Nos últimos dias, as redes sociais foram palco de debates sobre supostos benefícios do jejum. Entre os pontos mais polêmicos, uma influenciadora digital afirmou que o regime seria indicado para melhorar a saúde em geral e que pode ajudar na cura de diversas doenças, inclusive o câncer.
No entanto, não é o que afirma a comunidade médica, que de maneira geral, refuta as afirmações em relação aos benefícios do jejum e outros tipos de dietas restritivas como forma de prevenção ou tratamento do câncer. De fato, a nutrição inadequada é classificada como a segunda causa de câncer que poderia ser prevenida, atrás apenas do tabagismo, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA): cerca de um terço de todos os cânceres humanos está relacionado ao tipo de alimentação.
Mas é preciso atentar para informações distorcidas sobre a realidade: manter uma dieta saudável nada tem a ver com deixar de consumir alimentos por longos períodos. Pelo contrário, isso só irá promover a perda de massa muscular e causar prejuízos ao sistema imunológico pela falta de vitaminas, fibras e outros nutrientes essenciais para a manutenção da boa saúde.
Segundo Daniel Gimenes, oncologista do CPO Oncoclínicas, a adoção de comportamentos protetores, como seguir uma alimentação saudável, fazer atividades físicas com regularidade, evitar bebidas alcoólicas e manter o peso adequado são capazes de evitar 28% de todos os casos de câncer, também de acordo com estimativas do INCA. “As estimativas apontam que 625 mil brasileiros devem receber o diagnóstico da doença em 2021 e ao menos 1,5 milhão de pessoas no país estão no grupo de pessoas que se encaixam dentro do que qualificamos como 5 anos de prevalência do câncer. E, além disso, o câncer já é a segunda principal causa de morte no planeta. Esses são dados importantes que reforçam a necessidade de educarmos a sociedade sobre hábitos de vida saudáveis, sem radicalismos, como medidas possíveis que podem fazer a diferença nessas estatísticas”, diz.
O médico lembra, contudo, que é essencial estar alerta para que informações distorcidas não sejam tratadas como verdades absolutas. “Existe uma grande diferença em deixar de ingerir alimentos por completo e ter uma dieta equilibrada. Uma alimentação rica em alimentos de origem vegetal como frutas, legumes, verduras e cereais, pode de fato prevenir novos casos de câncer. Já a ingestão de gorduras e processados, como enlatados, refrigerantes, bebidas prontas açucaradas e alimentos pré prontos feitos de forma industrializada geram como consequência o aumento da gordura corporal, fazendo com nosso organismo entre em curto-circuito e deixe inclusive de atentar para células malignas que deveriam ser eliminadas pelo nosso corpo, ampliando as chances delas se proliferarem”.
Vale lembrar ainda que as evidências científicas apresentadas na última década têm relacionado dietas baseadas no consumo de açúcar, gorduras saturadas e gorduras trans e alimentos ultraprocessados com o favorecimento dos índices de câncer de várias formas. A exemplo disso, as mais recentes análises do Fundo Global de Pesquisa sobre o Câncer (WCRF) e do Instituto Americano de Pesquisa para o Câncer (AICR) indicam que a ingestão de fast food e alimentos com alto teor de sódio e açúcar estão aumentando em todo o mundo, levando ao crescimento global de sobrepeso e obesidade e, consequentemente, a mais casos de câncer.
Alimentação regular e balanceada no enfrentamento ao câncer
Considerando a relação entre alimentação e aumento no risco de incidência de câncer, para aqueles que desejam investir em mudanças de hábitos que efetivamente favoreçam seu bem estar, o oncologista Daniel Gimenes, defende a prevalência do bom senso. “Comer uma vez ou outra uma batatinha de saco ou consumir um hot dog é totalmente aceitável e certamente não trará nenhum malefício ao bem estar físico. O que é preciso ressaltar é que esta não pode se tornar uma rotina de refeições desregradas. Recomendo sempre exercitar a reflexão sobre experimentar algumas substituições bastante possíveis, procurando incrementar a dieta com frutas e hortaliças frescas e orgânicas. Medidas simples podem mudar o cenário por completo e favorecer largamente o equilíbrio corporal”, frisa.
São algozes e podem favorecer o aparecimento de cânceres, assim como outras doenças crônicas, o consumo contínuo e excessivo de: sal; alimentos ultraprocessados; alimentos muito condimentados; temperos industrializados, que aumentam a incidência de câncer gástrico; excesso de carne e gordura animal; enlatados; carnes processadas/embutidas (salsicha, linguiça, presunto, peito de peru e blanquet de peru, bacon); nitritos e nitrato, presentes em alguns alimentos industrializados – substâncias que contribuem para conservar e realçar o sabor e estão relacionadas com maior incidência de câncer de próstata, pâncreas, cólon e reto.
E as dicas de alimentação balanceada são também valiosas para garantir melhores respostas aos tratamentos de quem recebeu o diagnóstico do câncer.
“Quem tem a doença deve ampliar o consumo de nutrientes para fortalecer a imunidade e ter o acompanhamento de um nutricionista especializado. Não é recomendado nenhum tipo de dieta restritiva, já que pode haver perda de músculo e água ao invés da perda de gordura, além de outros efeitos colaterais que não são bem-vindos, como falta de ânimo, falta de concentração, alteração no humor, letargia, alterações no sono, dores de cabeça e até prisão de ventre devido à retirada de alimentos que são fontes de fibra”, ensina Daniel Gimenes.
O recomendado é que o paciente dê prioridade para uma alimentação mais equilibrada sem restrição de nenhum nutriente específico, uma comida mais fresca, menos processada e não consumir em excesso os carboidratos que são considerados indesejados, como o açúcar presente em bebidas açucaradas, doces, do açúcar de adição ou açúcar branco de mesa.
“Vamos mudar um pouco a relação com a comida, evitando essas dietas da moda restritivas que acabam trazendo mais malefícios do que benefícios, seja para perda de peso, prevenção do câncer ou ainda durante o tratamento oncológico. Não existe uma receita mágica que nos transforme em seres com superpoderes, protegidos de toda e qualquer doença. Cada indivíduo tem suas características e necessidades específicas, por isso o ideal é sempre se consultar com um médico ou profissional de nutrição para que seja possível avaliar o seu caso e traçar um plano alimentar adequado para o seu perfil”, finaliza Daniel Gimenes.
O último relatório do Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer e do Instituto Americano de Pesquisa do Câncer destaca a importância de uma dieta saudável na prevenção do câncer de forma global. Veja as principais orientações do documento que é baseado nas evidências listadas pela Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos:
● Mantenha o peso adequado;
● Siga fisicamente ativo;
● Consuma uma dieta rica em vegetais (frutas, verduras, leguminosas, grãos integrais…);
● Limite o consumo de fast food e alimentos processados ricos em gordura, amido e açúcar;
● Modere na carne vermelha e processada;
● Reduza a ingestão de bebidas açucaradas;
● Diminua o consumo de bebida alcoólica;
● Para as mães: amamentem seus bebês;
● Não fume;
● Evite exposições solares em excesso.
Também para ajudar a população em geral e os pacientes oncológicos a adotarem hábitos de vida mais saudáveis, o Grupo Oncoclínicas disponibiliza um guia completo com dicas para uma dieta balanceada com muitas cores e sabores, ideias simples para a prática de atividades físicas e outras informações para vivermos mais e melhor. O material está disponível no: www.grupooncoclinicas.com/movimentopelavida