“A sua piscina está cheia de ratos, suas ideias não correspondem aos fatos”. Na música ‘O Tempo Não Para’, Cazuza fala um pouco dos que estranhamente ajuntam ratos em piscinas. Tratam-se de ratos da lixeira humana, dores frustrações e condições nocivas que já vivemos e continuamos acomodar essas emoções nos melhores cômodos da casa emocional.
Estamos em um mundo doente e acabamos aprendendo a conviver com situações esquisitas. Ratos ficam em meio a detritos. Dá para entender por que o mundo adoece. Vivemos em meio a lixos que nos atiram e nem nos pertence, mas nos misturamos a eles no cotidiano.
Por outro lado, somos nós que permitimos que pessoas “enlixeiradas” de ideias nocivas e emoções doentes povoem nossos espaços nobres com seus lixos. Quando acolhemos os lixos que nos lançam, acumulamos desgostos pela vida.
Resíduos emocionais são tóxicos, contaminam e transmitem ideias contagiosas. Se não puder evitar, proteja-se, ou você ficará tóxico também. Sintomas desta piscina saturada percebemos na pessoa frequentemente irritada, agitada, doente, cansada, com dores no corpo, impaciente, mal humorada, intolerante, agressiva, enfim, lixos saindo pelo ladrão.
O resíduo que não descartamos acumula-se na alma e submerge nas águas profundas da mente e entre entulhos irracionais. Entopem o fluir saudável da vida. Devemos faxinar a piscina da alma e higienizar a mente constantemente para não haver a acumulação de sujeira desnecessária e prejuízos maiores.
Quem tem piscina sabe que o mais trabalhoso é mantê-la limpa. Às vezes criticamos o encardido do vizinho e perdemos de filtrar a nossa própria água barrenta, descarregando tranqueiras sobre todos e avolumando o aterro mal cheiroso da sociedade doente.
Lixos como frustrações do passado e situações mal resolvidas apodrecem as relações atuais. Assim como ambições exageradas pelo poder, podem levá-lo a nadar no esgoto fétido da imoralidade – estes são ratos graúdos.
Coleção de dores, por mais nobres que sejam, tornam-se lixos emocionais. Existe quem mantém dores como troféus de honra à sua “resiliência”. Podem até ser condecorados pelo compadecimento social mas condenados ao afogamento nesta poça rasa da necessidade de reconhecimento, que não dá mais pé.
A dor passa a ser lixo quando insistimos em acolhê-la para sempre na piscina da alma. Domesticam os ratos e até convivem bem com ele. O problema piora aí, quando nos acostumamos com os ralos entupidos e os entulhos pelos cantos.
A neurociência deixa claro que a mente é expert em adaptações. Ela estranha a princípio, depois se acostuma com a dor, com mal cheiro e até com a desonestidade. Ilustro aqui com a piscina mas é certo que quando a sujeira chega na área de lazer é porque a casa inteira está tomada.
Às vezes não entendemos por que as coisas não dão certo. Isso acontece porque o novo é contaminado pelo velho, o passado transmite os velhos hábitos para o presente e compromete a água límpida do futuro.
Aprendi que para organizar e limpar temos que ter um método. Para começar a arrumar temos que aprender a descartar tudo aquilo que é inútil e não nos dá mais alegria. Isso mesmo, desapegar do que não lhe serve mais.
A maioria das dores não passam porque ficamos segurando. Sim, pegue a vassoura e comece a varrer para fora de sua vida o que não te dá alegria. Pode ser sua história, mas não precisa ser sua dor de estimação. Organize-se no tempo e no espaço, veja que está tudo misturado num cômodo só (presente, passado e futuro), que bagunça!
Deixe o passado bem arrumadinho e perdoadinho no porão. Futuro na rua iluminada das possibilidades e o presente fluirá confortavelmente na sala de estar da paz interior. Assim fazemos a melhor faxina emocional, que exala o bom cheiro da vida e desentoca os ratos que roem a felicidade.
Edilene Nassar é psicóloga, professora, palestrante e especialista em inteligência emocional. Contatos pelo (14) 98149-7242 e edilenenassar@hotmail.com