De professor à principal liderança do segmento, Elvis Fusco é sinônimo do crescimento da maior vocação econômica de Marília na atualidade

Reconhecido nacional pelo apoio às inovações tecnológicas e ao empreendedorismo, o Centro Universitário Eurípides de Marília (Univem) teve sua primeira experiência de parceria do gênero em 2012, com a Boa Vista Serviços, que hoje mantém a BVTec.
A aproximação entre a instituição de ensino e a empresa foi costurada por um professor empreendedor, que negociou um software que a companhia precisava e pediu para que o negócio não fosse transferido para São Paulo. E a empresa ficou.
Com o passar do tempo, as aulas, os negócios e, principalmente, a influência de Elvis Fusco contagiou uma cidade inteira e a transformou em um dos principais cases de polo tecnológico do país, com projeção até internacional.
“O importante é deixar um legado para a cidade. Mais do que isso: conseguir ter articulado vários atores neste processo. Não fiz nada sozinho”, afirmou Fusco, hoje a principal liderança do setor de Tecnologia da Informação (TI) em Marília.
Em entrevista exclusiva à D Marília, Elvis detalha como a Asserti (Associação de Empresas de Serviços de Tecnologia da Informação), à qual preside, atuou para posicionar o setor como a principal vocação econômica da cidade em menos de uma década.
Ele conta ainda como é a política de admissibilidade de projetos de startups no único espaço exclusivo de inovação para este segmento, aberto no Univem, e revela que pode buscar na China os recursos necessários para a implantação do Parque Tecnológico em Marília.
Natural de Botucatu (SP), Elvis Fusco é pós-doutor em Ciências da Informação pela Universidade de São Paulo (USP) e, além de estar à frente de diversas entidades, também conduz sua empresa de softwares especializada em Educação.
 
 
A Asserti surgiu há seis anos para representar um segmento de empresas que não para de crescer em números e cifras. Quais avanços significativos a entidade já conquistou?
São dois tipos de avanços. Uma é para as empresas. Houve aumento qualitativo e quantitativo de geração de empregos e crescimento do setor. Conseguimos um calendário grande de treinamentos e capacitações que melhora a gestão, os produtos e a parte tecnológica das empresas. Esse ganho técnico foi um bem importante, como a questão competitiva da marca Asserti para os negócios. Ser de Marília faz diferença hoje. Outro ganho foi a redução do ISS de 5% para 2% em um momento de crise no Brasil, por conta do impeachment. A Asserti também buscou recursos junto ao governo paulista para treinamentos. Isso tudo, para as empresas.
 
E para Marília?
Esse é o segundo benefício. Marília entrou na agenda do segmento de TI no Brasil. Há dez anos não existia nenhum fato relevante sobre TI por aqui. Hoje, observando tanto internamente quanto fora, Marília é reconhecida como área de TI. A Asserti foi a principal responsável pela criação da marca ‘TI em Marília’, como novo vetor econômico e um dos principais geradores de renda, receita, arrecadação para o município, além de geração de empregos.
 
Aliás, geração de emprego é o que não tem faltado no setor…
Nós temos desemprego zero no setor de TI em Marília. Zero. Pelo contrário: há falta de profissionais qualificados.
 
Mesmo assim, novas empresas têm vindo para cá…
A atração de novas empresas se dá pelo fato de Marília ser um cluster, um APL (Arranjo Produtivo Local) de TI. Apenas três cidades do estado têm esse reconhecimento desde 2016. É uma conquista pra cidade a criação de uma marca para um segmento que antes não existia.
 
Como a atuação da Asserti tem influenciado nos avanços da formação de novos profissionais no Univem?
A Asserti foi a principal entidade do setor produtivo que possibilitou que Marília ficasse conhecida tanto na tecnologia como também nas áreas de inovação e empreendedorismo. Temos aqui o maior centro de inovação do estado de São Paulo. Qualquer cidade paulista que queira criar sua inovação, o governo manda para o Centro de Inovação Tecnológica de Marília (CITec) e para o único espaço de coworking voltado exclusivamente para startups, também aqui.
 
Além da Asserti, o que mais sustenta o empreendedorismo e a inovação em Marília?
É um tripé: o setor produtivo, o governo, e as universidades. Foi aí que entrou a parceria com o Univem, que se tornou a principal entidade de educação de Marília a apoiar esse processo. A sede da Asserti fica no Univem, e todas as ações de tecnologia, inovação e empreendedorismo acontecem no CITec, através de uma articulação entre Univem, Asserti, CITec e Ciem (Centro Incubador de Empresas de Marília). Qualquer ação é potencializada por estes atores e todos os envolvidos são beneficiados, sejam alunos, empreendedores e os empresários da Asserti.
 
O Univem atualmente abriga algumas das principais empresas de TI de Marília. Quais benefícios dessa vizinhança profissional dentro do campus?
Essa é a riqueza desses ambientes que temos no Univem. O mundo das startups, que é desruptivo, colaborativo, rápido, exponencial, fica ao lado do das empresas tradicionais como Locaweb, Tray, Boa Vista, ONCLICK, entre outras de alta tecnologia. O desafio é juntar ambas essas realidades. As empresas tradicionais são mais engessadas. Porém, têm o mercado na mão, parceiros, credibilidade e networking que as startups não têm. O melhor é que as empresas aproveitem do ambiente das startups e vice-versa.
 
