É início de uma nova estação. Uma mansidão toma conta da minha alma neste clima tépido como um copo de café com leite numa noite fresca e calma, com o farfalhar das folhas das árvores na rua e os cães que latem na madrugada. É o silêncio de uma nova estação na vida. O recomeço menos sofrido, com menos sol.
A cidade vive sua época de festas juninas, e a beleza vai se apresentando pelos caminhos de cada homem. É a hora da mansidão: tranquilidade que nos humaniza, que nos faz mais gente, mais cidadãos, e o calor se esvai como mentira na qual um dia acreditamos.
Estamos todos felizes com esta época de mais um ano de nossas vidas: sem tensão, pressão e pressa, apenas mansidão. E Deus nos acalma com toda sua poesia indizível numa bela manhã de mudança de estações.
Nesse dia, somos todos poetas e videntes, pois vemos a fraternidade em sua forma pura nos apertos de mãos e abraços de nossos amigos e irmãos. Somos todos um, e a verdade está em nós. E em cada canto da existência o inefável, com toda a sua humanidade e amor, nos adentra a alma.
Assim segue o início do inverno, com esperança em meu coração, porque não tenho do que reclamar: a vida é boa e o frio também. Provavelmente lerei outra vez o livro do peregrino russo, e meu coração será tomado por mais amor pela beleza, isto é, filocalia.
E aqui deixo meu registro de esteta apaixonado pela arte da existência, pois sei quem sou, e isso me basta como se fosse um poema: uma pequena alegria, e a famosa interrogação hamletiana não é mais a questão, porque tudo é alegria, vida, paixão, poesia.
E todo o mistério se resolve em um olhar para o céu sem filosofia. Somente Deus em seu silêncio e o indizível em meu coração.