Agosto Dourado é o termo utilizado para chamar a atenção para a importância da amamentação. Mas, com a por que muitas mulheres simplesmente não conseguem amamentar seus bebês?
A Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, explica que muitas mulheres enfrentam o problema por medo da dor, despreparo ou até falta de apoio familiar. “Amamentar não é fácil. É demorado, pode machucar, se a pega do bebê for incorreta, acontece muitas vezes ao dia e, quando o bebê dorme, a mulher precisa de descanso. Se ela não tiver uma rede de apoio familiar, até se adaptar completamente, não conseguirá levar o processo adiante”, alerta.
E a adaptação da mãe e do filho também não é fácil. “Não é algo tão natural quando se pensa. O bebê não nasce sabendo mamar e a mãe também não consegue amamentar sem treino. Não podemos deduzir que será fácil para todo mundo. Por isso, existem profissionais que ensinam, acompanham, ajudam. E tudo bem, o importante é o resultado final”, garante a médica.
O leite materno continua sendo o melhor alimento do mundo. “É o único alimento completo, que não precisa de absolutamente nada para sustentar o bebê de até seis meses de vida – nem de água”, diz ela. E, como ele é repleto de anticorpos, fundamentais para a saúde e a resistência do bebê a doenças, é fundamental que a criança o receba, como única fonte de alimento, até essa idade.
Como existem muitas questões relacionadas à amamentação que precisam ser esclarecidas, Dra. Mariana responde as principais dúvidas que chegam até ela, em seu consultório ou até pelas redes sociais:
1) A mãe precisa ser suplementada para a amamentação?
Dra. Mariana Rosario – Sim! Durante a gestação, a mulher recebe uma série de suplementos alimentares para que seu corpo enfrente todo o período adequadamente o aporte necessário de nutrientes para o completo desenvolvimento do feto sem a depleção do organismo materno. Da mesma forma, durante o puerpério e após esses 45 dias, na amamentação, o obstetra faz o ajuste suplementar para que a mulher continue amamentando, dando ao seu organismo todas as condições necessárias para esse importante momento. Atualmente, é praticamente impossível que uma mulher amamente adequadamente sem estar suplementada, porque não conseguimos adquirir, apenas pela alimentação, todos os nutrientes necessários para uma boa saúde. Para produzir o leite, o organismo pode esgotar o corpo da mulher, de forma a deixá-la fraca. Mas, é possível observar que mesmo as mulheres subnutridas conseguem amamentar – o que é algo prejudicial à saúde delas, porque não são bem alimentadas e suplementadas.
Existe leite materno fraco?
Dra. Mariana Rosario – Esse é o maior mito que existe! O leite materno é o único alimento completo do mundo, capaz de ser a fonte exclusiva de nutrientes de um ser humano. Há duas situações que levam a esse entendimento errôneo. A primeira é que a produção do leite materno pode ser pouca para saciar a fome do bebê – e, então, a mãe acredite que seu leite seja pouco. A segunda é que o bebê não consiga mamar adequadamente e, por isso, chore de fome, já que não se alimentou corretamente.
2) Existem alimentos que ajudam a ‘aumentar o leite’?
Dra. Mariana Rosario – Há mulheres que ingerem grandes quantidades de leite de vaca e canjica, por exemplo, na expectativa de aumentarem o volume de leite. Isso também não tem qualquer comprovação científica. A mulher precisa alimentar-se bem, preferencialmente com a orientação de um nutricionista, para que seu organismo consiga produzir o leite. Também é preciso estar relaxada, porque o estresse impede a liberação do hormônio prolactina, responsável pela lactação.
3) O coronavírus é transmitido pelo leite materno?
