Psiu, estou entrando. Invadindo seu ser. Como é fácil entrar aqui. Sem o mínimo esforço. Como “onde aqui”? Dentro de você, oras. Onde mais?! Na sua cabeça. Ou melhor, no seu subconsciente. No inconsciente coletivo, já que muitos passeiam livremente por aqui. Estranho? Então olhe para os lados, atrás de você ou em qualquer canto físico. Não irá me ver, pode tentar.
Estou propositalmente conectado a você. Não estou fora, estou dentro da sua existência, que nada mais é do que eu mesmo em você. Você e eu somos um. Somos todos um. Nessa dimensão em que você está não é capaz de notar. Está envolto em um corpo, que limita e que se guia por tempo e espaço. Vou até aqui com para não complicar. Meu objetivo é outro.
Entrei aqui para te mostrar o quanto está vulnerável. Dia após dia, desde sempre, passam diversas pessoas por aqui. Fazem o que querem. Sim, por aqui, dentro de você. Ainda não crê que estou aqui? Me encontrou aí fora? Sou o que então? Um produto da sua imaginação? Experimente contar isso para alguém. Eu poderia criar uma desordem neste exato momento só para que sinta minha presença. Posso também te conduzir a outros lugares, outros momentos, no passado ou no futuro.
Você está completamente desprovido de barreiras. Suas emoções estão a meu dispor. Com isso posso lhe fazer chorar, rir, refletir sobre algo filosófico, despertar sua ira, sua compaixão, sua inveja, angustiar, seduzir, infantilizar, até mesmo te deixar bem perto da insanidade. Mas como disse acima, só quero que perceba sua vulnerabilidade.
Para que eu interfira em seu estado atual com qualquer uma das possibilidades citadas, bastaria uma simples palavra. Criar um enredo, um roteiro, cenas improváveis. Estas estratégias podem conter recursos eficientes para um intento específico. Mas, só para exemplificar, usarei palavras e seu estado muda automaticamente. Façamos assim: para cada palavra solta que ler a seguir, experimente o que ela proporciona por alguns segundos. Depois, passe para próxima palavra. Vamos lá.
FÉRIAS. COMIDA. TRÂNSITO. SONO.
Sim, são ancoras. Elas acionam reações e emoções pertinentes. Nós as associamos durante toda evolução humana. Nada de novo quanto a isso, concordo. Como disse, é sobre vulnerabilidade que vim falar. Se temos noção de que o mundo externo é capaz de nos afetar e alterar nosso estado de espírito, é porque permitimos isso. Eu disse alguns parágrafos acima que diversas pessoas passeiam por aqui, dentro de você. Entram por todos os dispositivos que possuímos para captar o mundo. Os órgãos do sentido. Você muda com o som do escapamento estridente, o latido contínuo de um cão, com anúncios, notícias, cores, cheiros, etc.
Podemos considerar que a vulnerabilidade se encontra na consciência de como existir em meio a tudo isso. Consciência do que somos, de como agimos diante de situações distintas, de emoções ou sentimentos não explorados, dissecados, degustados, digeridos e incorporados ao nosso arsenal de sobrevivência. Se sei que determinada situação, objeto ou símbolo me afeta, por que permito que esteja presente? Melhor ainda, por que algo ainda me afeta?
A falta de consciência, consequente de todas as distrações que nos cercam, é que impossibilita nosso auto controle. Conscientes de quem somos, absolutamente nada desequilibra ou confunde nossas decisões. 
Você entendeu minha exposição sobre vulnerabilidade? Estou aqui dentro ainda, totalmente à vontade e falando sobre o que eu escolhi. Imagine como você estaria se lhe apresentasse uma história trágica, uma notícia sobre instabilidade econômica, ou um vírus desconhecido que está se espalhando rapidamente pelo mundo. De onde veio isso que você está pensando agora? De alguém não presente fisicamente, mas quanticamente diluído em você e confortavelmente no controle.
Desperte para consciência. O que você faz reverbera em tudo e em todos. Termino por aqui com as palavras, mas permaneço em você enquanto pensar sobre tudo isso. Sempre somos todos quando você pensa. Isso é EGOFIT.
 
Ozzy Issor é radialista e apresentador de tevê. Contatos pelo @ozzyissor.    

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