Constatamos, afinal, que a palavra “inovação” não funciona como os feitiços de Harry Potter, tornando empresas mais inventivas, criativas e empreendedoras em um passe de mágica. A palavra pode ser dita tanto por um CEO durante uma reunião com seus funcionários quanto por analistas de Wall Street. Pode estar decorando a porta de um novo centro de inovação no Vale do Silício.
Agora, o que passa desapercebido aos nossos olhos é que quando a maioria das empresas tenta aumentar seus esforços de inovação, parecem sempre partir da mesma premissa: “precisamos de mais ideias”. Todas começam a discutir a necessidade de se “pensar de maneira diferenciada” ou “pensar criativamente” para encontrar algumas ideias que possam se transformar em produtos ou sistemas viáveis. Contudo, na maior parte das organizações, não é a falta de ideias que impede a inovação mas, sim, a incapacidade de perceber as boas ideias já existentes. O problema não está nas ideias, mas na aceitação.
Observemos alguns exemplos bastante conhecidos ao longo da história. O laboratório de pesquisa da Kodak inventou a primeira câmera digital em 1975, mas não deu continuidade à descoberta. Em vez disso, não deram praticamente nenhuma atenção a ele, ao passo que a Sony desenvolvia um protótipo diferente e roubava-lhe o futuro da fotografia digital bem debaixo de seu nariz.
A Xerox desenvolveu o primeiro computador pessoal, mas não investiu o suficiente nessa tecnologia e permitiu que Steve Jobs e a Apple tomassem para si a oportunidade. Esses não são somente exemplos de pessoas inteligentes e de empresas estabelecidas hilariantemente equivocadas. Demonstram, na verdade, um preconceito que todos nós temos: contra ideias novas e criativas quando há o menor indício de incerteza.
A mesma incerteza que provoca a necessidade das empresas se inovarem pode também estar fazendo com que executivos estejam rejeitando as descobertas que podem ajudá-los a obter uma vantagem competitiva. As ideias que podem manter as empresas vivas estão sendo descartadas muito rapidamente.
Uma solução possível para esse problema de “descarte de ideias” é mudar a estrutura pelas quais as ideias precisam passar. Em vez de usar a hierarquia tradicional para encontrar e aprovar ideias, o processo de aprovação pode ser espalhado por toda a empresa.
Essa é a abordagem utilizada há quase uma década pela Rite-Solutions, empresa baseada em Rhode Island. A Rite-Solutions criou um “mercado de ideias” em seu site interno onde qualquer um pode postá-las e listá-las como “ação” no mercado, chamado de “Mutual Fun” (diversão em conjunto, um trocadilho com “mutual funds”, expressão em inglês que designa os fundos de investimento).
Se uma ideia consegue apoio suficiente, o projeto é aprovado e todos aqueles que o apoiaram recebem uma parcela dos lucros obtidos com o projeto. Em apenas alguns anos, o programa já produziu enormes ganhos para a empresa, desde pequenas mudanças incrementais até produtos em setores totalmente novos.
Somente em seu primeiro ano, o Mutual Fun representou 50% do crescimento de novos negócios da empresa. Mais importante do que a receita imediata, a ideia de mercado criou uma cultura na qual novas ideias são aceitas e desenvolvidas por toda a empresa, uma democratização da aceitação.
É um sistema baseado na suposição de que todos na empresa já possuem grandes ideias e o mercado simplesmente faz com que eles sejam melhores na busca por essas ideias. Não é uma solução baseada em ideia, mas na aceitação.
Podemos ter certeza que a inovação é necessária. Reconhecimento e incentivos são apropriados para pessoas que se envolvam no processo de mudanças positivas. Mais comunicação regular e construção de relacionamentos entre as equipes de inovação e as missões e unidades empresariais que requerem como parceiros. Medidas de progresso que esclareçam não apenas o desempenho do grupo de inovação, mas também as missões e unidades empresariais, que trabalham em conjunto para implementar suas ideias.
Por fim, o comprometimento a longo prazo é essencial. Culturas empresariais rejeitam muitas iniciativas arrojadas quando as pessoas acreditam ser a última bolacha do pacote.
Quando CEOs e outros líderes falam sobre inovação, precisam deixar claro que ela ocorrerá em regime de exercícios diários — parte do modo como as coisas serão feitas aqui de agora em diante — e não como um feitiço que traz resultados imediatos.  Assim, “testar, aprender e repetir” deve se tornar um exercício diário.
 
Camila de Toledo Spadotto é CEO da Agência Spadotto Marketing desde de 2013 e colabora também como palestrante e consultora digital.

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