A medicina reprodutiva vem apresentando progressos significativos ao longo dos anos, entre eles uma melhora no processo de preservação da fertilidade. Com isso, cada vez mais mulheres passaram a optar pelo congelamento de óvulos no planejamento de uma gravidez futura. No entanto, uma pesquisa do projeto Gravidez na Minha Hora , da Ferring, biofarmacêutica líder em reprodução humana, aponta que há uma lacuna entre o desejo de realizar os procedimentos e a realização efetiva, causada em parte pela falta de informações. A estimativa é que a procura pela preservação da fertilidade tenha aumentado cerca de 40% entre 2018 e 2019, mas ainda restam dúvidas para bater o martelo.
Segundo o Prof. Dr. Dani Ejzenberg, médico especialista em reprodução assistida , o Brasil tem uma legislação abrangente e tecnologia de ponta, que contribuem com o cenário de alta procura. “Estamos em um país com uma legislação vigente bastante democrática e abrangente, que permite o tratamento a todas as pessoas interessadas. Podemos ter famílias em formatos diversos: de pessoas solteiras a casais homoafetivos. Contamos com o que há de mais moderno em tecnologia e notamos o aperfeiçoamento contínuo da medicina reprodutiva.”, diz.
O especialista, porém, aponta que o sentimento de desinformação pode fazer com que surja uma dissonância cognitiva, em que uma decisão já foi tomada, mas o primeiro passo ainda não foi dado. “A conscientização é muito importante para conferir segurança à paciente que deseja congelar óvulos, demonstrando que há amplo poder de escolha feminino e estimulando as mulheres a se apropriarem da autonomia que merecem ter.”
Confira, abaixo, explicações do Prof. Dr. Dani Ejzenberg para ajudar a sanar as principais questões e desvendar os mitos e verdades que ainda permeiam o universo da reprodução assistida:

  1. O processo de congelamento de óvulos é complexo.
    MITO. Hoje, o procedimento de congelamento de óvulos é bastante simples. Dura, em média, duas semanas a partir da data do início do período menstrual e envolve um período de 8 a 12 dias de estímulo à ovulação através de hormônios controlados pelo especialista em Reprodução Assistida. Depois, é feita a aspiração dos óvulos sob efeito de sedação. É totalmente indolor.
  2. A criopreservação precisa ser feita em faixa etária determinada.
    MITO. Não há uma idade limite para realizá-lo dentro do período reprodutivo, mas o indicado é que seja feito antes dos 35 anos. É possível postergar, porém nesta fase é possível obter os melhores resultados possíveis por conta da quantidade e da qualidade dos óvulos, que tendem a ser reduzidas com a evolução da idade. A taxa de sobrevivência média no descongelamento dos óvulos é de 70 a 80%, então, a quantidade de óvulos a serem congelados varia de acordo com a expectativa que a paciente tem para o futuro. “Reforço que estamos falando sobre uma possibilidade de gestação, e não uma garantia.”, enfatiza o médico.
  3. As mulheres devem começar a pensar no congelamento apenas depois dos 30 anos, quando tem um parceiro(a), relacionamento bem estabelecido.
    MITO. O congelamento de óvulos deve ser levado em consideração se a mulher pensa em postergar a maternidade para além do auge da fertilidade, que ocorre até os 34 anos, principalmente se não tem um parceiro que possa congelar seus embriões, procedimento que tem taxas de sucesso ainda maiores do que a criopreservação dos óvulos. Além disso, também é recomendado para casos em que há o desejo da reprodução independente e para casais homoafetivos femininos que querem engravidar no futuro. É um procedimento viável para formatos diversos de famílias!
  4. O óvulo pode ficar congelado por muito tempo sem perda de qualidade.
    MITO. Ainda não se sabe exatamente o limite de tempo em que os óvulos congelados permanecem viáveis. Hoje, a técnica com maior sucesso para a criopreservação é a de vitrificação, em que você os leva da temperatura ambiente até 196 oC negativos de forma muito rápida. A técnica é relativamente recente, tendo sido publicada em 2007, então ainda não há períodos tão longos de congelamento para a avaliação, como ocorre com os embriões. “Tivemos um caso recente de um embrião congelado por 27 anos que nasceu, ainda que já seja conhecida alguma perda da capacidade de implantação dos embriões após o terceiro ano de congelamento.”, conta.
  5. Para um casal infértil é preciso esperar três anos para se cogitar a realização da Fertilização In Vitro (FIV) e só pode ser feita quando constatada a infertilidade da mulher.
    MITO. Se a paciente tem menos de 35 anos, sem alterações de fertilidade previamente conhecidas e está tentando engravidar, o comum é que a maioria consiga dentro do período de um ano. Após o prazo, é importante ser avaliada por um especialista para entender se será preciso passar por qualquer tipo de tratamento. Entre 35 e 39 anos, o período de tentativas é de seis meses. Já acima de 40 anos, o indicado é tentar por apenas três meses antes da avaliação médica especializada.