Dra. Mariana Rosario – Não existe nenhuma evidência científica de que o coronavírus seja transmitido no leite materno. Portanto, mães que não estão infectadas com o coronavírus podem amamentar tranquilamente, sem restrições. E devem manter-se em casa, é sempre bom lembrar, porque estão com imunidade mais baixa, assim como seus bebês. Já as mães infectadas com o coronavírus, com ou sem sintomas devem isolar-se do bebê, deixando-o aos cuidados de outras pessoas. Elas podem fazer a ordenha (retirada do leite) para que ele seja servido à criança em mamadeira, pela pessoa que estiver cuidando do bebê. Caso sintam medo de contaminação, podem recorrer a um banco de leite humano, se desejarem, mantendo a alimentação da criança exclusivamente por leite humano.
A importância do aleitamento materno
Uma das maiores preocupações de Dra. Mariana Rosario, em seu consultório está relacionada à orientação sobre o preparo, durante toda a gestação, para que as gestantes adquiram a consciência da importância da amamentação exclusiva do bebê, até os seis meses de vida, e complementar, até os dois anos de idade. “A cada dia, percebo que as mães, principalmente as de alta renda, têm a tendência de desistir da amamentação com muita facilidade. Realmente, este pode não ser um processo fácil, porque há muitos bebês que demoram a pegar o peito, sendo um ato que demanda paciente e dedicação. Mas, a amamentação é tão importante que eu insisto para que as gestantes tentem o tempo que for necessário para que se crie esse vínculo entre mãe e filho e a amamentação aconteça”, diz a médica, que faz parte do corpo clínico do hospital Albert Einstein.
Existe muita informação disponível sobre os benefícios do aleitamento materno. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, entretanto, apenas 39% dos bebês brasileiros são amamentados com exclusividade até os cinco meses de vida.
Recentemente, uma pesquisa* divulgada no periódico The Lancet afirma que a amamentação está associada a uma redução de 13% na probabilidade de ocorrência do sobrepeso e/ou obesidade e também a uma queda de 35% na incidência do diabetes tipo 2. A mesma análise diz que o leite materno contribui para um aumento médio de três pontos no quociente de inteligência (QI). Outra evidência científica mostra que crianças amamentadas por um período superior a 12 meses em áreas urbanas do Brasil completaram um ano a mais de atividades educacionais em comparação com as amamentadas por menos de 12 meses. Ambas as conclusões indicam que o aleitamento contribui com o cumprimento do ODS 4 (Qualidade na educação). Esses e outros dados demonstram a importância do aleitamento na infância e os efeitos que esse ato gera ao longo da vida.
Vale sempre lembrar…
- Teoricamente, todas as mulheres produzem leite, desde a gestação. Após à saída da placenta, existe a saída do colostro, que dura de três a cinco dias e é um alimento fundamental para o bebê, porque traz anticorpos imprescindíveis para a proteção de seu organismo.
- Depois desse período, realmente vem o que popularmente é chamado de ‘descida do leite’: as mamas ficam bem cheias e é possível que exista dor e, em alguns casos, até febre. Não é um momento para estresse, porque apenas com calma e paciência é que a mãe conseguirá amamentar. O estresse, inclusive, pode prejudicar a produção do leite.
- É comum que, nos primeiros dias, os bebês não peguem o peito – e as mães se desesperem. Isso é comum, mas eles estarão no hospital, acompanhados pela equipe médica, e nada de ruim acontecerá. É o melhor momento para que se tente amamentar, acompanhada pela equipe de enfermagem e com todo o apoio. Em casa, também não se deve desistir, porque o recém-nascido tem instinto de sobrevivência e precisa se alimentar. É hora de tentar alimentá-lo, primeiro com a mama, seguindo para fórmula apenas depois de tentar a amamentação, e com orientação do pediatra.
- Dependendo do jeito que o bebê pega o peito, pode causar rachadura. Por isso, é fundamental seguir as orientações da equipe de enfermagem e do obstetra, que têm muita experiência e podem orientar a mãe. Também existem pomadas específicas para tratamento, que devem ser usadas apenas após o nascimento do bebê.
