As críticas à TV Globo referem-se ao extenso histórico de controvérsias nas relações desta rede de televisão brasileira com a sociedade do país.[1] A emissora possui uma capacidade sem paralelo de influenciar a cultura e a opinião pública.[2]
A principal polêmica histórica da estação televisiva e das Organizações Globo (hoje Grupo Globo) está ligada ao apoio dado à ditadura militar e a censura dos movimentos pró-democracia nos noticiários do canal. O regime, segundo os opostos à emissora, teria rendido benefícios ao grupo midiático da família Marinho, em especial para o canal de televisão que, em 1984, fez uma cobertura omissa das Diretas Já.[3] A própria Globo reconheceu em editorial publicado no jornal O Globo, 49 anos depois e pressionada pelas manifestações de junho de 2013,[4][5][6] que o apoio ao golpe militar de 1964 e ao regime subsequente foi um “erro”.[7]
No final da década de 1980, a emissora novamente foi alvo de críticas devido à edição que promoveu do último debate entre os candidatos a presidente na eleição de 1989, o que teria favorecido Fernando Collor de Mello.[8] No final da década de 1990, as Organizações Globo enfrentaram diversos problemas financeiros que teriam sido aliviados pelo Estado, apesar de se tratar de uma empresa privada.[2] Durante o período, a emissora utilizou-se de sua influência entre os políticos para conseguir mudar um artigo da Constituição Federal, no qual permitia a entrada de 30% de capital estrangeiro nas empresas de mídia.[2]
Em 2002, o governo federal ofereceu ajuda de 280 milhões de reais à Globocabo através de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).[2] A emissora voltou novamente a ser alvo de críticas pela cobertura supostamente tendenciosa das eleições de 2006 e 2010.
Acusações de fraudes
Entre 2010 e 2012, o conglomerado foi notificado 776 vezes por sonegação fiscal.[91] Em uma destas lavagens de dinheiro nos Estados Unidos foi depositado 1,6 bilhão através do Banestado.[92] A maior parte das autuações envolve a apreensão de equipamentos, sem o recolhimento de impostos, no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.[91] Ainda segundo a Receita, a empresa praticou fraude contábil ao negociar um perdão de 158 milhões de reais em dívidas com o banco JP Morgan em 2005.[2] A emissora, multada em 730 milhões de reais, contesta a cobrança, mas foi derrotada em uma das instâncias do Ministério da Fazenda, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, em setembro de 2013.[2]
Além disso, o conglomerado teria sonegado o Imposto de Renda ao usar um paraíso fiscal para comprar os direitos de transmissão da Copa do Mundo FIFA de 2002. Após o término das investigações, em outubro de 2006, a Receita Federal quis cobrar multa de 615 milhões de reais da emissora. No entanto, semanas depois o processo desapareceu da sede da Receita no Rio de Janeiro. Em janeiro de 2013, a funcionária da Receita, Cristina Maris Meinick Ribeiro, foi condenada pela Justiça a quatro anos de prisão como responsável pelo sumiço. No processo, ela afirmou ter agido por livre e espontânea vontade.[2]
Um documento datado de 15 de setembro de 2006, liberado pelo site WikiLeaks em 2013, cita que a TV Globo repassou à UNESCO apenas 10% do valor arrecadado desde 1986 com a campanha (à época 94,8 milhões de reais).[93][94] Numa nota ao portal R7, a emissora respondeu: “A Globo desconhece os documentos citados. (…) [No] acordo, não existe qualquer cláusula prevendo pagamento de taxa de administração. Todos os custos referentes à gestão e administração do fundo Criança Esperança, a cargo da Unesco, são integralmente pagos pela TV Globo com recursos próprios.”[95] Em 2011, a UNESCO divulgou comunicado em que esclarecia os boatos sobre a suposta sonegação. Segundo o órgão, “por se tratar de uma agência das Nações Unidas, doações para a Unesco não são dedutíveis no Imposto de Renda, que veta supressão de contribuições feitas a organismos internacionais.[96]
Em 2016, jornalistas holandeses do jornal diário, Trouw, demonstraram que a TV Globo foi mencionada “várias vezes” em uma investigação de lavagem de dinheiro do banco De Nederlandsche, que divulgou que a Globo, durante anos, fez muitas “transações financeiras irregulares” usando paraísos fiscais, supostamente com a finalidade de pagar os direitos de transmissão da Copa Libertadores.[97]
Beyond Citizen Kane
Em 1993, o Channel Four, uma grande cadeia de TV britânica, exibiu um filme, criado por Simon Hartog e intitulado Beyond Citizen Kane, que conta a história da Rede Globo de Televisão e suas “ações sombrias” no país até o ano de 1990.[98][99] O documentário foi proibido no Brasil desde 1994, graças a uma ação judicial movida por Roberto Marinho. Existem poucas cópias em circulação no Brasil, além de versões piratas circulando pela internet, como no YouTube.[99] O filme conta com a participação de alguns artistas e políticos, como Luiz Inácio Lula da Silva, Chico Buarque, Leonel Brizola e Washington Olivetto. O documentário jamais esteve no circuito de cinemas brasileiros e a exibição que ocorreria no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi proibida pelo então presidente da República, Itamar Franco.[99]