A infertilidade é “democrática”. Em 40% dos casos é de causa masculina, em 40% de causa feminina e em 20% dos casos, tanto o homem quanto a mulher têm fatores que dificultam a gestação. Por isso, a avaliação é sempre feita no casal para checar qual o procedimento mais indicado.

Entre as causas femininas mais comuns, que podem influenciar na escolha pela FIV, estão a endometriose, alterações nas tubas uterinas decorrentes de processos infecciosos e a síndrome dos ovários policísticos.

  1. As chances de gravidez por FIV estão atreladas à idade da paciente.
    VERDADE. A chance de gravidez está bastante atrelada à idade da paciente. Em uma primeira tentativa, uma mulher com menos de 35 anos tem cerca de 50% de chance de engravidar. Já para uma paciente de 40 e 43 anos, o índice é reduzido para 26% e 4%, respectivamente devido à redução na qualidade dos óvulos. Porém quando se utilizam óvulos doados a chance atinge 50% independente da idade da paciente que irá receber os óvulos.
  2. A gravidez gemelar é comum.
    PARCIALMENTE VERDADE. Nas gestações sem tratamento, a chance de uma gravidez gemelar é de 1%. Nas Fertilizações In Vitro, se dois embriões forem transferidos, por exemplo, a possibilidade é de 10%. Entretanto, com o progresso da medicina reprodutiva e a melhoria nas taxas de sucesso, hoje em dia a tendência é de se transferir cada vez menos embriões, de forma a minimizar as chances de gravidez gemelar, considerada uma gestação de médio risco. Em muitos países europeus se transfere apenas 1 embrião por tentativa.
  3. O Covid-19 pode impactar na fertilidade.
    VERDADE. Ainda não existem dados conclusivos. Até então, não há comprovação de que o vírus afete o útero e os ovários. O que se sabe até o momento é que, dependendo da gravidade da doença, a função reprodutiva masculina pode ser prejudicada pelo Covid-19, já que pode atingir os testículos por ação direta. Aparentemente tem caráter temporário, podendo ter uma recuperação plena da qualidade do sêmen em um período de 3 a 6 meses após a doença.
  4. As infecções sexualmente transmissíveis( IST’s) têm algum tipo de relação com a fertilidade?
    VERDADE. A principal causa de infertilidade no Brasil é a alteração nas tubas uterinas ocasionada após uma IST. A Clamídia é a maior causadora deste problema, já que não apresenta sintomas em muitas mulheres. Se a mesma mulher for infectada três vezes, pode ter uma obstrução de até 50% das duas trompas. A Gonorréia também é popularmente reconhecida por impactar na fertilidade, mas como os sintomas são mais frequentes, o quadro pode ser controlado com maior rapidez o que reduz o risco de dano às tubas.
  5. Com diagnóstico precoce e tratamento, mulheres que tiveram sua fertilidade impactada por IST’s ainda podem engravidar.

VERDADE. O diagnóstico precoce, seguido de tratamento correto, pode diminuir os riscos futuros de infertilidade. Caso a tuba tenha sido afetada de forma irreversível, a FIV pode ser uma solução, já que a aspirção dos óvulos ocorre diretamente dos ovários e a transferência dos embriões ocorre diretamente para dentro do útero o que contorna os problemas das trompas. Os casos de infertilidade de causa tubária são os que possuem as maiores chances de gestação entre os casais inférteis.

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Os 10 maiores mitos e verdades sobre fertilidade e o universo da reprodução assistida
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