Apenas alunos do Univem podem utilizar o InnovaSpace Coworking do CITec?
Não. Os requisitos são dois. Além da entrevista, exigimos uma ideia que precisa ter uma perspectiva inovadora. Precisa trazer um serviço que vá agregar um valor para algum segmento, atender alguma dor do mercado ou resolver um problema do consumidor. O outro é a disponibilidade. Exigimos uma carga horária mínima no espaço porque podemos apoiar com mentoria, estrutura, networking, investimento. Se o empreendedor não se colocar à disposição, não adianta nada.
 
Há aportes financeiros para novos projetos de startups?
Não. Nós temos parcerias com aceleradoras. Anualmente, promovemos um processo de seleção de startups com uma parceira de Ribeirão Preto (SP). No Startup Pitch Day, a gente também coloca as startups em contato com investidores para solicitar recursos.
 
O aplicativo PedFarma, que venceu o último Startup Pitch Day, conseguiu levantar muitos recursos com investidores?
A maior parte dos investimentos é deles mesmo. Mas há apoios também ao projeto.
 
Entre as muitas funções de gestão, você ainda consegue espaço para lecionar. Como é ensinar em uma área de conhecimento que apresenta novidades todos os dias?
É um desafio. É o que mais me demanda atualização. Estou ali lidando com jovens que estão no mercado de trabalho nas mais diversas empresas e tecnologias, que se atualizam muito mais rápido que a academia. A gente precisa estar sendo útil neste modelo atual.
 
E como a academia consegue acompanhar o mercado?
Há exigências do MEC. Nossa matriz curricular é constantemente atualizada seguindo demandas do mercado, de empreendedorismo e inovação, da ciência, da pesquisa. As três dimensões de formação dos meus cursos são o empreendedorismo e a inovação, o mercado de trabalho de TI e a pesquisa científica. A gente forma alunos para atuar nestas três áreas. É importante que os professores também estejam nestas três dimensões. No caso de empreendedorismo e inovação, no CITec-CIEM; no mercado de trabalho, a Asserti; na pesquisa científica e tecnológica, tem os laboratórios e parcerias com Unicamp, Unesp, USP. Nossos professores são titulados. Todos são mestres e doutores. A gente consegue ter um time com capacidade para trafegar nestas três dimensões de formação.
 
Que situação está a instalação do Parque Tecnológico em Marília?
É um processo muito complexo porque é um empreendimento grande. O governo exige um terreno de no mínimo 200 mil metros quadrados para instalar ali empresas de tecnologia, base tecnológica ou de pesquisa e inovação. Ou seja, não haverá nada de manufatura. É um modelo equivocado do Brasil, apesar do exemplo positivo do Porto Digital em Recife (PE). Visitei parques tecnológicos de Madrid, China, na Itália, no Uruguai. O projeto precisa ser verticalizado. Não precisa de tanta área. A inovação se dá no intelectual.
 
Qual investimento seria necessário para a construção?
Do jeito que está, pelo menos uns R$ 30 milhões. Se tivéssemos uma estrutura como a do Univem, que já é um parque tecnológico, precisaríamos de R$ 5 milhões. Nós já temos mais empresas e geramos mais empregos e renda que a maioria dos parques tecnológicos do estado de São Paulo.
 
Se já há um parque tecnológico bem sucedido no Univem, por que ter outro?
É porque nós temos um limite físico. No Univem, estamos em 5 mil metros quadrados com 85% do espaço ocupado com apenas dois anos de criação do CITec. Para 2019, não teremos espaço para a instalação de mais startups. Vamos para onde? Para o Parque Tecnológico. O problema é que o Brasil passa por um momento difícil para investimentos. Inovação, tecnologia e empreendedorismo são os últimos na fila.
 
Como anda o processo burocrático?
Nós credenciamos o Parque Tecnológico em dezembro de 2017. É provisório. Para chegar no definitivo, precisamos de um recurso para fazer o projeto. Só que neste ano tivemos eleição e não podemos receber recursos. Fizemos a solicitação de R$ 300 mil ao governo do estado no começo do ano. Há uma promessa de receber esse recurso ainda neste ano. Se isso acontecer, vamos fazer os projetos executivos e calcular um orçamento. Em 2019, vamos solicitar o credenciamento definitivo e buscar o dinheiro nos governos de São Paulo e federal.
 
E se o recurso não for suficiente?
Vamos buscar na China. Através da parceria com o Seprosp, abrimos um canal de negócios com os chineses. Estive lá neste ano. Há uma pessoa na China prospectando negócios para as empresas da Asserti e de outras entidades. Um dos projetos em pauta é o nosso parque tecnológico. Ou seja, a busca por recursos no estrangeiro é uma possibilidade. Um centro de inovação pode ser privado. O Univem criou, mantém e a gente não depende do governo. Parque tecnológico, não tem jeito. É muito dinheiro e o retorno é a longo prazo. Mesmo a TecnoPUC, no Rio Grande do Sul, foi criada com recursos públicos.
 
Você acredita que o fato de o ministro de Ciência e Tecnologia já anunciado do governo Bolsonaro, Marcos Pontes, ser bauruense pode facilitar alguma visibilidade maior aos projetos de Marília?
Pode. E deve. Em 2019, vamos iniciar uma aproximação com ele. Até porque temos a Asserti em Bauru, além de Botucatu. E devemos implantá-la também em Guarulhos. As cidades estão requisitando esse modelo bem sucedido de Marília. A Asserti é a maior associação de empresas de TI do estado. E tem apenas seis anos de criação.

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