandemia vimos despencar os números de exames de rastreio periódicos e idas para consultas de rotina para controle da saúde em geral. “O diagnóstico do câncer em estágio inicial permite possibilidades de cura em mais de 95% dos casos, percentual que cai vertiginosamente quando a descoberta acontece já em fases mais avançadas, ficando em 25%”, finaliza Renata D’Alpino.