Maus
Artie Spielgman
 
“Maus” é a história de Artie e de sua família em meio ao Holocausto. O livro, todo feito em quadrinhos, é antropomorfizado, ou seja, humanos são retratados como animais.
Os judeus são desenhados como ratos (assim com Hitler os via), os alemães como gatos, os poloneses como porcos e os americanos como cães. E mesmo assim, a gente consegue, quadro a quadro, enxergar o ser humano, no sentido mais disforme de sua espécie.
Artie, com esse livro tão atual, nos mostra que humanos ainda tentam eliminar humanos em nome de uma suposta “limpeza” social. Aquilo que não se parece comigo exterminado será.
Entre fugas, tentativas de sobrevivência e a busca por se manter com um sopro de vida, o livro é um tratado sobre essa época desoladora da história do mundo.
Um livro generoso em história e memória e aterrorizante em verdades.
Eu me lembro de ler o livro e em algumas páginas fechá-lo apenas para chorar, tentando, apenas tentando, imaginar a dor das pessoas que passaram por isso. A força da narrativa, das imagens e da própria história, verídica e fiel aos fatos, faz com que olhemos pelos olhos dos nossos irmãos empaticamente e vejamos o quão preciosa, rara e dolorida pode ser a vida.
Leia e releia o livro, tenha em casa, dê de presente para os amigos.
“Maus” é um livro para quem tem coragem de ser um ser humano melhor para o mundo.
Humanize-se.


 
Arroz de Palma
Francisco Azevedo
 
Esse é um dos livros mais delicados que já li. Antonio, 88 anos, está preparando o almoço que será servido para a família e o que não pode faltar nesse encontro é o arroz, o arroz de Palma, da tia Palma, abençoado no casamento dos pais de Antonio em Viana do Castelo, Norte de Portugal.
Em 1908, quando José Custódio e Maria Romana se casaram, uma chuva de arroz invadiu o céu. Irmã de José Custódio, Palma, sem condições de presenteá-los, pegou no chão todo o arroz que pôde, abençoou e o entregou ao irmão e à cunhada como presente de casamento.
“Este arroz – plantado na terra, caído do céu como o maná do deserto e colhido da pedra – é símbolo de fertilidade e eterno amor. Essa é minha benção”.
José Custódio ficou ofendido com o presente e humilhou Palma, mas a cunhada emocionada agradeceu. E assim o arroz começa a atravessar as gerações e chega de Portugal ao Brasil, onde os três, José Custódio, Maria Romana e Palma vêm para morar, dentro do oratório da família.
Um livro sensível, que passa por boa parte da história do Brasil no século XX e suas relações com a “saudade” (no singular, como diz Antonio) de Portugal.
Tia Palma ajuda a criar os quatro filhos do irmão e Antonio, filho mais velho e o mais apegado à tia, perpetua a tradição desenrolando um tecido fino e firme de histórias durante suas memórias ao preparar o almoço para a família, 100 anos depois do casamento dos pais, com o que sobrou do arroz abençoado da tia.
“Arroz de Palma” é um livro leve, tranquilo e solar, que se grava no coração. Feito aqueles dias bonitos que passamos com as pessoas que a gente mais ama.

Boas leituras para você! 
 
Lídia Basoli é jornalista (UEPG) com especialização em Comunicação pela UEL (Londrina) e Mestre em Comunicação pela UNESP de Bauru. É coeditora e jornalista responsável pela revista Café Espacial com o editor e designer gráfico Sergio Chaves. www.cafeespacial.com 

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