- Existem bicos de silicone e outros utensílios para ajudar as mães na amamentação. É o estímulo do sugar do bebê, entretanto, que fará com que o leite desça e que a produção seja contínua. Por isso, não se deve desistir – mas, também não se pode deixar a criança mamar quando o peito estiver machucado, porque a situação pode piorar. Por isso, quando houver qualquer problema, deve-se procurar pela orientação médica.
- Muitas mães ainda têm medo do efeito que a amamentação poderia causar, esteticamente falando, em suas mamas. Existe o mito de que a sucção da criança deixaria as mamas flácidas e caídas e uma pequena parcela delas opta pelas fórmulas para evitar esse efeito. Esse é um erro de interpretação: as mulheres que já têm as mamas flácidas realmente terão o problema acentuado. Porém, as que não as têm não sofrerão do problema.
- Algumas mulheres temem que, após a licença-maternidade, seja muito difícil para o bebê ficar sem o leite materno e ele sofra. Porém, é melhor ele ser amamentado pelo maior tempo possível, com exclusividade, do que não ter nenhum período disponível desse alimento, tão precioso. Então, analisando friamente, mesmo que a mulher não consiga seis meses de licença, é preferível amamentar o bebê com exclusividade por quatro meses do que em nenhum momento.
Antes do nascimento…
- Durante a gestação, também é possível preparar as mamas para a amamentação. Uma de minhas dicas é esfoliar, durante o banho, o bico do peito, com uma bucha vegetal comum, para que o bico vá se formando.
- Outra dica é tomar sol no peito, sem roupa, pela manhã, diariamente (até às 10h), para que a pele fique mais forte. O mamilo pode ser estimulado com a mão, para que vá se formando. Mas, antes do parto, nunca se deve usar pomadas emolientes.
- A mãe também deve, durante a gestação, preparar-se psicologicamente para a amamentação. Trata-se de um ato de amor e muitas mulheres relatam o bem-estar imenso que sentem ao amamentar, porque o vínculo que é criado entre a mãe e o bebê é ímpar, insubstituível. Portanto, se houver o preparo, sem medo, tudo dará certo.
É importante lembrar que a amamentação também faz bem para a mãe, porque o aleitamento permite que o útero volte ao tamanho normal rapidamente, previne a anemia materna, já que reduz o sangramento, e ainda previne o risco de câncer de mama e de ovário, além de ajudar na manutenção do peso corporal.
*Dados disponíveis em: https://nacoesunidas.org/no-rio-agencia-de-saude-da-onu-apoia-eventos-mundiais-sobre-aleitamento-materno/
Sobre a Dra. Mariana Rosario
Formada pela Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André (SP), em 2006, a Dra. Mariana Rosario possui os títulos de especialista em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia pela AMB – Associação Médica Brasileira, e estágio em Mastologia pelo IEO – Instituto Europeu de Oncologia, de Milão, Itália, um dos mais renomados do mundo. É membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e especialista em Longevidade pela ABMAE – Associação Brasileira de Medicina Antienvelhecimento. É médica cadastrada para trabalhar com implantes hormonais pela ELMECO, do professor Elcimar Coutinho, um dos maiores especialistas no assunto.
Possui vasta experiência em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia, tanto em Clínica Médica como em Cirurgia Oncoplástica. Realiza cursos e workshops de Saúde da Mulher, bem como trabalhos voluntários de preparação de gestantes, orientação de adolescentes e prevenção de DST´s. Participou de inúmeros trabalhos ligados à saúde feminina nas mais variadas fases da vida e atua ativamente em programas que visam ao aprimoramento científico. Atualiza-se por meio da participação em cursos, seminários e congressos nacionais e internacionais e produz conteúdo científico para produções acadêmicas. É médica cadastrada para trabalhar com implantes hormonais pela ELMECO, do professor Elcimar Coutinho, um dos maiores especialistas no assunto.