Se for eleger a palavra que mais ecoou no meu cérebro, nesse ano de 2018, foi “mobilidade”. Eleita no primeiro turno com mais de 80% dos votos. Sem querer escrever uma crônica metida a relatório técnico, vou contar um pouco das coisas que mexem com as cidades, em especial a tal “mobilidade”.
Já faz um tempão, mais de 30 anos, quando conheci o arquiteto Vanir Pinto, eu voltando a morar em Marília e ele chegando de Rio Preto. Numa conversa despretensiosa, provavelmente tomando uma cervejinha, meu novo amigo e colega, deu um “chute” urbanístico: Se eu fosse prefeito faria um calçadão na avenida Sampaio Vidal! Fiquei quieto. Eu não sabia – e nem ele – que estávamos falando sobre “mobilidade”.
Hoje, as mudanças urbanas não implicam em grandes obras, mas sim em mudanças de funções. A casa onde cresci à rua 24, hoje é um prédio comercial e os paralelepípedos foram cobertos pelo asfalto para melhor atender os carros. Me impressionava o movimento da rua São Luiz. Carros, ônibus, carroças, charretes, bicicletas e gente, muita gente, indo num “vai e vem”, pra lá e pra cá, nos dois sentidos.
Hoje está tudo mudado ou, quase tudo. Os ônibus mudaram de rua. Os carros aumentaram, e muito. As bicicletas e as pessoas continuam e as carroças e charretes desapareceram. Do “vai e vem” ficaram o “vai” ou o “vem”, separados – mão pra lá e mão pra cá!
A isso chamamos de “mobilidade” e, isso está mexendo com as cidades e com a cabeça dos urbanistas.
– “As ruas das cidades são locais onde as pessoas se encontram para trocar idéias, comprar, e vender, ou simplesmente relaxar e se divertir“
– “Uma cidade humana – com ruas, praças e parques cuidadosamente pensados – dá prazer aos visitantes e transeuntes, bem como àqueles que ali moram, trabalham e brincam diariamente”
– “As cidades não podem ser pensadas para os carros. Precisamos desenhar as nossas cidades para que o espaço do pedestre seja determinante e favorecido”
Tudo isso é “mobilidade” e quem disse foi o urbanista Jaime Lerner. Em Marília, a discussão sobre “Mobilidade” acontece e é necessária. É preciso um banho de “mobilidade” em nosso Centro Comercial livrando-o das mazelas urbanas causadas pela desorganização viária e pela paisagem urbana caótica e poluída.
Soma-se ainda as calçadas estreitas prejudicadas pelo excesso de postes, postinhos e outros elementos estranhos, complicando a circulação e segurança dos pedestres.
A discussão deve provocar propostas.
A minha está aí, a partir da conversa de 30 anos atrás com meu amigo Vanir Pinto. Um “Passeio do Centro”, acessível (piso tátil), seguro, arborizado, bem iluminado, mobiliado (bancos, mesinhas, lixeiras) implantados nos passeios existentes a serem alargados.
O caminho, do leste para o oeste, teria início no Monteiro Lobato – bondinho (13), passando por barzinhos, até a Pedro de Toledo onde temos o prédio do Thomaz Antonio Gonzaga (12) e seguindo até a Praça Maria Izabel (11) e Basílica São Bento (10). Sobe a 9 de Julho, passando pelo “camelódromo” (9) (que deve ser reformulado), cruza o Passeio da Avenida, cruza o passeio da São Luis, continua na 9 de Julho passando pelo mercadão até chegar à matriz Santo Antônio (5).
Do Norte para o Sul, o início seria na FATEC e Secretaria da Educação (1), seguindo pela Sampaio Vidal passando pelo Senai (2), Espaço Cultural (3) e Correio (4) até chegarmos à praça Saturnino Brito, Museu (6), Prefeitura (7) e igreja Nossa Senhora da Glória (8).
Todos monumentos arquitetônicos seriam valorizados por uma iluminação diferenciada. A avenida Sampaio Vidal passaria a ter mão única no sentido sul-norte, possibilitando o alargamento da calçada esquerda (face sombra), implantação de ciclovia, faixa de estacionamento, as mesmas duas faixas de rolamento e uma faixa exclusiva para ônibus.
Mais ainda, a nossa principal avenida seria arborizada, receberia nova iluminação com enfiação aérea e teríamos uma lei de incentivo às novas funções de usos, atrativos e compatíveis com o Passeio.
É isso!
Essa proposta faz parte do Plano Diretor de Turismo (é, nós temos um Plano Diretor de Turismo), apresentado e aprovado em audiência pública, necessário para o reconhecimento e promoção de Marília à Município de Interesse Turístico.
É ver para crer.
Laerte Rojo é arquiteto e urbanista. Contato: laerterojo@gmail.com