Sabe aquele mau hálito característico e permanente do seu pet que te faz até se esquivar? Não é algo que possa ser ignorado e simplesmente justificado “os animais são assim mesmo!” Ao contrário, a halitose exuberante é um sinal de que algo não vai bem e é preciso levar o animal ao veterinário para que o profissional investigue a(s) causa(s).
“No mínimo, o mau hálito é ocasionado pela proliferação bacteriana, que pode evoluir para a periodontite”, afirma a médica veterinária especialista em saúde oral, Dra. Clarisse Teixeira, do Hospital Veterinário Taquaral de Campinas.
Geralmente, explica a veterinária, a periodontite é uma etapa avançada que teve início pela gengivite, que é um processo inflamatório na gengiva. Ainda nesta primeira fase, a inflamação na cavidade oral pode ser reversível após a remoção e controle da placa bacteriana. “Porém, quando não tratada, pode progredir para a periodontite”, alerta.
Dra. Clarisse diz que a periodontite é marcada por lesões inflamatórias de caráter crônico e infeccioso. Segundo ela, é uma das afecções mais comum em cães e gatos. “Ela acomete mais de 80% dos animais adultos, podendo ocasionar complicações locais e sistêmicas”.
Há ainda outras causas para a periodontite, como por exemplo, a persistência de dentes decíduos (os de leite). De acordo com a Dra. Clarisse, em alguns animais a primeira dentição não cai e quando a permanente desponta a arcada fica sem espaço, provocando periodontite. Neste caso, a extração do dente de leite é recomendada.
O cálculo dentário, conhecido popularmente como tártaro, também pode levar à periodontite, avisa a veterinária. O tártaro consiste na placa dental acumulada, organizada e mineralizada sobre os dentes e é formado pela precipitação de minerais provenientes da saliva, especialmente o cálcio. A prevenção é feita com a escovação dentária associada a profilaxia bucal.
Uma das consequências da periodontite é a perda de dentes. Por conta do comprometimento e destruição do periodonto – composto por ligamento periodontal, cemento e osso alveolar -, a fixação dos dentes torna-se cada vez mais frágil. “É uma doença que não tem cura”, frisa.
Olhando além da boca
O olhar do veterinário especialista em saúde bucal vai além do exame clínico e deve ser precedido por anamnese completa e exame físico geral. “Precisamos saber se apresenta alguma comorbidade, perda de peso, vômitos, diarreia, entre outras anormalidades”, diz Dra. Clarisse. Com essas informações básicas em mãos, o doutor depois vai avaliar fatores como vícios de roer objetos duros, tipo de alimentação, frequência da higienização bucal, halitose, se tem dificuldade de apanhar o alimento, como se dá a mastigação, se há salivação excessiva e sangramento oral. “Para a avaliação da cavidade oral é necessário que o animal permita que se faça a manipulação. Testamos a oclusão, a gengiva, os dentes, língua e bochecha, amparados por boa fonte de iluminação e luvas descartáveis”, conta.
Quando é necessária uma examinação mais detalhada, deve-se anestesiar o animal e então usar sondas, exploradores e radiografias intraorais.
O especialista em cavidade oral também detecta com mais assertividade fraturas dentárias, que são as principais causas de lesões endodônticas. Normalmente ocasionadas por mordeduras de objetos duros, brigas, traumas automobilísticos e quedas, as fraturas expõem a polpa ou até mesmo a dentina, possibilitando a entrada de bactérias no sistema endodôntico. Quando isso acontece, é irreversível. O tratamento recomendado é a pulpectomia total ou bipulpectomia. Caso não surta resultado, a solução é a extração do elemento dentário.
Outro objeto da análise dos veterinários da cavidade oral é a existência de neoplasmas (tumores). “A ocorrência de tumores benignos ou malignos em carnívoros domésticos tem crescido em função do aumento da perspectiva de vida dos pets. Mas a evolução da medicina veterinária tem contribuído para diminuir a mortalidade. O diagnóstico precoce e o tratamento recomendado são de extrema importância para conter a evolução da doença ou conduzir à cura”, enfatiza a especialista.
Com a palavra, o tutor!
Mas não são só os especialistas em cavidade oral que podem detectar problemas nos pets. Os tutores também e a Dra. Clarisse dá algumas dicas. “Os responsáveis devem ficar atentos quando o animal apresentar alguma manifestação de dor ao se alimentar, mau hálito excessivo, sangramento em gengiva, salivação abundante, aumento de volume na face, perda de peso, comportamento agressivo, secreção nasal, espirros entre outros sinais. Qualquer alteração fora do normal, procure assistência do médico veterinário” indica.
E como a prevenção para diversos problemas orais nos pets é a higienização bucal, a Dra. Clarisse dá sugestões para se fazer em casa:
- Inicie o hábito da escovação manejando a boca de seu animal usando o dedo. Massageie a gengiva e, sempre após o procedimento, para promover o reforço positivo, ofereça um petisco ou carinho. Em algumas semanas, já poderá iniciar a escovação!
- Escove, pelo menos, 1x ao dia, fazendo movimento de ir e voltar em toda a boca;
- Não é necessário enxágue bucal após a escovação. A pasta dentária específica para pets é comestível;
- Tente escovar sempre no mesmo horário para criar um hábito;
- Prefira escovas de dentes especificas para pets ou de escovação macia, a qual deve ser trocada a cada 2 meses;
- Opte por escovas de cerdas e não de silicone;
- Use pastas enzimáticas, pois ajudam no controle do cálculo dentário (tártaro);
- Dose uma quantidade bem pequena de pasta na escova, isso evita engasgos;
- Aproveite o momento da escovação dentária para observar se há alteração na cavidade oral;