No país, o documentário recebeu o título de Muito Além do Cidadão Kane. O título teve origem no personagem Charles Foster Kane, criado em 1941 por Orson Welles para o filme Citizen Kane, que por sua vez, tratava-se de um drama de ficção baseado na trajetória de William Randolph Hearst, magnata da comunicação nos Estados Unidos. Segundo o documentário, a Globo empregaria a mesma manipulação de notícias para influenciar a opinião pública como fazia Kane no filme.[99] De acordo com matéria veiculada na Folha Online em 28 de agosto de 2009, a produtora que montou a filmagem é independente e a televisão pública britânica não teve qualquer relação com seu desenvolvimento. Já a Record sustenta que a BBC, outra emissora pública do Reino Unido, estaria relacionada com sua produção.[100]
O documentário é dividido em 4 partes: na primeira parte é mostrada a relação entre a TV Globo e o período militar, em que se veem fatos sociais que ocorreram no país em decorrência do governo;
na segunda parte apresenta-se o acordo firmado entre a Globo e o grupo Time-Life;[100]
na terceira parte evidencia-se o poder do proprietário da emissora, Roberto Marinho. Mostra-se também o suposto apoio da mesma à saída dos militares do poder, na figura do candidato à presidência da República Tancredo Neves;[101]
na quarta parte, tida como a mais importante e reveladora do filme, mostram-se às claras “os envolvimentos ilegais e mecanismos manipulativos utilizados pelo o Grupo Globo em suas obscuras parcerias para com o poder em Brasília”. Contudo, o documentário não apresenta fontes primárias, apenas entrevistas.[99]
A Globo tentou comprar os direitos de exibição do filme.[100] Entretanto, antes de morrer, Hartog formou um acordo com organizações brasileiras para que os direitos de exibição do documentário não caíssem nas mãos da emissora, a fim de que este pudesse ser amplamente conhecido tanto por organizações políticas quanto culturais. O canal perdeu o interesse em comprar o filme quando os advogados da emissora descobriram tal acordo, mas até hoje uma decisão judicial proíbe a exibição de Beyond Citizen Kane no Brasil.[99] De acordo com a Folha de S. Paulo, na década de 1990, a direção da Record havia tentado comprar os direitos de exibição do documentário, mas “percebeu que haveria uma disputa judicial com a TV Globo a respeito das muitas imagens retiradas da programação deles. Então decidiu não comprá-lo”.[101] No entanto, em agosto de 2009, no auge de uma troca de acusações mútuas entre as emissoras, provocadas por acusações de lavagem de dinheiro da Igreja Universal do Reino de Deus, a Record comprou os direitos de transmissão do documentário por aproximadamente 20 mil dólares, e espera a autorização da justiça para transmiti-lo.[100]
Escândalo do Papa-Tudo
Consoante o Observatório da Imprensa, “prometiam que, além da recompra garantida, os futuros compradores ainda concorreriam a grandes prêmios milionários e parte da arrecadação ainda seria destinada a instituições de caridade. E numa colossal e obscena ‘pirâmide’, infestaram o Brasil inteiro com promessas milagrosas de enriquecimento fácil, sempre tendo à frente a exclusividade da Globo, a insuspeita Xuxa e a benemerência de instituições de caridade. Embalado pelos heróis da Globo e pelos ‘embaixadores’ da Unicef, o país inteiro comprou, muitas e muitas vezes, os bilhetinhos do ‘titio’ Artur Falk, veiculados pela TV Globo e apresentado pela irrepreensível Xuxa.”[102] Entretanto, chegou uma época em que a ECT e as lotéricas pararam de resgatar os bilhetes, pois não recebiam os prêmios do Papa-Tudo. O título anunciou que indenizaria os compradores, mas tal ato não ocorreu. Todo o escândalo culminou na prisão de Artur Falk sob a acusação de estelionato. Por outro lado, ninguém da emissora foi responsabilizado.[102][104]No início da década de 1990, com a finalidade de concorrer com a Tele Sena, pertencente a Silvio Santos e seu conglomerado,[103] a Globo lançou em parceria com a Interunion Capitalização, pertencente ao banqueiro Artur Falk, um título de capitalização intitulado Papa-Tudo, que tinha César Filho e Fausto Silva como apresentadores e Xuxa Meneghel como garota-propaganda.[104] A venda era semelhante à da concorrente supracitada: o título era adquirido em casas lotéricas e unidades da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, e, caso o comprador não fosse contemplado, poderia resgatar metade do valor pago após um ano ou comprar um novo título pela metade do preço.[102] Antes mesmo do lançamento, o jornalista Hélio Fernandes, da Tribuna da Imprensa, disse que “aquilo cheirava a um grande golpe e que não tinha uma chance em um milhão de dar certo um empreendimento entre Artur Falk e Roberto Marinho.”[102]
Consoante o Observatório da Imprensa, “prometiam que, além da recompra garantida, os futuros compradores ainda concorreriam a grandes prêmios milionários e parte da arrecadação ainda seria destinada a instituições de caridade. E numa colossal e obscena ‘pirâmide’, infestaram o Brasil inteiro com promessas milagrosas de enriquecimento fácil, sempre tendo à frente a exclusividade da Globo, a insuspeita Xuxa e a benemerência de instituições de caridade. Embalado pelos heróis da Globo e pelos ‘embaixadores’ da Unicef, o país inteiro comprou, muitas e muitas vezes, os bilhetinhos do ‘titio’ Artur Falk, veiculados pela TV Globo e apresentado pela irrepreensível Xuxa.”[102] Entretanto, chegou uma época em que a ECT e as lotéricas pararam de resgatar os bilhetes, pois não recebiam os prêmios do Papa-Tudo. O título anunciou que indenizaria os compradores, mas tal ato não ocorreu. Todo o escândalo culminou na prisão de Artur Falk sob a acusação de estelionato. Por outro lado, ninguém da emissora foi responsabilizado.[102][104]